Pior dos mundos

Roberto Jefferson expõe duas mazelas de Bolsonaro: abuso de armas e tentativa de controle da Polícia Federal

Para assessor do Instituto Sou da Paz, episódio é mais um no quadro de crescente violência política, que a poucos dias da eleição intensifica o clima de medo e intolerância

reprodução/Redes Sociais
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O bolsonarista Roberto Jefferson e seu arsenal doméstico: Bolsonaro não pode lavar suas mãos

São Paulo – O episódio violento protagonizado pelo ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson (PTB), que no domingo (23) recebeu a tiros policiais federais que foram cumprir ordem de prisão, expõe duas mazelas do governo de Jair Bolsonaro: Além do caos promovido pela flexibilização da compra de armas pela população civil, o controle exercido sobre a Polícia Federal (PF). A avaliação é do advogado e assessor do Instituto Sou da Paz Felippe Angeli.

O especialista chama atenção para a gravidade do fato de Jefferson ter transformado sua casa, que é também um centro de cumprimento penal – já que o ex-presidente do PTB cumpria prisão domiciliar –, em um depósito de armas e munições à revelia do Exército e da Justiça.

“O Exército nunca sabe nada a respeito das armas, nunca tem as informações. Diz que suspendeu as licenças de Roberto Jafferson, então, essas armas não poderiam estar no Rio de Janeiro, onde ele estava comprindo pena em regime domiciliar. Se o Exército suspendeu os documentos, alguém foi lá buscar as armas? Essa residência é também local de cumprimento de pena. E se foram pegar, outro absurdo é que contrabandearam as armas pra lá. Todo mundo que está cumprindo pena está com arsenal em casa?”, questionou o assessor, em entrevista à RBA.

PF de Bolsonaro não explica

Para Angeli, há muitos aspectos que merecem atenção no episódio, além dos tiros, das granadas e do arsenal. O fato de Jefferson ter resistido à prisão por tantas horas, gravando a ação enquanto resistia. E também a movimentação das armas. “Um ex-candidato a presidente, um padre que não é padre, seu aliado, entrando na casa. Quem disse que ele não entrou com mais armas e até retirou coisas dali de dentro, podendo descaracterizar a cena de um crime? Sem contar o risco à vida”, observou.

Como é de praxe, a Polícia Federal divulga imagens com armas, drogas ou outros produtos apreendidos em suas operações. Mas no episódio envolvendo Jefferson e suas armas, isso não ocorreu. A reportagem questionou a Superintendência da PF no Rio de Janeiro sobre o arsenal na casa do bolsonarista. No entanto, foi informada de que não haveria manifestação a respeito.

Essa falta de transparência em uma operação envolvendo o aliado de primeira hora do presidente Bolsonaro, para o advogado do Sou da Paz, se junta ao “amadorismo” da ação do comando da PF no episódio. “A PF deveria ter isolado o local, a cena do crime. As pessoas entraram na residência do apenado e, no fim, ninguém sabe com quem ficaram as armas”, disse o assessor, lembrando que havia bolsonaristas do lado de fora da casa. Entre eles, Daniel Silveira, condenado por ações contra o STF, pelas quais recebeu perdão do presidente. O ex-deputado, também do PTB, queria participar das negociações.

Interferência na PF sem precedentes

Angeli levanta a hipótese, porém, de que esse amadorismo da PF tenha outro nome. “Uma interferência política de cima, sem precedentes, em absoluto desrespeito à Justiça e à polícia. Afinal, trata-se de uma pessoa que há anos fala que vai ‘atirar no STF’, razão pela qual está preso. E está cheio de armas? Uma irresponsabilidade completa”.

O assessor do Sou da Paz lembrou que a politização e o aparelhamento da PF pelo governo chegou a ser denunciado pelo ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, quando deixou o governo. “Em reunião de abril de 2020, Bolsonaro disse que queria todo mundo armado. Em outra, admitiu interferência na PF para proteger amigos e familiares. O enredo tá todo aí. Só não vê quem não quer”, disse.

Para o advogado, o episódio violento é mais um no quadro de crescente violência política, que intensifica o clima de medo e intolerância a seis dias do segundo turno. “Isso é muito ruim. O pior dos mundos. Estão constrangendo as pessoas diante de um de seus direitos mais fundamentais, que é também um dever no Brasil. Isso se soma ao clima de insegurança provocada pelo governo Bolsonaro. Não dá pra dissociar Roberto Jefferson desse campo mais próximo do bolsonarismo. Não é um senhor que surtou ontem, mas um senhor que está cumprindo pena há mais de ano. Por que ele tem ainda algum tipo de crédito, quando deveria ter sido esquecido 20 anos atrás?”, questionou.

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