Última mentira?

Bolsonaro não soube lidar com episódio do aliado Roberto Jefferson, diz analista de redes digitais

Presidente tentou se desvincular do ex-deputado que atirou contra policiais federais, mas suas tentativas só reforçaram sua ligação com Jefferson

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais
"Não tem uma foto dele comigo", disse Jair Bolsonaro, pouco antes de imagens reunindo os dois inundarem as redes

São Paulo – A postura de Jair Bolsonaro e aliados diante do episódio desencadeado por Roberto Jefferson ilustra o impacto negativo causado pelo aliado em sua campanha. “Uma das características do bolsonarismo nas redes é ‘parecer maior do que é’ a partir da produção de conexões. A ausência desse poder no atentado do aliado de Bolsonaro, Roberto Jefferson, reforça a hipótese de que o bolsonarismo (40%) não está sabendo lidar com o episódio”, observou o analista de rede Pedro Barciela no Twitter.

A primeira reação de Bolsonaro – já com a crise consolidada, no início da tarde – foi dizer que repudiava a ação do aliado. Mas, ao mesmo tempo em que tentou manifestar “repúdio” a Jefferson, verbalizou no mesmo post sua campanha contra os tribunais superiores para agradar seus seguidores mais fiéis. “Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP “, escreveu. O resultado é claramente contraditório.

O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, observou a contradição. “É até difícil de acreditar que Roberto Jefferson tenha atirado em policiais que foram prendê-lo – e que o presidente, ao criticar sua atitude, tenha colocado no mesmo plano ele e os ministros do Supremo que ele ofendeu gravemente”. Um dia antes, Jefferson havia se dirigido à ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia com expressões impublicáveis e abjetas.

“Não tem uma foto dele comigo”

De acordo com Barciela, os aliados do candidato à reeleição reagiram “cada um utilizando uma abordagem: “rifam Jefferson, defendem Jefferson, ignoram Jefferson, atacam o TSE”. O próprio Bolsonaro tentou negar o inegável. “Não tem uma foto dele comigo”, disse. Porém, imagens com os dois passaram a circular fartamente. A afirmação soou como uma mentira grosseria que não resistiu “a um Google”, como disse Barciela.

A participação do ministro da Justiça, Anderson Torres, nas negociações para a rendição de Jefferson e a presença do falso “padre” Kelmon na cena só confirmaram o vínculo com Jefferson. Diante do óbvio desgaste que aumentou durante o dia, Bolsonaro voltou às redes sociais com um post em que classificou o aliado de “criminoso”.

Em vídeo, disse que o ex-deputado teve “tratamento” de “bandido” após atirar em agentes da Polícia Federal. “Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido”, garantiu.

Lula capitaliza

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, capitalizou o desgaste do adversário. Já na noite do domingo, o QG lulista começou a distribuir um vídeo nas redes fazendo a exortação “chega de violência, chega de Bolsonaro”, para entrar como inserção na TV.

Em análise distribuída por WhasApp no grupo O Bastidor da Política”, o cientista político Alberto Carlos Almeida manteve a avaliação de que o episódio Roberto Jefferson não irá mudar a eleição, já que o quadro está solidificado e vem assim desde o início da corrida sucessória.

Bolsonaro e Lula são duas figuras muito conhecidas e o voto “já está muito sedimentado” desde antes do primeiro turno, disse. “Ainda assim as pessoas não levam isso em consideração e se deixam levar por pensamentos mágico”, avalia o analista, referindo-se à crença ou temor de que um episódio como o da “bolinha de papel” na eleição de 2010 possa mudar o cenário.