Bombado na boca de urna

Farsa de Bolsonaro: em vez de ‘triplicado’, Auxílio Brasil ficou congelado por três anos

Ex-ministra Tereza Campello desmente o candidato à reeleição. “Bolsonaro poderia ter corrigido benefício em 2019 e 2020, mas não fez. Esperou a eleição”. Corroído pela inflação, R$ 600 atuais equivalem a R$ 491,72 e é insuficiente para comprar uma cesta básica

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
O candidato à reeleição tem como vitrine um programa sem orçamento e cujo valor não é suficiente para compra de alimentos básicos em um país mergulhado na carestia e na fome

São Paulo – O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tem afirmado que seu governo triplicou o valor do antigo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, e que beneficiaria um número maior de famílias. No entanto, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo de Dilma Rousseff (2011-2016) Tereza Campello o desmente na ponta do lápis. A economista refez a série de cálculos corrigindo os valores pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e afirma que o que o atual presidente multiplicou foi o valor que ele próprio congelou.

Segundo a economista e pesquisadora, que usou sua conta no Twitter para demonstrar a farsa, Bolsonaro congelou o extinto Bolsa Família durante três anos. E então dobrou o valor congelado justamente em ano eleitoral. “Mas, continuou atrás nas pesquisas. Desesperado, triplicou o valor a dois meses da eleição. O triplo é só boca de urna!”, explicou.

A ex-ministra destacou que Bolsonaro poderia ter corrigido o valor do benefício em 2019 e 2020 de maneira simples, por decreto. Mas não o fez. E segundo ela, o atual candidato à reeleição adotou uma medida que mostrou nenhuma preocupação com as famílias mais pobres. “De forma cruel, em janeiro de 2021, auge da pandemia, cortou o Auxílio Emergencial de 60 milhões de famílias. Uma canetada. Quem ficou no Bolsa Família recebeu os valores congelados”.

A verdade, conforme demonstrou, é que além do congelamento do valor dos benefícios houve um desmonte do programa. Isso porque, segundo ela, Bolsonaro “não tem compromisso com o enfrentamento estrutural da pobreza e da fome”.

“Veja: ele triplicou, na boca da urna, o valor que ele mesmo achatou durante todo seu governo”.


“Auxílio Brasil é improviso bombado a dois meses da eleição”

Conforme comparou a ex-ministra, o Bolsa Família foi uma política pública continuada, com estabilidade e segurança. Já o Auxílio Brasil é “um improviso bombado a dois meses da eleição”. E ela ainda alerta para a descontinuidade do valor para o próximo ano, ao contrário do que Bolsonaro tem afirmado em debates e na propaganda eleitoral.

“Bolsonaro nem colocou os valores no orçamento de 2023. Esta é a maior prova de que não vai manter os R$ 600”

Outro diferencial entre ambos os programas é que o Bolsa Família estava articulado às políticas de valorização e aumento do salário mínimo, das aposentadorias e pensões e do emprego formal. “Auxílio Brasil é aliado do salário mínimo e aposentadorias congeladas e o fim dos direitos trabalhistas”, destacou.

Ela lembrou também que enquanto o Bolsa Família estava atrelado à garantia de acompanhamento médico de crianças e gestantes, filhos na escola, com refeição de qualidade, o Auxílio Brasil está desconectado de ações de saúde e educação. Sem contar o congelamento da merenda. “Com Bolsonaro comem biscoito seco e chegam em casa com fome”.

A candidatura Lula se comprometeu com a garantia do pagamento do benefício no valor de R$ 600 e R$ 150 a mais para as crianças até 6 anos. Isso nos moldes do antigo Bolsa Família, com acompanhamento em saúde e educação, acesso à alimentação de qualidade, valorização do salário mínimo e oportunidades para as famílias superarem a pobreza.

Outra questão envolvendo o valor do Auxílio Brasil propalado por Bolsonaro é o seu poder de compra. Os R$ 600 pagos pelo candidato à reeleição, que em julho já equivalia a R$ 491,72, insuficientes para comprar uma cesta básica em qualquer uma das 17 capitais onde o Dieese faz pesquisa do seu valor. Em São Paulo, o conjunto dos alimentos básicos custa R$ 749,78, no Rio de Janeiro, R$ 717,82 e Salvador, R$ 576,93.

Em um cenário de grave crise econômica, inflação, desemprego e carestia, a situação é ainda muito mais difícil para as famílias que necessitam de um conjunto de políticas. E não apenas de uma.

Confira comparação de Tereza Campello sobre ambos os programas

Redação: Cida de Oliveira


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