Aparelhada por Bolsonaro

PF quer novo depoimento de Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro, na reta final das eleições

Em meio a denúncias de que ala bolsonarista da Polícia Federal quer forjar operações contra Lula e aliados, delegado que assumiu inquérito sobre facada pediu novas diligências e acesso ao laudo psiquiátrico de Adélio a duas semanas do 2º turno

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Rodrigo Morais Fernandes já havia, no entanto, concluído por duas vezes que Adélio agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra Bolsonaro

São Paulo – Às vésperas das eleições presidenciais, a Polícia Federal pediu à Justiça para interrogar novamente Adélio Bispo de Oliveira, apontado como o autor da facada contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral em 2018. De acordo com o delegado Martín Bottaro Purper, atual encarregado pelo inquérito, o objetivo da nova apuração é identificar eventuais mandantes ou financiadores do atentado. 

O pedido de diligência, no entanto, ocorre em meio à denúncias de que setores da PF, aparelhados por Bolsonaro, estariam buscando forjar fatos para justificar operações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus aliados a poucos dias do segundo turno do pleito. Líder nas pesquisas, Lula disputará o segundo turno, no próximo dia 30, contra o atual mandatário. 

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo, divulgada nesta terça-feira (18) também mostra que Purper assumiu o inquérito no início deste ano. Mas apenas no dia 21 de setembro, duas semanas antes do primeiro turno das eleições, o delegado pediu à Justiça Federal em Mato Grosso do Sul acesso ao laudo de avaliação do estado de saúde mental de Adélio, produzido em julho por dois peritos. O intuito, segundo ele, é saber detalhes das condições atuais de saúde de Adélio antes de efetivar um novo interrogatório. 

Pressão bolsonarista

O delegado anterior responsável pelo caso, Rodrigo Morais Fernandes já havia, no entanto, concluído por duas vezes que Adélio agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra Bolsonaro. Fernandes saiu, porém, sendo alvo de críticas do presidente e seus aliados. Em dezembro do ano passado, ele acabou sendo designado pela direção da polícia para missão de dois anos numa força-tarefa em Nova York, nos Estados Unidos. 

Purper então assumiu a frente da investigação sob a pressão do atual governo para aderir à tese de que a facada teria sido orquestrada. Ainda em novembro de 2021, o advogada da família Bolsonaro, Frederick Wassef, pediu que o caso fosse reaberto. A defesa ainda requisitou que os dados bancários e o conteúdo do celular do advogado Zanone Oliveira Júnior, que atuou na defesa de Adélio, fossem vasculhados. O que foi acatado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). 

O clã argumenta que as informações podem revelar quem custeou os honorários advocatícios, apesar da prática ser considerada uma violação ao sigilo da categoria. 

MPF pediu arquivamento

Mas, já em junho de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento do inquérito policial que apurava o possível envolvimento de terceiros no crime. De acordo com a Procuradoria, Adélio concebeu, planejou e executou sozinho o crime. O MPF destaca que ele já estava em Juiz Fora quando o ato de campanha do então candidato à presidência foi programado. E que, portanto, o autor da facada não se deslocou até a cidade para cometer o crime. 

Os procuradores ainda ressaltam que Adélio não mantinha relações pessoas com nenhuma pessoa da cidade. Tampouco efetuou ou recebeu ligações telefônicas ou trocas de mensagens com possível interessado no atentado. Apesar das provas, o caso é constantemente explorado por Bolsonaro que se valeu do episódio para vencer as eleições em 2018. Ao que tudo indica, a ideia de reviver o caso, com novo depoimento de Adélio, teria como objetivo criminalizar o PT no pleito deste ano, em que o atual presidente corre risco de ser o primeiro mandatário não reeleito da história do Brasil. 

Oportunismo de Bolsonaro

Ontem (17), bolsonaristas movimentaram as redes sociais com um falso atentando contra o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos). O ex-ministro do governo Bolsonaro cumpria agenda de campanha em Paraisópolis, comunidade na zona sul da capital paulista, quando um tiroteio teve início na região.

Imediatamente, as campanhas de Tarcísio e Bolsonaro passaram a alardear que se tratava de atentado. Mais tarde, ainda sem provas, os candidatos passaram a falar em um ataque contra a comitiva do candidato. O que foi parar no programa eleitoral televisivo do presidente, apesar do próprio secretário de Segurança Pública de São Paulo, o general João Camilo Pires de Campos, afirmar não acreditar em um atentado. De acordo com chefe da pasta, embora “nenhuma hipótese esteja afastada”, os dados preliminares não indicaram nenhum impacto ou vestígio de disparo em direção ao polo universitário, onde estava Tarcísio.  

Adversário do candidato na disputa, o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT) destacou preocupação com a narrativa bolsonarista durante sua participação no programa Roda Vida, da TV Cultura

“O uso que o bolsonarismo está fazendo é oportunista. O fato de já levar para a TV, mudar na Wikipédia o currículo do Tarcísio e torná-lo uma vítima de um atentado político, acho que revela uma pressa que realmente causa uma certa apreensão. Quer dizer, mais uma vez vai se fazer esse tipo de coisa para reverter as tendências eleitorais, tentar nacional o problema. Eu vejo com muita preocupação. Inclusive porque esse tipo de coisa põe em risco a vida do Tarcísio e a minha”, advertiu Haddad. 


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