Apreensão internacional

Com Bolsonaro, ‘além de isolado, Brasil está esquecido do mundo’, diz Raí

Em live direto de Paris, onde estuda numa das principais instituições de ensino superior da Europa, o ídolo do São Paulo e tetracampeão mundial expôs a Fernando Haddad a apreensão do mundo em relação às eleições brasileiras

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Nascido em Ribeirão Preto, no interior paulista, Raí também declarou apoio a Haddad para governador e disse acreditar que, com a vitória de Lula, as relações internacionais serão retomadas

São Paulo – Depois de chamar a atenção do mundo para o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, ao divulgar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a premiação do Bola de Ouro, em Paris, nesta semana, o ex-jogador de futebol Raí voltou ao tema, alertando para a apreensão internacional diante da possibilidade de reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Em live nesta quinta-feira (20) com o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT), que disputa a corrida pelo governo de São Paulo, Raí destacou que o Brasil “não está só isolado, mas esquecido” por parte da comunidade internacional.

De acordo com o ídolo do São Paulo e tetracampeão do mundo pela seleção brasileira, por causa do governo Bolsonaro “as pessoas falam que, por enquanto, (é preciso) deixar o Brasil em stand by, que não somos um país que dá para levar a sério na diplomacia e relações internacionais”, observou o futebolista. 

“Almocei agora há pouco com um grande empresário francês, que investe muito no Brasil. E ele disse ‘foi uma ordem do Macron, dos ministérios, para segurar as relações (com o Brasil)’. E em outros países eu vejo relatos com frequência de que o Brasil é deixado de lado. (…) Acho que vai ser um dos grandes avanços, com Lula vencendo, com certeza imediatamente as relações internacionais serão retomadas”, afirma Raí, também ex-atleta do Paris Saint-Germain.

Raí, que atualmente vive em Paris, onde cursa mestrado em Políticas Públicas na Science Po, uma das principais instituições de ensino superior da Europa, lembra que até hoje, os franceses se lembram do episódio em que Bolsonaro fez piada nas redes sociais sobre Brigitte Macron, mulher do presidente do país, Emmanuel Macron. “(Isso) quebrou qualquer relação com a França”, prosseguiu.

No primeiro turno das eleições, Lula terminou em vantagem sobre o candidato à reeleição na maioria dos países do continente europeu, com destaque para a França, onde recebeu 77,5% dos votos válidos.

Intolerância como política bolsonarista

O ex-jogador acredita que o candidato da coligação Brasil da Esperança repetirá no segundo turno a vitória obtida junto aos brasileiros que vivem no exterior nas votações de 2 de outubro. De acordo com Raí, são eleitores que percebem “maneira mais clara todo o prejuízo e retrocesso que o país está tendo, principalmente em relações internacionais, que hoje é vital. A globalização faz com que o Brasil isolado seja uma perda gigantesca para todo o nosso povo”, advertiu. 

Haddad ainda acrescentou que, em território nacional, Bolsonaro vem utilizando os meios públicos e as redes sociais para “elevar a intolerância religiosa à política de Estado”. Por sua vez, Fernando Haddad citou que o presidente vem “transformando cultos em comícios”. “O que está acontecendo é uma quantidade enorme de padres sendo agredidos em redes sociais, contestados nas missas quando falam de combate à fome”, denunciou. “Estamos virando uma república fundamentalista. Está cada vez mais grave”, completou.

Na continuação da conversa, o ex-futebolista disse perceber que essa estratégia de Bolsonaro é uma das explicações que aponta para explicar no exterior porque o bolsonarismo cativa uma grande parcela de seguidores. “Quando ele estimula isso (intolerância religiosa) acaba criando um conflito que racha a sociedade cristã. E, ao rachar, ele acaba arrastando outros 10% a 15% que acabam tumultuando a sociedade brasileira. É uma covardia”, rebateu. 

Os planos de Guedes pós 2º turno

Ao atualizar Raí sobre o cenário político do país, Haddad também comentou a pretensão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de a partir de 2023 congelar o salário mínimo e as aposentadorias para manter o chamado “teto de gastos”, que limita investimentos sociais por um período de 20 anos. O plano seria apresentado apenas após o segundo turno, em caso de vitória de Bolsonaro. Mas foi antecipado pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta.

Haddad resumiu a ideia de Guedes: “tirar dos pobres para dar aos mais pobres”, uma vez que entre as justificativas dadas pelo ministro estaria também manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 – não previsto pelo governo Bolsonaro no Orçamento da União do próximo ano. “Hoje, o que está acontecendo é que estão espoliando quem recebe o Auxílio Brasil pelo crédito consignado. Eles antecipam o auxílio cobrando um juro estratosférico. E querem agora tirar do pobre para dar ao mais pobre um dinheiro que, pelo crédito consignado, vai parar na mão do banqueiro”, explicou o ex-prefeito.

Apoio de Raí a Haddad

Raí comentou que a política econômica de Guedes “vai na mesma linha da confusão e da intolerância que o Bolsonaro acaba criando. Isso é perverso para a sociedade”, acrescentou. “Quando vou a São Paulo, vejo as pessoas nas ruas, nas praças, passando fome. É inadmissível. Estamos correndo perigo”, analisou o ex-atleta, que também declarou apoio a candidatura de Haddad para governador. 

Raí lamentou as propostas do candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), adversário do petista na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Ele criticou principalmente os planos do bolsonarista para a segurança pública do estado. Entre eles, a ideia de trazer o modelo de segurança pública do Rio de Janeiro para São Paulo, como a extinção da secretaria no estado. 

À frente de projetos sociais no Brasil desde os tempos em que ainda era jogador profissional, ele relata que percorreu diversas comunidades fluminenses oprimidas por milicianos, “a base do bolsonarismo”. “Deixar que isso chegue a São Paulo é uma ameaça. O Rio virou um caos em segurança pública. Não podemos nem pensar em trazer (essa política) para São Paulo, até porque o próprio interior vai acabar sofrendo”, finalizou Raí.

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