Câmara municipal

Movimentos denunciam perseguição da extrema direita ao padre Júlio

“O padre Júlio, como todos nós aqui, é discípulo de um caluniado: Jesus Cristo”, disse o padre Naves, da Pastoral da Moradia. “Não passarão”, ressaltou a vereadora Luna Zarattini

Priscila Ramos/MST
Priscila Ramos/MST
"Esse ato é só uma pitadinha. Ai de vocês quererem atacar o nosso padre", disse a deputada Juliana Cardoso

São Paulo – Movimentos sociais, párocos e parlamentares progressistas se reuniram na noite de ontem (12) para denunciar a perseguição ao padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua em São Paulo. Eles criticaram a extrema direita por mirar no religioso, estimulando o discurso de ódio, com o objetivo mobilizar suas bases nas eleições municipais deste ano. E também condenaram o prefeito Ricardo Nunes (MDB) pela falta de políticas públicas para a população carente.

“Infelizmente a extrema direita, no nosso país, e também aqui na Câmara, não está querendo resolver os problemas da cidade de São Paulo, mas sim tumultuar”, afirmou a vereadora Luna Zarattini (PT). “Esse ato é de solidariedade, não só ao padre Júlio, mas a todos aqueles que fazem a luta em nossa cidade. Aqui é um início, para a gente dizer que não passarão.” 

O coordenador da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo virou alvo de pedido de CPI capitaneado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), ligado ao MBL. Anteriormente, o pretexto era investigar organizações não governamentais (ONGs) que realizam ações sociais no centro da capital. Agora mudou seu escopo para a investigar supostas violações contra a dignidade humana, sobretudo crimes sexuais, assédio e abusos contra pessoas em situação de rua.

Ele tem sido vítima de uma campanha difamatória com base em um vídeo de um suposto abuso sexual cometido contra um menor. O material não tem autenticidade comprovada. O religioso alega que o vídeo foi editado e classifica as acusações como “completamente falsas e inverídicas”.

Em defesa dos pobres

“Não é o padre Júlio quem está sendo acusado, mas sim toda a Igreja que defende os pobres. Atacar o padre Júlio Lancellotti é atacar os movimentos populares”, afirmou Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

O padre Antônio Naves, da Pastoral da Moradia, disse que conhece o padre Júlio há décadas. E citou que tanto ele como o colega são produto do Concílio Vaticano II, quando o papa Leão XXIII orientou para todos os sacerdotes, leigos e leigas para que abram suas igrejas, janelas e portas. “O padre Júlio, como todos nós aqui, é discípulo de um caluniado: Jesus Cristo”, disse o religioso. Ele citou o apóstolo Lucas, que disse que Jesus veio trazer a visão àqueles que não enxergam. “Grande parte da população está cega ainda, seguindo a extrema direita”. 

Representando a paróquia de São Miguel Arcanjo, à qual pertence padre Júlio, o padre Tarcísio Marques Mesquita diz que os integrantes da sua comunidade, na zona leste de São Paulo, estão preocupados com a saúde do religioso. “Nós enquanto comunidade não aceitamos essa situação, que é injusta e hipócrita”, pontuou.

Priscila Ramos/MST

Apoio incondicional 

A vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do Psol, declarou apoio incondicional ao padre Júlio, em nome de todos os presentes. Para ela, o religioso faz aquilo que Jesus pediu a todos, em referência ao trabalho de acolhimento aos mais necessitados. “Se tem alguém com fome, está lá o padre Júlio para estender um prato de comida. Se tem alguém passando frio na calçada, morrendo congelado, está lá o padre Júlio levando cobertor e lutando por um abrigo para esta pessoa”.

Para ela, estão atacando o evangelho de Jesus ao perseguirem o padre Júlio. “Estão querendo se eleger com discurso de ódio, nós já vimos esse filme antes. E contra o ódio, só tem um remédio. É o amor.”

Do mesmo modo, a deputada federal Juliana Cardoso (PT) afirmou que o padre Júlio executa o evangelho na prática, acolhendo aqueles que mais precisam. E relacionou o trabalho assistencial dele à falta de políticas públicas. Além disso, ela criticou o prefeito Ricardo Nunes por não utilizar sua influência junto aos vereadores para barrar a perseguição. “Esse ato é só uma pitadinha. Ai de vocês, ai de você, Rubinho Nunes, quererem atacar o nosso padre, que é corajoso, que está sempre com a população. A gente não aguenta mais esse tipo de bandidos, de cretinos, de corruptos.”

Prioridades 

O coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, citou o padre Júlio como símbolo da Igreja que dom Paulo Evaristo Arns defendia. E criticou o presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), por estimular a denúncia.

“Por que não uma CPI para apurar os crimes e a corrupção da especulação imobiliária? Está é uma CPI que a Câmara tem que abrir, e não contra o Padre Júlio. Porque não uma CPI para apurar por que uma das cidades mais ricas do mundo tem mais de 50 mil morando nas ruas? Por que não uma CPI para apurar os 232 contratos emergenciais arranjados da prefeitura?”, questionou.