anti-reforma agrária

Na primeira audiência, CPI do MST mostra a que veio: ‘Show de horrores e de ódio’, diz líder do movimento

Sessão de ontem deveria se limitar à votação do plano de trabalho do relator, deputado Ricardo Salles, mas foi marcada por insultos e acusações contra o movimento sem-terra por parte de deputados da oposição

Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
"A vontade de cada um que vai lá é fazer um discurso mais radicalizado para produzir um vídeo para sua base para tentar criminalizar o MST", critica João Paulo Rodrigues

São Paulo – Para João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a primeira audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tem como o objeto o MST, “foi de encontro” à denúncia de que os parlamentares da oposição ao governo Lula estão querendo “criminalizar” os movimentos pela terra e a reforma agrária. Realizada ontem (23), a sessão foi marcada por bate-boca, troca de acusações e insultos ao movimento.

“Um show de horrores e de ódio”, na avaliação de João Paulo, em entrevista, nesta quarta (24), ao programa ICL Notícias, transmitido pela TVT. “A vontade de cada um que vai lá é fazer um discurso mais radicalizado para produzir um vídeo para sua base para tentar criminalizar o MST”, destaca.

Logo no início, o relator da comissão, o deputado federal e ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) tentou alterar o título da comissão para “investigação de invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos”. A manobra foi alvo de críticas e protestos da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP), que conseguiu com que a CPI voltasse ao escopo original, determinado pelos parlamentares.

Relator e integrantes investigados

“Ele simplesmente distorceu, deliberadamente, sem nenhum pudor, aquilo que foi a leitura, abertura e intuito real dessa CPI. Já falamos isso, a intuição dessa CPI é criar uma distração sobre os reais crimes que estão sendo cometidos nesse país”, discursou Sâmia. A parlamentar ainda foi silenciada durante a audiência pelo deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS). Integrante da comissão, Zucco cortou o microfone da psolista após ela citar investigação contra ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento nos ataques à democracia.

O republicano, porém, não é o único investigado que está no comando da CPI do MST. Como lembrou a deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ), o relator da comissão é alvo de apuração da Polícia Federal sobre um esquema de extorsão de madeira ilegal enquanto era ministro do Meio Ambiente, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“O objetivo dessa Casa é criminalizar esse movimento. O governo Bolsonaro acabou com as políticas públicas, seja de acesso à terra, cresceu mais de 70% a violência no campo, tem a ver com grilagem, com madeireiros, com garimpo ilegal. Aliás, com crimes em que tem envolvimento do próprio relator, hoje investigado pela Polícia Federal. Não é injúria tratar de fato e o fato é que o relator dessa comissão é acusado de fraudar mapas, tem relação com o garimpo ilegal na época que era ministro do meio ambiente”, confrontou Talíria.

Quinta CPI contra o MST

Salles não respondeu a parlamentar, mas alegou que entraria com uma representação contra ela. Talíria, contudo, rebateu que “contra fatos não há argumento”. A avaliação de Rodrigues, é que a CPI do MST será usada pela oposição para “fazer barganhas no Congresso e com o governo”. De acordo com o coordenador nacional, a comissão tem à frente o chamado “agronegócio militar” e investigados pelos atos antidemocráticos que vão buscar com a CPI “acordo para se livrar das acusações”. Esse é o caso, destaca, do tenente coronel Zucco.

Deputados próximos do MST também observam que a CPI segue sem ser baseada em nenhum fato determinado. Diante disso, Rodrigues promete que o movimento utilizará o espaço para denunciar a violência no campo e o modelo do agronegócio.

“O MST vai enfrentar essa CPI de cabeça erguida, com a mesma firmeza que enfrentamos as demais, porque nosso objetivo é utilizar a CPI para questionar por que mataram 57 sem-terra no ano passado, por que o Brasil continua sendo o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, por que nos últimos anos foram grilados e colocado fogo em quase 100 milhões de hectares de terra, por que ainda existem 5 milhões de sem-terra no Brasil. Esse é o debate que queremos fazer na CPI”, destaca João Paulo Rodrigues.

Com informações do Brasil de Fato

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