Vassalo

Moro no debate atesta sua própria parcialidade. ‘Lava Jato era uma trama para eleger o genocida’

Parlamentares apontam como simbólica a presença de Sergio Moro no primeiro debate presidencial neste segundo turno, onde atuou como assessor de Bolsonaro. Participação do futuro senador é criticada até por apoiador da Lava Jato. ‘Prova que o alvo sempre foi Lula’

Reprodução
Reprodução
Moro e Bolsonaro estavam rompidos desde 2020, quando o então ministro da Justiça pediu demissão acusando o presidente de tentar interferir na PF

São Paulo – A presença do senador eleito Sergio Moro (União-PR) no primeiro debate presidencial deste segundo turno, exibido nesse domingo (16) na Band, vem sendo alvo de críticas de internautas e parlamentares do campo progressista. O ex-juiz e ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL) assumiu o lugar que seria do assessor especial da Presidência da República, Vicente Santini, para aconselhar o candidato à reeleição nos intervalos do embate contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Santini acabou do lado de fora, enquanto Moro pôde acessar a área restrita aos principais auxiliares de cada um dos candidatos. No estúdio, o futuro senador acompanhava o debate ainda ao lado dos ministros das Comunicações, Fábio Faria (PSD), e da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP). Assim como do coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, e de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos).

A participação do ex-juiz da operação Lava Jato como assessor de Bolsonaro, no entanto, chamou atenção do advogado e deputado federal José Guimarães (PT-CE) como a cena “mais simbólica do debate”. 

Trama da Lava Jato

Moro e Bolsonaro estavam rompidos desde 2020, quando o então ministro da Justiça pediu demissão acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Há cerca de dois meses, no entanto, após desistir de concorrer pela presidência da República e iniciar campanha por uma vaga no Senado pelo Paraná, Moro buscou se reaproximar da imagem de Bolsonaro para atrair votos. Eleito no último dia 2, o ex-juiz da operação Lava Jato manifestou apoio ao atual mandatário e vem sendo considerado desde então uma peça-chave para atrair o voto de bolsonaristas arrependidos. 

Na avaliação de Guimarães, a reaproximação dos dois deixa “claro que a Lava Jato de Moro era uma trama para eleger o Genocida. A ultra direita sustentada pelo fascismo toda unida”, apontou o parlamentar. 

Moro foi responsável pelo julgamento dos processos contra Lula no âmbito da operação que levou à prisão o ex-presidente, em 2017, o impedido de concorrer nas eleições de 2018, em que era favorito contra Bolsonaro. No mesmo ano, ele deixou de ser juiz federal para ocupar o cargo de ministro no governo eleito. Em 2021, no entanto, Moro foi considerado juiz parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso que condenou Lula. Como também julgou o Comitê de Direitos Humanos da ONU, em abril, ao apontar que a intenção de incriminar do ex-juiz e reconhecer que o ex-presidente teve seus direitos políticos violados há quatro anos. 

Apoiador critica Moro

A decisão foi referendada por 18 peritos do órgão que destacaram a contribuição de Moro em abrir caminho para a vitória de Bolsonaro. O conluio também foi lembrado durante o debate pelo ex-governador Flávio Dino (PSB), eleitor senador pelo Maranhão. “Bolsonaro e Sergio Moro juntos na tela. Isso mostra, mais uma vez, que a ‘lava jato’ não tinha juiz. E sim um político de extrema-direita disfarçado com a toga. E que o ‘combate à corrupção’ foi apropriado para projetos eleitorais”, contestou. 

O comportamento do futuro senador foi rejeitado inclusive pelo comentarista da GloboNews Merval Pereira, apoiador da Lava Jato. De acordo com o jornalista, “a presença de Moro como assessor de Bolsonaro no debate só mostra uma coisa: o alvo dele sempre foi o Lula. E que ele depois de ter falado tudo isso do Bolsonaro, voltar a apoiar o Bolsonaro para derrotar o Lula é um atestado de que ele desde o início estava com esse objetivo”, afirmou Merval concordando com a análise de “corrupção seletiva” e Moro, afirmada pela jornalista Andreia Sadi. 

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) também destacou que a aliança entre os dois “acaba com toda e qualquer dúvida sobre quem é e sempre foi essa nefasta criatura (Moro). Um corrupto bandido. Sem a Lava Jato jamais o Brasil estaria nessa situação”, disparou. 

Um estudo conduzido pelo Dieese a pedido da CUT, divulgado no ano passado, mostrou que a operação Lava Jato provocou o fechamento de 4,4 milhões de empregos e fez o país perder R$ 172 bilhões em investimentos desde o início da operação, em 2014. 

Confira outras repercussões