8 de janeiro

Mensagens mostram que Ibaneis ignorou alertas de Rodrigo Pacheco, Flávio Dino e Rosa Weber sobre atos golpistas

Investigações confirmam avaliação de Alexandre de Moraes de que governador “ignorou todos os apelos das autoridades” por um plano de segurança adequado

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
“Coloquei todas as forças de segurança nas ruas”, disse Ibaneis a Rosa Weber com a situação já catastrófica

São Paulo – Mensagens extraídas do celular do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) mostram que ele ignorou alertas de que Brasília estava sob ameaça de atos de terrorismo, que se confirmaram no domingo de 8 de janeiro. As reproduções das conversas contrariam versão de setores da mídia que desde ontem (9) vêm divulgando que o governador não teria sido conivente ou omisso, ante a movimentação dos golpistas.

Por volta das 20 horas do sábado (7 de janeiro), o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), enviou claro alerta ao governador. “Estimado governador, boa noite! Polícia do Senado está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso? Abraço fraterno. Rodrigo”, escreveu o senador. Ibaneis respondeu quatro minutos depois: “Já estamos mobilizados. Não teremos problemas. Coloquei todas as forças nas ruas.”

(Reprodução)

Depois, ainda naquela noite, o ministro da Justiça, Flávio Dino, fez outro alerta ao governador do DF e, à 0h28, enviou uma mensagem em que anexa informação do portal Metrópoles. Nela, o próprio Ibaneis é citado e afirma que a manifestação seria liberada, se pacífica. “Governador, não entendi bem qual será a sua orientação para a Polícia do DF. Onde será o ponto de bloqueio e de que forma?”, questionou Dino. A mensagem do ministro não foi respondida.

Ibaneis: “Situação tranquila”

Apenas no dia 8, antes dos atos terroristas, e citando o secretário de Segurança em exercício, Fernando de Souza Oliveira, Ibaneis responde a Flávio Dino dizendo: “Situação tranquila, no momento”. O secretário titular, Anderson Torres, tinha abandonado seu posto no sábado, para viajar “de férias” para Orlando, na Florida, mesma cidade para a qual o ex-presidente Jair Bolsonaro “se mudou” no dia 30 de dezembro.

Na mensagem do secretário em exercício Oliveira, encaminhada por Ibaneis a Dino, a informação era de que o “público oriundo das caravanas” girava “em torno de 2.500 pessoas” e também “verificou-se chegada de mantimentos (alimentos, água, material de higiene) e instalação de diversas barracas de camping e lona”.

(Reprodução)

Com a situação já catastrófica, a invasão consumada, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, enviou mensagens angustiadas a Ibaneis Rocha. “Já entraram no Congresso!”, escreveu a chefe do Poder Judiciário brasileiro. O governador, hoje afastado, respondeu: “Coloquei todas as forças de segurança nas ruas”.

O presidente em exercício do Senado no dia do ataque, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), tentou sem sucesso falar com Ibaneis, que não atendeu. O governador encaminhou a Flávio Dino, às 14h31 (mais ou menos o horário em que a invasão começava), uma mensagem de áudio do secretário em exercício.

Nela, ouvia-se: “Informe do meio-dia. Até agora nossa inteligência está monitorando e não há nenhum informe de questão de agressividade ligada a esse tipo de comportamento. Então esse é o último informe para o senhor. Tem aproximadamente 150 ônibus já no DF, mas todo mundo de forma ordeira e pacífica”.

Ibaneis pede ao STF retorno ao cargo

Ibaneis foi afastado do cargo por 90 dias após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é investigado por suposta omissão na segurança do DF no dia dos ataques, quando vândalos depredaram as sedes dos três poderes da República.

No despacho em que afastou Ibaneis do governo distrital no dia 9 de janeiro, Alexandre de Moraes aponta que o governador “ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança semelhante aos realizados nos últimos dois anos em 7 de setembro, em especial, com a proibição de ingresso na esplanada dos Ministérios pelos criminosos terroristas”

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Ontem, logo depois que as informações do celular foram divulgadas, a defesa de Ibaneis Rocha pediu ao STF seu “imediato retorno” ao cargo. Os advogados usam como o argumento que o ministro Alexandre de Moraes mandou soltar o ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Fábio Augusto Vieira, dizendo que o relatório da intervenção federal de Ricardo Cappelli indicou que o PM não foi “diretamente responsável”.

“Ora, se para quem está diretamente na chefia da tropa esta lhe falta, com maior razão de ser não se pode dizer que o governador, que está mais distante da tropa, se omitiu no comando desta”, alega a defesa de Ibaneis.

Com informações da GloboNews

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