Unanimidade

Lula diz que ‘todo mundo está contra esse absurdo da taxa de juros’

Campos Neto, presidente do BC, não entende “absolutamente nada de país”, nem “sofrimento do povo”, disse Lula. “A quem que esse cidadão está servindo nesse momento?”

Reprodução/Youtube
Reprodução/Youtube
Lula sempre defendeu o fim da guerra. Por isso, sofre críticas de setores ligados ao sionismo e ao grande capital

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a se indignar com as altas taxas de juros no Brasil. Em entrevista à Rádio Gaucha nesta quinta-feira (29), Lula afirmou que, com a taxa Selic a 13,75% ao ano, ninguém consegue captar dinheiro para investir. Nesse sentido, disse que todos os setores da economia – à exceção do setor financeiro – estão contra o que chamou de “absurdo”.

“Não tem um setor da economia, a não ser o setor financeiro, seja as grandes empresas, pequenas e, médias empresas, pequenos varejistas, grandes varejistas, ou seja, todo mundo contra esse absurdo dessa taxa de juros, que ninguém pode captar dinheiro para investir a 14%, 15%, 16% de juros. As pessoas vão quebrar”, afirmou Lula.

Nesse sentido, fez duras críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos. E voltou a cobrar o Senado, que tem a atribuição de fiscalizar a política monetária. “Agora você tem um cidadão que me parece que não entende absolutamente nada de país, não entende nada de povo, não tem sentimento com o sofrimento do povo, sabe. E mantém essa taxa de juros para atender os interesses de quem? A quem que esse cidadão está servindo nesse momento?”, questionou Lula.

Ainda sobre os juros, Lula disse que é preciso ter crédito para o Brasil crescer. “O dinheiro tem que circular para a economia crescer. Você não pode dizer que é um país capitalista sem capital, com capital circulando na mão de meia dúzia de pessoas. O dinheiro tem que funcionar e girar na mão de muitos milhões de brasileiros para que a economia possa crescer. É isso que esse cidadão do Banco Central tem que entender.”

Juros e meta de inflação

De olho na reunião de hoje do Conselho Monetário Nacional – composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet e o presidente do BC – Lula disse que não vai interferir. Ainda assim, o presidente afirmou que o Brasil não precisa de uma meta de inflação “tão rígidas” – hoje fixada em 3%.

“O que eu penso agora como cidadão brasileiro, é que o Brasil não precisa ter uma meta de infração tão rígida, sabe, como estão querendo impor agora, sem alcançar. A gente tem que ter uma meta que a gente alcance”. Ele disse ainda que a meta de inflação não precisa ser “fixa e eterna”, mas sensível à realidade da economia e às aspirações da sociedade.

Obras

Durante a entrevista, Lula também afirmou que pretende transformar o país num “grande canteiro de obras” outra vez. Ele disse que o governo está acertando os últimos detalhes para o lançamento do programa de infraestrutura – chamado provisoriamente de PAC 3. Só para este ano, ele disse que os investimentos em obras devem chegar a R$ 23 bilhões, superando os R$ 21 bilhões investidos pelo governo Bolsonaro nos últimos quatro anos. No Rio Grande do Sul, serão destinados R$ 5, 7 bilhões do orçamento público para a construção de estradas e pontes, com mais R$ 2 bilhões de recursos oriundos da iniciativa privada.

Além disso, o presidente também prometeu lançar em breve um “grande leilão” de energia limpa – eólica, solar e hidrogênio verde. “Se tem alguém preocupado com o planeta, somos nós. Se tem alguém preocupado com a questão climática, somos nós”.

Investimentos no exterior

Ao final, Lula afirmou que defendeu os investimentos do BNDES em obras no exterior. “Do dinheiro que o Brasil colocou fora, o equivalente a R$ 10 bilhões, já recebemos R$ 12 bilhões. Esses dias li uma grande matéria no jornal Valor mostrando que o Brasil já recebeu R$ 12 bilhões, 2 bilhões de lucro. É assim que se faz no mundo inteiro, só o Brasil é que não pode fazer porque alguém critica?”.

Disse que a Venezuela, por exemplo, não pagou pelos recursos investidos no país porque o governo anterior “fechou as portas” para o vizinho. Mas disse que já “acertou” o pagamento com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Sobre as críticas ao governo venezuelano, Lula sugeriu à oposição que se organize para participar das eleições que devem ocorrer esse ano.

“O  que fez o mundo tentando eleger o Guaidó presidente da Venezuela, o cidadão que não tinha sido eleito… Se a moda pega, não tem mais garantia na democracia e não tem mais garantia no mandato das pessoas. Quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições”.

Ele ainda comparou com o Brasil, onde um “sabidinho” não quis aceitar o resultado eleitoral. “Nós não tivemos aqui um cidadãozinho aqui que quis dar golpe dia 8 de janeiro? Tem gente que não quer aceitar o resultado eleitoral. Nem todo mundo é como Lula, que perdeu e aceitou o resultado”.