Processo parcimonioso

Cresce pressão política sobre Campos Neto, que insiste em manter Selic em 13,75%

Nesta terça, Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou quatro pedidos – da esquerda à direita – para que presidente do BC esclareça os critérios adotados para manter os juros altos

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Campos Neto foi convidado por senadores, e não convocado, o que lhe dá o direito de não comparecer. Mas ele deve ir

São Paulo – A pressão sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e sua taxa de juros altos, aumenta a cada dia. A insistência nos “critérios técnicos” para a manutenção da taxa básica, a Selic, na semana passada, aumentou consideravelmente o coro dos descontentes. Diversos setores da economia e políticos inclusive. A manutenção dos juros em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) provoca reação de diferentes lideranças no Congresso Nacional.

Prova disso é que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça-feira (27) quatro requerimentos. Todos para que Campos Neto preste esclarecimentos sobre a política monetária e os critérios para manter a Selic no atual patamar. A constatação é de que todos os indicadores econômicos apontam um cenário propício para diminuir a dose do “remédio”.

Os requerimentos são de autoria dos senadores Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Ciro Nogueira (PP-PI), Rogério Marinho (PL-RN) e Plínio Valério (PSDB-AM). Juntos, representam forças políticas até opostas no espectro político. Na segunda-feira (26) Randolfe defendeu a convocação, mas ontem concordou em transformála em convite. Como convidado, Campos Neto tem o direito de não comparecer. Mas ele deve ir, já que a recusa só aumentaria as hostilidades contra ele.

Pelo mesmo motivo, o líder da Rede na Câmara, Túlio Gadelha (PE), protocolou nesta quarta (28) uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU). Ele pede investigação das ações do presidente do BC.

“Processo parcimonioso de inflexão”

Na ata divulgada ontem, o Copom explica, em sua linguagem rebuscada, que “a continuação do processo desinflacionário em curso” permite “iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião (em agosto)”.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, declarou ontem que, se ainda fosse senadora, também aprovaria a convocação de Campos Neto. “Me despindo por dois minutos da minha função de ministra e voltando ao momento em que fui senadora, eu num caso desses convocaria, sim, o presidente do Banco Central”, afirmou.

Também ontem, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, criticou a manutenção da taxa básica de juros durante a cerimônia de lançamento do Plano Safra. “Temos que saber qual é a responsabilidade dele (Campos Neto) com o Brasil”, disse.

“Qual sentido?”

“Uma das metas do BC é trabalhar o controle da inflação, e isso está indo muito bem. A política econômica (está) dando sinais cada vez mais fortes de que o controle da inflação é permanente. Qual sentido se faz em ter taxas de juros básicas a 13,75%?”, questionou Fávaro.

Até a poderosa e conservadora Confederação Nacional da Indústria (CNI), na semana passada, se pronunciou após a última reunião do Copom. Chamou a insistência do BC com juros altos de “equivocada”. “Esperamos que, com a continuidade do movimento de desaceleração da inflação, o Copom inicie já na próxima reunião o tão necessário processo de redução da Selic”, afirmou o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, em nota.

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