Ao lado de Maduro

Lula defende Venezuela nos Brics e integração latino-americana

Presidente do Brasil disse que “sonha” que os Brics possam criar a sua própria moeda, de modo a contornar a hegemonia do dólar

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Maduro disse que o bloco dos Brics é “o grande ímã dos que querem um mundo diferente”

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “momento histórico”, nesta segunda-feira (29), a reunião com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. O líder venezuelano não visitava o Brasil desde 2015, quando esteve na posse do segundo mandato de Dilma Rousseff. Durante o governo Bolsonaro, as relações com os venezuelanos foram cortadas.

Lula afirmou que a Venezuela é vítima de preconceito e prometeu trabalhar pela “integração plena” entre os dois países. Nesse sentido, o presidente brasileiro também defendeu a integração entre todos os países da América Latina.

“Esse momento é importante por muitas razões, mas uma delas é porque a América do Sul tem que se convencer que temos que trabalhar como se fosse um bloco. Não dá para ninguém imaginar que, sozinho, um país da América do Sul vai resolver seus problemas que perduram mais de 500 anos”, completou Lula.

Nesta terça-feira (30), Lula será o anfitrião de um encontro que vai contar com a participação de todos os chefes de Estado da América do Sul, à exceção da presidenta do Peru, Dina Baluarte, que enfrenta uma grave crise interna no seu país.

“Se a gente estiver junto, nós temos 450 milhões de pessoas, a gente tem um PIB de quase US$ 4,5 trilhões. A gente tem força no processo de negociação e é por isso que esse momento é importante”, completou.

Brics

Em entrevista coletiva após o encontro, Lula se disse a favor da entrada da Venezuela nos Brics – bloco que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. “Se perguntar a minha vontade, eu sou favorável”, disse o brasileiro. Lula ressaltou, no entanto, que a inclusão depende de um pedido formal da Venezuela e de uma deliberação do bloco em reunião de cúpula. Além disso, há uma extensa lista de países que já manifestaram interesse também fazerem parte dos Brics. Argentina, Arábia Saudita, Egito, Irã, Indonésia e Emirados Árabes Unidos (EAU) são alguns exemplos.

Maduro, por sua vez, disse que o seu país aspira participar dos Brics “de forma modesta”. Ele definiu o bloco que reúne as principais economias em desenvolvimento é “o grande ímã dos que querem um mundo diferente”. “Junto aos Brics, vemos, no âmbito geopolítico, elementos que podem nos fazer avançar. A união de cinco países muito poderosos”.

Dólar e bloqueio

Lula disse ainda que “sonha” que os Brics possam criar a sua própria moeda, de modo a contornar a hegemonia do dólar no comércio internacional. As desconfianças dos países em relação à moeda norte-americana aumentaram após a série de sanções impostas contra a Rússia em reação à guerra na Ucrânia.

“Por exemplo, o Maduro não tem dólar para pagar suas exportações , quem sabe ele começa a pagar em yuan. Quem sabe a gente possa receber em outra moeda”, disse Lula. “A culpa é dele? Não. A culpa é dos Estados Unidos, que fez um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho o bloqueio pior que uma guerra. Na guerra morre o soldado que está em batalha, no bloqueio mata crianças, mulheres, pessoas que não têm nada a ver pela disputa ideológica”, acrescentou.

Maduro também ressaltou os impactos do bloqueio econômico dos Estados Unidos contra o seu país. “A Venezuela passou de uma receita anual de 56 bilhões de dólares em petróleo a uma entrada de 700 milhões de dólares por ano. E resistimos com coragem, de pé e sempre com um sorriso no rosto, pois nunca perdemos a esperança.”

Guaidó “impostor”

Lula afirmou que o país vizinho também é “vítima de uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo”, e que o preconceito permanece. “O preconceito continua, ainda. O preconceito contra a Venezuela é muito grande. Quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela. Havia discursos e mais discursos, os adversários diziam ‘Se o Lula ganhar as eleições, o Brasil vai virar uma Venezuela, uma Argentina, uma Cuba’, quando o nosso sonho era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor”, disse Lula.

Além disso, Lula classificou Juan Guaidó – líder da oposição venezuelana e que chegou a se autoproclamar presidente do país – como um “impostor”. “Eu fiquei sabendo que a Venezuela tinha um reserva de ouro em Londres, e que essa reserva de ouro foi colocada sob a guarda de Guaidó. Um impostor como presidente da República, porque não aceitaram o presidente eleito”, discursou Lula.

Ao final, Maduro afirmou esperar “que nunca mais fechem as portas entre Brasil e Venezuela” e que os países estejam “unidos para sempre”.