Ilegal

Influenciador bolsonarista, Cariani vira réu por tráfico de drogas

Cariani e mais quatro são acusados de emitir notas falsas de venda de produtos farmacêuticos que eram desviados para a produção de cocaína e crack

Divulgação
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Cariani deve entregar o passaporte e está proibido de sair do país

São Paulo – A Justiça de São Paulo acatou a denúncia do Ministério Público de São Paulo e tornou réu o influenciador fitness bolsonarista Renato Cariani. Ele e mais quatro pessoas vão responder pelos pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.

De acordo com as investigações da Polícia Federal (PF), Cariani usava a empresa química Anidrol para falsificar notas fiscais de vendas de produtos para outras indústrias farmacêuticas, e desviava os insumos (como acetona, éter etílico e acetato de etila) para a fabricação de cocaína e crack. No final do mês passado, a PF indiciou o grupo.

Os produtos abasteciam uma rede criminosa de tráfico internacional comandada por facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Os sócios de Cariani não apenas tinham conhecimento, como participavam diretamente do esquema criminoso.

As investigações começaram após a Receita Federal detectar depósito em dinheiro, no valor de R$ 212 mil, aparentemente feitos pela AstraZeneca. A empresa, no entanto, negou a compra, bem como qualquer ligação com a empresa do influenciador.

Heisenberg com músculos

Em dezembro, a PF, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), realizaram uma operação conjunta que teve como alvo o influenciador. A chamada “Operação Hinsberg” fazia alusão ao codinome do personagem Walter White, da série Breaking Bad. Ele passou a produzir drogas para enriquecer a família após descobrir um câncer.

Durante as investigações, o Ministério Público identificou 60 transações financeiras que totalizavam cerca de 12 toneladas de produtos químicos enviadas para o tráfico. Segundo a denúncia, Cariani e os demais réus teriam dissimulado “valores provenientes dos crimes de tráfico de drogas acima noticiados, por meio de depósitos em espécie realizados por interpostas pessoas, convertendo em ativo lícito o montante aproximado de R$ 2.407.216,00”.

A juíza Maria Vendeiro, da 3ª Vara Criminal de Diadema, dá prazo de dez dias para que os réus apresentem as defesas. Também ficou estabelecido que os réus deverão entregar os passaportes no prazo de 24 horas e que estão proibidos de sair do país.

Bolsonarismo

Em agosto de 2022, a dois meses das eleições, Cariani recebeu o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu podcast no YouTube, o IronCast. O médico e influenciador Paulo Muzy foi o coapresentador da entrevista, que soma quase 5 milhões de visualizações no Youtube. Juntos, Cariani e Muzy têm cerca de 15 milhões de seguidores no Instagram.

Bolsonaro falou sobre seu “histórico de atleta“, enalteceu seu governo por zerar o imposto de importação de suplementos alimentares, como concentrados de proteína – conhecidos como whey protein – e destacou decreto assinado por ele, e derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que garantia a reabertura de academias no período de isolamento durante a pandemia de covid-19.

Cariani exibiu fotos dele em competições do Exército nos anos 1980 e ressaltou a importância da atividade física, principalmente na época da pandemia. O influenciador revelou ainda que perdeu 30 mil seguidores ao anunciar a entrevista com Bolsonaro. Ainda assim, declarou voto no então presidente, que acabou derrotado nas eleições.