Furada

Aliados de Bolsonaro desistem ou ignoram ato na Paulista

Apenas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Marcos Pontes (PL-SP) atenderam a convocação de Bolsonaro até o momento

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Maioria dos governadores apoiados por Bolsonaro silenciou sobre presença em ato

São Paulo – Acuado com o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou seus apoiadores a participarem de um ato na Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo dia 25. Porém, entre as lideranças políticas do bolsonarismo, apenas três confirmaram participação na manifestação até agora. O levantamento é da Folha de S. Paulo.

Um dos apoiadores que confirmou a presença é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “É uma manifestação pacífica a favor do (ex-)presidente, e estarei ao lado dele, como sempre estive”, afirmou o governador em entrevista à CNN Brasil nesta quarta-feira (14).

Outro que atendeu à convocação é o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro. Ele disse que levará “toda sua família” para, segundo ele, mostrar apoio ao ex-presidente “junto de milhares de brasileiros”. O senador Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro da Ciência e Tecnologia, também confirmou presença, através da sua assessoria.

Dos governadores bolsonaristas, dois já declinaram: Jorginho Mello (PL-SC) e Antonio Denarium (PP-RR). Outros nove silenciaram sobre a convocatória, dentre eles, Cláudio Castro (PL-RJ), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR).

Ex-vice de Bolsonaro, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) também não se pronunciou, assim como o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que esteve ao lado de Bolsonaro na reta final das eleições de 2022. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a vestir a camisa de Bolsonaro durante a disputa, também parece querer evitar problemas.

Bolsonaro disse que pretende “se defender” das acusações que pesam contra ele. Pediu para que seus apoiadores não levem cartazes e faixas “contra quem quer que seja”. Isso porque qualquer excesso ou deslize durante as manifestações pode complicar ainda mais o seu futuro, e precipitar novas reprimendas do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nunes em cima do muro

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também não respondeu ao levantamento. A pessoas próximas, teria dito que a tendência hoje é a de participar do ato convocado por Bolsonaro, ainda que não tenha batido o martelo.

Lideranças do PL cobram a participação do prefeito, em troca do apoio do partido na disputa pela reeleição. Por outro lado, aliados do prefeito tentam convencê-lo de que o dano à sua imagem pode ser grande em caso de participação na manifestação bolsonarista.

Trata-se de um dilema que vem permeando toda a pré-campanha de Nunes. Sem o voto bolsonarista, dificilmente ele tem condições de avançar na disputa. Mas o custo de posar ao lado de Bolsonaro vem aumentando, na medida em que os avanços das investigações o aproximam cada vez mais da cadeia.

Bolsonaro já indicou Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota, como vice de Nunes. O prefeito, porém, ainda avalia se ter um bolsonarista radical como parceiro de chapa é a melhor estratégia. Assim, ele vem dando evasivas nas últimas semanas, quando perguntado sobre a definição do vice.

Ao mesmo tempo, se romper com Bolsonaro, Nunes corre o risco de enfrentar um concorrente bolsonarista, que levaria parte dos votos da extrema-direita, praticamente inviabilizando a sua candidatura.

Bolsonaro mandou dinheiro para aguardar o golpe nos EUA

De acordo com as investigações da Polícia Federal (PF), Bolsonaro fez uma transferência de R$ 800 mil antes de viajar aos Estados Unidos no final de dezembro de 2022, de onde aguardaria os desdobramentos da tentativa de golpe de Estado no Brasil.

Bolsonaro e os demais investigados da Operação Tempus Veritatis “tinham a expectativa de que ainda havia possibilidade de consumação do golpe de Estado”, conforme documento da PF obtido pelo portal g1.

“Alguns investigados se evadiram do país, retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”, aponta o documento.

Sobre Bolsonaro, a PF aponta que o então presidente “ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de Golpe de Estado que estava em andamento”.

A PF ainda justifica a apreensão do passaporte de Bolsonaro e outros investigados, para evitar risco de novas fugas. “O que se concluiu é que, diante da não consumação do golpe, diversos investigados passaram a sair do país sob as mais variadas justificativas (férias ou descanso), como no caso do ex-presidente Bolsonaro e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres”.