São Paulo – A Polícia Federal, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), realizaram hoje (12) uma grande operação contra o tráfico de drogas. Entre os principais alvos, o influenciador fitness e bolsonarista Renato Cariani. O esquema envolve empresas de fachada e artigos de luxo para ocultar um possível esquema de tráfico e desvio de produtos químicos.

Estes produtos seriam em quantidade suficiente para produzir de 12 a 16 toneladas de crack. São substâncias que os produtores de drogas pesadas acrescentam à pasta-base, matéria prima da cocaína e do crack, para sintetizá-las. Além do histórico de relações com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que chamou a atenção dos internautas foi o nome da operação conjunta. “Operação Hinsberg”.

O nome da operação faz alusão a Oscar Hinsberg, químico que percebeu a possibilidade de converter compostos químicos em fenacetina. Contudo, os internautas logo fizeram a relação com Heisenberg, codinome do personagem Walter White, da série Breaking Bad, que produzia drogas para deixar a família rica após descobrir um câncer.

A direita e o tráfico de drogas dr mãos dadas!

Este ao lado do Bolsonaro é o "influencer digital" Renato Cariani, além de coach fitness ele também é químico.

As empresas de Cariani desviaram 12 toneladas de produtos utilizados para a produção de crack e cocaína. A Polícia… pic.twitter.com/RyS2DTzHvn

— Orestes (@SomenteOrestes) December 12, 2023

O principal alvo da operação foi a empresa Anidrol, com sede em Diadema, na região do ABC paulista. O influenciador Cariani é um dos sócios. Com mais de 7 milhões de seguidores no Instagram, Cariani tem outras empresas, além de uma academia que recebe outras “estrelas”, como o apresentador do SBT Danilo Gentili. No caso específico de Cariani, a PF chegou a pedir sua prisão. Então, o MP reforçou o parecer da autoridade policial pela detenção provisória. Contudo, o Judiciário negou.

NUNCA FALHA!

Alguma dúvida de que o influenciador 'Breaking Bad' Cariani, seria mais um bolsonarista ferrenho?! pic.twitter.com/Ry0LAmb8Jy

— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) December 12, 2023

Verdadeiros traficantes

Em sua denúncia, o MP disse, sobre Cariani e seus sócios, serem estes “os verdadeiros empresários do crime”. Sobre a tipificação penal, a PF não detalhou a participação específica do influenciador. As investigações devem esclarecer e individualizar seu papel para fins de definição de uma pena. “As pessoas relacionadas aos fatos investigados responderão, cada qual dentro da sua esfera de responsabilidade, pelos crimes de tráfico equiparado, associação para fins de tráfico, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro“, disse a polícia.

As penas cominadas podem, facilmente, ultrapassar os 35 anos de prisão. As investigações revelaram, ainda, que os envolvidos empregavam diversas metodologias para ocultar e dissimular a procedência ilícita dos valores recebidos. Tais como pessoas interpostas e constituição de empresas fictícias. Então, identificaram 60 transações dissimuladas vinculadas à atuação da organização criminosa.

Química do mal

Para o ex-perito e cientista forense Julio Ponce, os indícios presentes nas informações divulgadas parecem ter relação mais com a produção de cocaína do que crack. “Tudo parece apontar para produção de cocaína, não de crack”, afirma. Entre as substâncias encontradas estão fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila.

“Acetato de etila e dietil éter – solventes orgânicos. O fato de serem pouco polares ajuda na etapa de dissolução da cocaína base para conversão à cocaína em pó vendida nas ruas. Acetona – solvente orgânico importante para a etapa de cristalização da cocaína (que pode ser feita mais de uma vez para purificar). Ácido clorídrico – então, a cocaína de rua geralmente é um sal de cloridrato de cocaína. Aí é que entra o ácido clorídrico que, em acetona, realiza a conversão da base livre. Por ser sal, a cocaína em pó não é fumada, mas absorvida pelas mucosas nasais”, explica.

Posição de Cariani

Cariani, por sua vez, disse estar surpreso com a operação e declarou inocência. “Foi uma surpresa mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa. Então, me informaram que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas num processo que eu não sei (…). Essa empresa, uma das empresas que eu sou sócio, está sofrendo a investigação, ela foi fundada em 1981. Então, tem mais de 40 anos de história. É uma empresa linda, onde a minha sócia, com 71 anos de idade, é a grande administradora, a grande gestora da empresa, é quem conduz a empresa, uma empresa com sede própria, que tem todas as licenças tem todas as certificações nacionais e internacionais. Uma empresa que trabalha toda regulada. Então, para mim, para a minha sócia, para todas as pessoas, foi uma surpresa”, disse.