Repressão

Presos por se opor à privatização da Sabesp denunciam ‘modus operandi da ditadura’

Quatro militantes presos na Assembleia Legislativa por protestar contra privatização da Sabesp exigem “imediata extinção” de inquérito contra eles e denunciam criminalização dos movimentos sociais

Reprodução Y.Tube
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Coletiva de imprensa foi realizada hoje

São Paulo – Os quatro detidos durante protesto na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) contra a privatização da Sabesp, há uma semana, classificaram suas prisões como “arbitrárias” e “com fins políticos”. Também apontaram a acusação de associação criminosa como uma tentativa de criminalizar os movimentos sociais. E exigiram a “imediata extinção” do inquérito contra eles. Em entrevista coletiva, eles denunciaram a ação truculenta da Polícia Militar durante a votação que aprovou o projeto de lei que autoriza a venda da estatal.

Hendryll Luiz Rodrigues de Brito Silva, estudante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante do Movimento Correnteza; e o professor Lucas Borges Carvente, do Movimento Luta de Classes (MLC), presos desde o último dia 6, foram soltos ontem (12). Hoje, eles se reuniram à presidenta da Unidade Popular (UP), Vivian Mendes, e a Ricardo Senese, militante do MLC, presos no mesmo dia, mas liberados após pagar fiança. Os quatro estão em liberdade provisória.

“Estão buscando colocar sobre nós, e sobre todas as pessoas que estavam ali, uma responsabilidade de violência que não aconteceu. Nos revistaram, não pudemos entrar sequer com garrafa d’água, nem nada que pudesse nos colocar numa situação de agredir os policiais naquela situação. Estávamos lá, com os nossos corpos, fazendo uma manifestação, e fomos gravemente agredidos”, detalhou Vivian. “Isso é o modus operandi da ditadura militar”, acrescentou.

Dessa maneira, a presidenta da UP classificou a repressão vivida no dia 6 como uma espécie de “estado de exceção”. Conforme a militante, foi mais um episódio de “autoritarismo” e “ilegalidade”, com o objetivo de garantir os interesses de uma minoria, capitaneada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Censura

Ela denunciou que, assim que os manifestantes ingressaram nas galerias da Alesp, naquela quarta-feira, os policiais tentaram retirar os cartazes que o grupo confeccionava naquele momento. Nesse sentido, os policiais queriam determinar o que os manifestantes poderiam ou não escrever.

“Respondemos imediatamente, dizendo que isso era censura, que não iremos permitir. Ficaram ameaçando e tensionando a relação. A gente começou a perceber que existia um objetivo muito claro de impedir a manifestação popular naquele projeto de lei. E de impor, através da força, de forma antidemocrática, os interesses da extrema-direita e do governador Tarcísio”, relatou Vivian. Para ela, Tarcísio é um governador “fascista”, que representa a continuidade da política do ex-presidente Jair Bolsonaro em São Paulo. 

Depois disso, relatou que os manifestantes sofreram uma “violência brutal” por parte dos policiais. “Os vídeos deixam isso muito claro. Os policiais não batiam com o cassetete lateralmente para dispersar. Batiam com a ponta do cassetete, como foi o que aconteceu comigo, no estômago, para machucar. A gente via no olhar deles o ódio contra o nosso povo.”

Medo e desespero

“O que senti foi medo. Aquele caos se instaurou porque eles foram covardes. A gente de braço dado, eles descendo a marreta em todo mundo”, afirmou Hendryll. Ele ainda relatou ter visto outros militantes com “a cabeça rachada”, por conta da ação violenta dos policiais.

Os manifestantes também reagiram à tentativa do governo paulista de equiparar o ocorrido na Alesp com a tentativa de golpe promovida por bolsonaristas, no dia 8 de janeiro, em Brasília. “Parece um desespero a correlação que querem fazer com o que aconteceu no 8 de janeiro. Uma tentativa de golpe no Estado brasileiro, que todas aqui sabem em que circunstâncias foi possível acontecer o 8 de janeiro e essa correlação com o que aconteceu na Alesp só se explica com desespero”, afirmou Ricardo.

O professor Lucas também contou que nem sequer passou por exame de corpo de delito, no momento da prisão. E denunciou os possíveis efeitos da privatização da Sabesp. “Onde eu moro, passa a linha Esmeralda (CPTM), privatizada. Tem falhas todos os dias, a população fica revoltada. A gente sabe que privatização vai piorar a situação de falta de água.”

Além disso, o advogado João Gilberto Abreu, que representa o grupo, também denunciou uma série de “arbitrariedades” que ocorreram durante a prisão dos manifestantes contra a privatização da Sabesp. Relatou, por exemplo, que nem sequer informaram sobre os motivos que levaram os quatro à prisão.

“Todo cidadão tem o direito de saber do que está sendo acusado, qual o crime. Desde o início houve essa ilegalidade. Na audiência de custódia também tivemos uma série de ilegalidades, quando enquadra os quatro por associação criminosa, como se tivessem ido até a Alesp com o intuito de praticar crimes, sendo que são militantes de movimentos e partidos políticos”, apontou.


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