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PF indicia Cariani e mais dois por tráfico e lavagem de dinheiro

De acordo com a PF, Influenciador fitness e amigos usaram esquema de notas falsas para encobrir desvio de produtos químicos que foram utilizados para fazer quase 20 toneladas de crack e cocaína

Reprodução/Youtube
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Nas eleições de 2022, Cariani declarou voto em Bolsonaro

São Paulo – A Polícia Federal (PF) indiciou o influenciador fitness bolsonarista Renato Cariani por tráfico equiparado, associação para tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Outros dois amigos de Cariani também foram indiciados pelos mesmos crimes.

Após dez meses de investigações, a PF concluiu o inquérito nesta terça-feira (30) e encaminhou para o Ministério Público Federal (MPF). Agora caberá aos procuradores decidir se irão ou não denunciar o grupo. Os policiais descartaram o pedido de prisão preventiva do trio. Assim, todos poderão responder em liberdade.

De acordo com as investigações, Renato, Fabio Spinola Mota e Roseli Dorth usaram a empresa química Anidrol para falsificar notas fiscais de vendas de produtos para outras indústrias farmacêuticas. O grupo, no entanto, desviava os produtos para a fabricação de cocaína e crack.

Cariani e Roseli são sócios da Anidrol, que tem sede em em Diadema (SP). Já Fabio Spinola seria o responsável por esquematizar o repasse dos insumos para o tráfico de drogas. Os produtos da empresa de Cariani abasteciam uma rede criminosa de tráfico internacional comandada por facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Os sócios não apenas tinham conhecimento, como participavam diretamente do esquema criminoso.

As investigações

De acordo com a PF, entre 2014 e 2021, o grupo desviou cerca de 12 toneladas de produtos químicos como fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila. Os policiais apontam que o trio realizou 60 transações dissimuladas, de modo a acobertar o desvio. Ainda segundo a corporação, as substâncias foram utilizadas para produzir aproximadamente 19 toneladas de cocaína e crack.

As investigações começaram após a Receita Federal detectar depósito em dinheiro, no valor de R$ 212 mil, aparentemente feitos pela AstraZeneca. A empresa, no entanto, negou a compra, bem como qualquer ligação com a empresa do influenciador.

Em dezembro, a PF, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), realizaram uma operação conjunta que teve como alvo o influenciador. A chamada “Operação Hinsberg” fazia alusão ao codinome do personagem Walter White, da série Breaking Bad, que produzia drogas para enriquecer a família após descobrir um câncer.

Bolsonarismo

Em agosto de 2022, a dois meses das eleições, Cariani recebeu o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu podcast no YouTube, o IronCast. O médico e influenciador Paulo Muzy foi o coapresentador da entrevista, que soma quase 5 milhões de visualizações no Youtube. Juntos, Cariani e Muzy têm cerca de 15 milhões de seguidores no Instagram.

Bolsonaro falou sobre seu “histórico de atleta“, enalteceu seu governo por zerar o imposto de importação de suplementos alimentares, como concentrados de proteína – conhecidos como whey protein – e destacou decreto assinado por ele, e derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que garantia a reabertura de academias no período de isolamento durante a pandemia de covid-19.

Cariani exibiu fotos dele em competições do Exército nos anos 1980 e ressaltou a importância da atividade física, principalmente na época da pandemia. O influenciador revelou ainda que perdeu 30 mil seguidores ao anunciar a entrevista com Bolsonaro. Ainda assim, declarou voto no então presidente, que acabou derrotado nas eleições.