Ofensiva

Gleisi: CPI foi ‘montada’ para criminalizar MST e reforma agrária

Comissão ouviu o ruralista Xico Graziano, conhecido detrator do MST, que defendeu o fim da reforma agrária. Deputados governistas também criticaram relatório de visita ao Pontal do Paranapanema

Myke Sena/Câmara dos Deputados
Myke Sena/Câmara dos Deputados
Gleisi afirmou que a CPI não tem por objetivo fazer uma "discussão séria" sobre a situação do campo no Brasil

São Paulo – A CPI do MST ouviu nesta terça-feira (13) o ex-presidente do Incra e ex-secretário de Agricultura de São Paulo, Francisco Graziano. Quadro histórico do PSDB, Xico Graziano, como é mais conhecido, se aproximou do bolsonarismo nos últimos anos. Mais uma vez, seu depoimento foi no sentido de criminalizar a luta pela reforma agrária no Brasil. “Não precisa mais reforma agrária. Precisamos consertar a reforma agrária que nós fizemos”, afirmou.

Graziano chegou a apresentar um PowerPoint com dados desatualizados da reforma agrária. “Exposição de Xico Graziano é como as outras, feitas pra manipular e atingir um movimento legítimo”, rebateu a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Usou relatório questionado, dados desatualizados, sem levar em conta políticas da reforma agrária, além de apresentar alegações absurdas sobre os assentados mostrando todo o preconceito”.

Relatório fajuto

Além disso, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) também apresentou um relatório sobre uma diligência da comissão na zona rural do Pontal do Paranapanema, local de assentamentos e acampamentos. Do mesmo modo, o documento criminaliza as ocupações na região, que nem sequer são do MST, mas da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL).

Os parlamentares governistas criticaram o relatório. “Importante deixar aqui registrado: já é uma prévia do relatório final. Qual vai ser o relatório final? A criminalização do movimento, a criminalização da reforma agrária. É para isso que essa CPI foi montada”, disse Gleisi.

Gleisi também destacou que o relator cometeu crimes e infrações durante a diligência. “Eu pergunto ao relator: ao fazer o relatório e mostrar as imagens, terá imagens dele arrombando um galpão? Terá imagens dele entrando dentro das lonas, levantando lona, dizendo que aquilo não era residência, violando a intimidade das pessoas? Ou vai ter só imagens que interessam a eles? É importante a gente ter isso claro.”

“O mais engraçado de tudo isso é que houve muitos outros registros no dia dessa diligência. De invasão de propriedade, de assédio, de abuso de autoridade”, criticou também a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP). “Houve mais de um inquérito que o delegado apresentou, sobre a formação de milícias rurais por parte de fazendeiros que abriram fogo contra os assentados. E o relator se esqueceu de apresentar isso. Ou seja, mais uma vez, comprovando a tese que apresentamos desde o início. Isso aqui é um circo armado para tentar enganar a população”.

Candidatura Salles naufraga

Para Sâmia, o principal objetivo de Salles, como relator da CPI do MST, era tentar “catapultar” a sua pré-candidatura à prefeitura de São Paulo. “Pelo visto não deu muito certo. Ele não conseguiu convencer nem o próprio partido de que isso seria viável. O que dirá a sociedade paulistana”. Na semana passada, ele anunciou que abandonou a corrida pela prefeitura paulistana, após ter levado uma “rasteira” da cúpula do PL, segundo ele.

A deputada voltou a afirmar que a diligência na região do Pontal do Paranapanema atendeu aos interesses de uma apoiadora de Salles, que reivindica a posse do território. “Tem uma decisão judicial negando que essa terra seja dela. Há dois pedidos de reintegração de posse que foram negadas pelo STF, justamente porque ela não conseguiu apresentar a documentação de que a terra é dela. Aí ela vai lá e arma uma encenação, junto com os seus amigos deputados, um dos quais ela fez bastante campanha, para assediar os assentados, dizendo que a terra é dela”.

Ao final da sessão, em entrevista coletiva, Sâmia também acusou o presidente da CPI do MST, Coronel Zucco (Republicanos-RS), de não cumprir acordo para votar requerimentos dos deputados da base do governo. Trata-se da convocação de especialistas e juristas com vasta experiência em conflitos agrários. Outro requerimento é para que o Incra apresente relatório sobre a situação das terras do Pontal. “A gente é minoria na comissão, a gente está consciente da correlação de forças. O que não dá para admitir é que o presidente nem sequer pauta esses requerimentos e não dê nenhuma justificativa”, reclamou a parlamentar.


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