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Ruralistas levam ex-integrante do MST à CPI para fazer acusações sem provas

Acampada não prestou juramento e se retirou quando seria questionada por parlamentares da base do governo sobre as acusações infundadas contra o MST

Myke Sena/Câmara dos Deputados
Myke Sena/Câmara dos Deputados
Deputados progressistas voltaram a denunciar que o objetivo da CPI é criminalizar a luta pela terra

São Paulo – A CPI do MST promoveu mais uma farsa nesta terça-feira (30) na Câmara dos Deputados, em Brasília. A bancada ruralista, que controla a comissão, convidou um casal que participou do MST. Eles vivem no acampamento Marias da Terra, no Distrito Federal (DF). Apenas Nelcilene Reis falou. Ela foi ouvida na condição de convidada. Sem prestar juramento, fez uma série de acusações contra o MST, mas não apresentou provas. Além disso, quando ela seria questionada por parlamentares do campo progressista, o casal preferiu abandonar a comissão.

Para a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), o presidente da CPI, Coronel Zucco (Republicanos-RS), e o relator, Ricardo Salles (PL-SP), teriam induzido a saída do casal. “Isso só tem uma palavra: medo. Medo das contradições que os depoentes iriam cair e das mentiras que eles falaram sobre essa mesa, porque foram mentiras”, disse a líder petista.

Dentre outras acusações, Nelcilene disse ter visto práticas análogas ao trabalho escravo e extorsão. Ela também afirmou que era tratada como “massa de manobra”. Ela também relatou que trabalhava num mercadinho na ocupação, onde os alimentos eram vendidos acima do preço e fora da validade. A convidada, no entanto, não apresentou qualquer prova ou indício sobre os supostos crimes.

“Vocês quiseram tirar as testemunhas, que não são testemunhas, são os convidados, na hora em que nós iríamos fazer as perguntas. E na hora que iam aparecer as contradições. Porque querem apenas a versão dos senhores. Vocês não estão querendo investigar. Já estão determinados a criminalizar um movimento, a criminalizar a reforma agrária”, declarou Gleisi.

Para a líder petista, como não prestou compromisso de falar a verdade, o depoimento de Nelcilene Reis na CPI do MST é “nulo” para efeitos de criminalização e indiciamento, bem como para constar no relatório final da comissão.

Latifúndio e escravidão

Nesse sentido, a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), acusou a bancada ruralista de querer criminalizar a luta pela reforma agrária num país marcado por quatro séculos de escravidão. “Em vez de lamentavelmente expor e constranger os trabalhadores, a gente tinha que estar aqui discutindo um projeto para o Brasil. A gente tinha que estar aqui ouvindo os empregadores que são acusados de manter trabalho análogo à escravidão em suas terras. Na lista atual do Ministério (do Trabalho), a gente teve 289 empregadores acusados. Desses, 172 são ligados ao agronegócio, financiadores inclusive do relator”, denunciou.

Para o deputado Nilto Tatto (PT-SP), a CPI do MST tenta “desqualificar” a luta por direitos no Brasil. Ele citou que parlamentares da bancada ruralista ficaram “abismados” ao descobrirem um local de reunião ao visitarem ocupações no Pontal do Paranapanema, no oeste paulista. “Lá no setor ruralista, pode fazer assembleia e tomar decisão. Pobre não pode”, ironizou.

Ocupação x grilagem

Da mesma forma, a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) ridicularizou os colegas da comissão ligados ao agronegócio durante a diligência no dia anterior. “Se espantaram quando invadiram o barraco das pessoas e não tinha ninguém ali dentro. Vocês acham mesmo que a população brasileira pode se dar ao luxo de ficar segunda-feira à tarde dentro de um barracão? Fazendo o quê, dormindo? As pessoas trabalham, elas precisam viver de algum modo”.

Assim, ela destacou que a região do Pontal concentra a maior quantidade de terras devolutas no país. E conforme a Constituição, essas terras deveriam ser objeto de reforma agrária. No entanto, ela denunciou que latifundiários tentam se apropriar dessas terras, com base numa lei paulista que está sendo constestada no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Você acha que é todo mundo que pode utilizar dinheiro da Câmara para pegar avião para fazer visita no Oeste Paulista para prestar conta para financiador de campanha, senhor deputado Ricardo Salles? Para fazer lobismo para tentar avançar numa lei que é considerada inconstitucional pela PGR? Se quando era ministro, atuava para defender madeireiro, agora como deputado atua para defender grileiro, invasor de terra. Que foi o que os senhores foram fazer no Pontal? Pois bem, deram com a cara na porta.”