Ruralistas

CPI que tenta criminalizar MST terá Ricardo Salles, da ‘boiada’, como relator

Ex-ministro bolsonarista, Salles chegou a fazer campanha, em 2018, prometendo fuzilar militantes do MST, lembrou a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP)

Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Ruralistas e bolsonaristas têm maioria na CPI do MST. Esquerda promete fazer a defesa do movimento

São Paulo – A Câmara dos Deputados instalou nesta quarta-feira (17) uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A instalação da CPI é uma reação ao Abril Vermelho, quando historicamente o MST realiza uma série de ações, incluindo a ocupação de terras improdutivas, como forma de pressionar pela reforma agrária no Brasil.

O deputado Coronel Zucco (Republicanos-RS), proponente da CPI, foi eleito presidente da comissão. Ele designou o deputado Ricardo Salles (PL-SP) como relator. Ex-ministro bolsonarista, Salles ficou conhecido por falar em aproveitar o auge da pandemia para “passar a boiada” em normas de proteção ao meio ambiente. A vice-presidência da CPI ficou com o deputado Kim Kataguiri (União-SP).

A deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) questionou a indicação de Salles como relator com base no Código de Ética. “Ele tem interesse ideológico, político e econômico”, disse Sâmia citando supostos financiadores de campanha ligados ao agronegócio. “Quando foi candidato a deputado federal em 2018, Salles fez campanha baseada na criminalização do MST. Na época, ele foi investigado porque dizia abertamente que iria fuzilar os militantes do movimento”, frisou a parlamentar

Na sequência, o deputado Éder Mauro (PL-PA), que vai integrar o colegiado, afirmou que o MST é um grupo de “desocupados” e “bandidos”. Sâmia respondeu: “Você responde pelo crime de tortura e quer falar sobre movimento social”.

Esquerda na CPI

A CPI terá 27 titulares e o mesmo número de suplentes. E terá início nesta quinta (18), com duração inicial de 120 dias. A maioria dos indicados, no entanto, é bolsonarista e também ligada à bancada ruralista. Assim, eles pretendem utilizar a comissão para fustigar o governo Lula que, segundo eles, estaria por trás da “onda de invasões” do MST. Por outro lado, deputados da base do governo devem atuar na defesa do movimento, que além da luta pela terra, vem se notabilizando nos últimos anos pelos avanços na produção de alimentos agroecológicos.

Mais cedo, o deputado Zeca Dirceu (PT), líder da Federação PT-PcdoB-PV na Câmara, anunciou a indicação de oito deputados para integrar a comissão. Padre João (PT-MG), Nilto Tatto (PT-SP)
Valmir Assunção (PT-BA) e Paulão (PT-AL) estão entre os titulares. Na suplência, ficaram Gleisi Hoffmann (PT-PR), João Daniel (PT-SE), Marcon (PT-RS) e Camila Jara (PT-MS). Pelo Psol-Rede, Sâmia Bomfim (Psol-SP) também vai participar dos trabalhos da comissão, tendo Talíria Petrone (Psol-RJ) como suplente.

Em visita à 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no último sábado, em São Paulo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, se colocou ao lado do MST. “Sou muito cauteloso com esta história de CPI. O trabalho do legislativo é legiferante (ou seja, legislar), não policialesco”.

Ao mesmo tempo, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, também ironizou a intenção de investigar o movimento. “Querem criar uma CPI para investigar o MST. Acho que vão achar coisas interessantes. Vão ver suco de uva que não tem trabalho escravo. Vão encontrar produtos que não tem agrotóxico. Também vão encontrar soja não transgênica”.

Disputa

Em entrevista ao Brasil de Fato, João Pedro Stédile, integrante da direção nacional do MST, disse que os parlamentares da extrema-direita vão utilizar a CPI como palco para aparecer na imprensa e falar com suas bases radicalizadas. Por outro lado, ele acredita que haverá espaço para a disputa, com a possibilidade de investigar também os “crimes do latifúndio”.

“Sempre é um espaço de muita confusão, porque, em geral, eles pedem quebra de sigilo bancário, correio eletrônico, telefone. Mas nós não estamos preocupados, porque nós vamos querer pautar, na CPI, os crimes do latifúndio, os crimes ambientais, crimes do agrotóxico, crime do trabalho escravo, e tentar fazer do limão uma limonada”, afirmou.


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