Nesta segunda

MST inicia ‘abril vermelho’ com ações contra violência no campo e concentração de terra 

Com o lema “Contra a fome e a escravidão”, jornada tem marchas, ocupações, vigílias e solidariedade em memória também das vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, há 27 anos

MST/Pernambuco/Divulgação
MST/Pernambuco/Divulgação
O MST realiza desta segunda (17) até quinta (20), ocupações de terra, marchas, vigílias, ações de solidariedade e acampamentos pedagógicos de formação nas cinco regiões do país

São Paulo – Cerca de 800 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupam, desde a manhã desta segunda-feira (17), a sede do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Fortaleza, para reivindicar a imediata reestruturação do órgão. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais cobram a criação de força-tarefa para colocar em cena o debate da reforma agrária e a regularização de assentamentos. 

A ocupação faz parte da 26ª Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, também conhecida como “Abril vermelho”, que teve início hoje. Com o lema “Contra a fome e a escravidão: por Terra, Democracia e Meio Ambiente”, o MST realiza desta segunda até quinta (20) ocupações de terra, marchas, vigílias, ações de solidariedade e acampamentos pedagógicos de formação nas cinco regiões para reafirmar o compromisso contra as violências no campo e as grandes concentrações de terra no Brasil. 

O “Abril vermelho” deste ano também lembra o chamado Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, ocorrido há 27 anos, em 17 de abril de 1996. Desde o último dia 9, a chamada “curva do S”, local onde a Polícia Militar do estado assassinou 21 trabalhadores sem-terra, sedia o Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves. O ato em memória das vítimas do massacre leva o nome de Oziel, executado pela PM, aos 17 anos, com um tiro na testa. 

Cem mil famílias em acampamentos

“Fazemos a jornada para que não se esqueçam do massacre de Eldorado dos Carajás e que o Brasil é o país do latifúndio, com o maior índice de concentração de terras. A reforma agrária é uma dívida história com os povos do campo”, destacou a integrante da direção nacional do MST, Ceres Hadich. No lançamento da jornada de lutas, na semana passada, o assentamento de todas as famílias sem-terra, que se encontram acampadas, também foi apontado como central. 

Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, nenhuma família foi assentada no país. O MST calcula que, atualmente, 100 mil famílias vivam em acampamentos. Muitas delas estão há mais de 10 anos nesta situação. E, pelo menos, 30 mil em condição de pré-assentamentos, em processos ainda não concluídos pelo Incra. “Nosso sonho é que esse governo apresente um programa de reforma agrária, em que desenhe quantas famílias serão assentadas ao longo dos quatro anos, quais serão as agroindústrias criadas nesse período e o crédito”, observou o coordenador nacional do movimento João Paulo Rodrigues. 

Segundo ele, o MST deve se reunir com representantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta semana para começar a tratar dessas questões. Os sem-terra solicitam uma roda de negociações com os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar (MDA) e do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Também são esperados encontros com as pastas da Justiça, Fazenda, Incra e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Ações dp MST em todo o país

Em paralelo às negociações, o movimento no Rio Grande do Sul também ocupou a sede do Incra em Porto Alegre nesta segunda. No local, 100 integrantes seguem em vigília. Eles participam de audiência com o então superintendente substituto do órgão Vitor Py Machado e sua equipe. Assim como nas capitais cearense e gaúcha, 200 famílias do MST também protestam em uma área patrimonial do governo do Espírito Santo. Segundo o movimento, a região, entre os municípios de Serra, Aracruz, Linhares, São Mateus e Conceição da Barra, é grilada há mais de 30 anos pela empresa Aracruz celulose, atual Suzano. 

“Queremos essas áreas para a Reforma Agrária, produzir alimentos saudáveis e acaba com a fome”, reivindicam os trabalhadores rurais da região. No Paraná, as família do movimento também distribuirão, entre hoje e quarta (19), 20 toneladas de alimentos a famílias ameaçadas de despejo em Curitiba. Serão contemplados moradores de ocupações urbanas, entre as quais da comunidade Tiradentes II, ao lado de um lixão na Cidade Industrial. Eles receberão arroz, feijão, mandioca, legumes e frutas. As ações se repetem em Santa Catarina e Mato Grosso.

Apesar do início oficial da jornada nesta segunda, o MST já realizou dezenas de lutas nas últimas semanas. Na Paraíba, famílias sem-terra marcha desde o final de semana de Mata Redonda, em Alhandra, à capital, João Pessoa. São 40 quilômetros de caminhada. Outras oito ocupações foram realizadas em Pernambuco, com cerca de 2.280 famílias. No último 10, em Maceió, centenas delas, acompanhadas por movimentos sociais, também cobraram a saída do atual superintendente do Incra e a indicação de José Ubiratan Rezende Santana para o cargo, por meio de uma ocupação no órgão.