Em reunião de ministros, Salles defendeu que governo Bolsonaro ‘passe a boiada’ no meio ambiente
Titular da pasta declarou que governo planeja aproveitar pandemia do coronavírus para desmontar de vez a regulação do setor, em favor do agronegócio e da mineração
Publicado 22/05/2020 - 20h52
Brasil de Fato – O vídeo da reunião do dia 22 de abril entre o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, que nesta sexta-feira (22) teve seu sigilo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), escancarou a relação do governo federal com o meio ambiente. Em um dos trechos, o ministro Ricardo Salles, responsável pelo setor, pediu que o governo aja de forma “infralegal”.
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“A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro nessas viagens que se referiu o Onyx [Lorenzoni, ministro da Cidadania] certamente cobrou dele, cobrou do Paulo [Guedes, da Economia]”, afirmou Salles na reunião.
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Em seguida, Salles insistiu com Bolsonaro sobre a intervenção em assuntos ligados ao meio ambiente durante o período da pandemia. “Então, pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, regulam, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”.
Em outro trecho, Salles pediu que o governo use mais a caneta, pois não pode contar com o Congresso Nacional para aprovar as mudanças que ele pretende para o meio ambiente.
“Agora tem um monte de coisa que é só parecer, caneta, parecer, caneta. Sem parecer também não tem caneta, porque dar uma canetada sem parecer é cana”, alegou Salles.
Recentemente, o governo apresentou a Medida Provisória 910, que ficou conhecida como “MP da Grilagem“, que foi editada por Bolsonaro no final de 2019 e que foi apresentada por parlamentares durante a pandemia do coronavírus. O projeto foi criticado por ambientalistas e movimentos populares do campo.
Indignação
Durante a ampla divulgação do vídeo da reunião ministerial do governo Bolsonaro, a fala de Salles provocou imediata reação. O jornalista e ativista ambiental André Trigueiro foi um dos que denunciaram a destruição ambiental planejada pelo ministro, com consentimento dos demais integrantes do Executivo.
Cai a máscara do antiministro! Salles diz c/todas as letras que é preciso aproveitar a distração da imprensa por causa da pandemia p/aprovar as medidas do interesse dele que não precisam do Congresso. A agenda do desmonte ambiental tem método,planejamento e falta de transparência
— André Trigueiro (@andretrig) May 22, 2020
Também a deputada federal pelo Psol de São Paulo Sâmia Bonfim declarou sua indignação pelo posicionamento do ministro. “Ricardo Salles confessou que deseja desmontar a legislação ambiental e a Constituição brasileira em meio à pandemia de coronavírus, pois a imprensa e a população brasileira não perceberiam as medidas. Um ministro criminoso numa reunião de criminosos.”