corrida municipal

Salles abandona disputa à prefeitura de São Paulo: ‘Boulos vai destruir o Nunes’

Ex-ministro da “boiada” disse que levou uma “rasteira” da cúpula do PL, após Bolsonaro e Valdemar Costa Neto almoçarem com Ricardo Nunes (MDB) na semana passada

Myke Sena/Bruno Spada/Cãmara dos Deputados
Myke Sena/Bruno Spada/Cãmara dos Deputados
"Eu ia ser (candidato), mas agora estou tomando chapéu dessa turma da política profissional", reclamou ex-ministro bolsonarista

São Paulo – O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) disse que não será candidato à prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2024. Em entrevista à Jovem Pan nesta segunda-feira (5), ele afirmou que tomou uma “rasteira” da cúpula do seu partido, que tem se aproximado do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Para Salles, no entanto, o deputado Guilherme Boulos (Psol), que conta com o apoio do PT na disputa pelo governo da maior cidade do país, “vai destruir” Nunes, que deve buscar a reeleição no ano que vem.

“Eu ia ser (candidato), mas agora estou tomando chapéu dessa turma da política profissional. A turma que gosta de business. Não tem ideologia”, afirmou o ex-ministro bolsonarista. “Não é desistir. Eu tomei uma rasteira que eu não tenho como fazer. (…) Pega o maior partido do Congresso, com maior fundo partidário, para apoiar um prefeito que nem apoiou o Bolsonaro no ano passado, recusou o rótulo de direita. Apoiar um cara que não quer ser nosso, só quer nossos votos.”

A “rasteira” a que Salles se refere ocorreu na última sexta-feira (2), num almoço que marcou a aproximação do PL com o prefeito de São Paulo. Participaram do encontro o presidente da legenda, Valdermar Costa Neto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Salles não foi convidado.

Bolsonaro “coitado”

Pelas redes sociais, Salles já havia reagido. “Quem com porcos anda, farelo come”, postou o ex-ministro no sábado. No dia seguinte, ampliou as críticas: “O Centrão ganhou. A direita perdeu”. Na entrevista, no entanto, ele poupou o ex-chefe. “O Bolsonaro, coitado, está muito fragilizado. Está à beira de responder um processo, negócio de inelegibilidade. Como é que ele se coloca num momento desse? É muito mais difícil”.

Salles afirmou que seu partido “finge” ser de direta, mas “um terço vota para o governo”. Isso porque parte minoritária do PL votou a favor nas votações do Novo Arcabouço Fiscal e da Medida Provisória (MP dos Ministérios. “Nós fizemos a bancada. Nós demos o fundo partidário que o partido tem, dezenas e dezenas de milhões de reais, demos o tempo de televisão. Para pegar tudo isso e apoiar um candidato que é de um partido que é base do Lula”.

Além disso, ao falar que Boulos vai “destruir” o atual prefeito na disputa eleitoral, Salles afirmou que “Nunes tem história”, insinuando seu envolvimento em casos de corrupção. “Pega a história dele. Pega essa história da Máfia das Creches, esse outro da turma que domina o transporte coletivo na cidade. Levanta tudo que tem lá na Câmara dos Vereadores e vai ver se ele tem condições de enfrentar o Boulos”.

Ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, ficou conhecido por falar em aproveitar o auge da pandemia para “passar a boiada” em normas de proteção ao meio ambiente. Atualmente, o parlamentar é relator da CPI do MST, que busca criminalizar o movimento. Nesse sentido, Salles esperava que a sua atuação na CPI o cacifasse junto ao eleitorado conservador paulistano.

Valdemar reage

Recentemente, Valdemar escreveu em uma rede social que São Paulo não pode “ter um candidato de extrema direita. Mas quem vai decidir isso é o Bolsonaro.” Hoje, em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do PL disse que Salles “nunca foi candidato”. “Nunca discutimos esse assunto. Nunca falou comigo, nunca tocou nesse assunto comigo de candidatura. Não sou o dono do partido, mas penso que seria normal ele ter falado comigo”, declarou.

Por outro lado, disse que Boulos se transformaria em presidenciável, em caso de vitória na disputa paulistana. “Com a estrutura de São Paulo, ele é candidato a presidente em dois anos, aí enterra a gente de vez. Temos de ter uma candidatura de centro-direita”. Valdemar citou os ex-prefeitos petistas – Fernando Haddad, Marta Suplicy e Luiza Erundina – para dizer que São Paulo tem uma tendência para a esquerda. “O Bolsonaro, o Tarcísio e o Marcos Pontes perderam na cidade. Por isso a extrema direita não tem como ganhar sozinha”, afirmou.