Ataque a Brasília

General Heleno continua dizendo que acampamento golpista era ‘ordeiro e pacífico’

Questionado por Eliziane Gama por que recebia pessoas que frequentavam o acampamento de Brasília, ex-chefe do GSI respondeu que era “por uma questão de urbanidade”

Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado
Heleno ainda sustenta que os acampamento na frente do QG do Exército e que reunia golpistas era ordeiro e pacífico

São Paulo – No depoimento que presta nesta terça-feira (26) à CPMI do 8 de Janeiro, o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro (PL), continua a sustentar que o acampamento na frente do QG do Exército em Brasília, que reunia golpistas, era ordeiro, além de pacífico.

Questionado expressamente pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) se mantinha a opinião de que o local era ordeiro e pacífico, Heleno afirmou que nunca esteve no acampamento. Como a senadora insistiu, o militar respondeu tentando sair pela tangente: “Não, isso chegou pra mim, que o acampamento era ordeiro, pacífico”.

– Hoje o senhor continua pensando da mesma forma? – questionou ainda Eliziane.

– Eu não tô aqui pra achar nada, eu tô aqui pra responder aos fatos – respondeu o general Heleno, após ser interrompido por seu advogado, que lhe falou ao pé do ouvido por cerca de 10 segundos.

A senadora então respondeu que “as investigações são claras”. Mostram que “foi do acampamento aqui (…) que partiram os vândalos que destruíram o prédio da Polícia Federal em 12 de dezembro (dia da diplomação do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva), que criminosos montaram uma bomba pra explodir um caminhão no aeroporto de Brasília, e lá se concentraram os manifestantes pra quebrar a praça dos Três Poderes, e os parlamentares que mais incentivaram essas manifestações”, discorreu Eliziane, citando o deputado Carlos Jordy (PL-RJ).

“Uma questão de urbanidade”

Perguntado pela relatora por que recebia pessoas e mesmo parlamentares que frequentavam o acampamento golpista, o ex-chefe do GSI respondeu: “por uma questão de urbanidade, porque éramos um gabinete dentro do Palácio do Planalto. Era uma questão de educação”, explicou. Ele acrescentou que essas pessoas iam ao GSI “apenas para tirar fotos e fazer vídeos”.

Eliziane também insistiu em perguntar sobre outra declaração de Heleno há alguns meses, quando se referiu aos atos de 8 de janeiro dizendo que não houve golpe ou tentativa de golpe, porque não havia registro de planejamento e liderança. “Continua com essa opinião?”, questionou a senadora.

“Para caracterizar uma tentativa de golpe, num país de 8,5 milhões de km2 e mais de 200 milhões de habitantes, é preciso uma estrutura muito bem montada (…), uma cabeça muito preparada pra fazer um golpe, em plena era da tecnologia, que dê certo”, disse Heleno. “É, não deu certo mesmo, general, isso é verdade”, ironizou Eliziane.

A senadora resumiu no Twitter a postura de Heleno na comissão nesta terça. “Não vi, não lembro, não participei, não estava e não li”. Segundo ela, o depoente “demonstra que estava a passeio na chefia do GSI. Mas os fatos e dados mostram o contrário”.

Desconstruindo Mauro Cid

Heleno também tentou desconstruir os depoimentos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que disse ter presenciado reunião do ex-presidente com militares em que se discutiu um possível golpe.

“Eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era o ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar em uma reunião dos comandantes de força e participar da reunião. Isso é fantasia”, disse o general.

Em sua inquirição, o deputado Rogério Correia (PT-MG) mostrou uma imagem de reunião em que aparecem Cid, Bolsonaro e Heleno. O parlamentar destacou que a imagem mostra que o general mente.