CPMI do 8 de janeiro

Relatora diz que Wellington pode fazer delação e advogado do preso admite a possibilidade

Eliziane Gama também anunciou que vai pedir a quebra do sigilo telemático do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, que Mauro Cid citou na sua delação

Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado
"É o povo entrar no Supremo Tribunal Federal e tirar os ministros de lá de dentro", pregava o bolsonarista

São Paulo – A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do 8 de Janeiro, propôs ao blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza, ouvido pela comissão nesta quinta-feira (21), a formalização de uma delação premiada. Pouco antes do término da sessão, o advogado do criminoso – já condenado a seis anos por tentar explodir uma bomba perto do aeroporto de Brasília – admitiu a possibilidade. O blogueiro estava foragido desde janeiro e foi preso na semana passada no Paraguai.

Perguntado diretamente por Eliziane sobre a questão, o advogado respondeu que possivelmente na próxima semana poderá conversar sobre o assunto. “Pode confiar que nosso trabalho é totalmente republicano”, afirmou.

A senadora também anunciou que vai pedir a quebra do sigilo telemático do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha citado na delação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. O almirante teria se colocado à disposição para colocar as tropas em um movimento para impedir que Lula tomasse posse. “Diante dos fatos de hoje, a presença do almirante passa a ser fundamental”, explicou Eliziane.

No relato que fez à Polícia Federal, Cid contou ter testemunhado reunião em que o ex-assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, teria entregue a chamada minuta golpista a Bolsonaro. Acrescentou que apenas o almirante Almir Garnier teria manifestado apoio à ideia, embora não tivesse chegado a autorizá-la.

Tirar os ministros do Supremo

No depoimento de Wellington Macedo, a CPMI apresentou um vídeo em que o blogueiro é explícito sobre as ideias sobre o 8 de janeiro. Em um programa no Youtube, um entrevistador pergunta:

– É o povo entrar no Supremo Tribunal Federal e tirar os ministros de lá de dentro, é isso que você fala, traduzindo para o grande público que nos assiste?

– Possibilidade de 80% de isso acontecer a partir do dia 8, tá? – responde Wellington na gravação.

Segundo ele, o povo estava indo a Brasília tomar o poder. “A tomada do poder significa tomar a estrutura física tanto do Supremo Tribunal Federal, como do Congresso Nacional. Isso eu já ouvi de diversos líderes de vários movimentos, não só dos caminhoneiros e do agronegócio, mas de outras categorias”, contou.

O golpista prometeu na dita entrevista de janeiro que o movimento “não tem hora pra acabar”. As Forças armadas estavam “muito bem alinhadas com o presidente Bolsonaro”, garantiu. A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que pediu para o vídeo ser exibido, afirmou que, diante da fala do depoente na gravação, Wellington não precisava sequer depor.

“Ele não agia sozinho”

De acordo com Eliziane Gama, há um parecer da Advocacia do Senado sobre a possibilidade de a CPMI realizar delação premiada. “Ele não agia sozinho, havia em torno dele várias outras pessoas. Então, eu entendo que ele tem um volume significativo de informações que poderá trazer para os trabalhos da CPI, com provas”, disse ela.

A relatora acredita que uma eventual delação poderia esclarecer detalhes do funcionamento do acampamento bolsonarista em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, já que o blogueiro tem dezenas de horas de gravações no local, segundo seu advogado.

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