Clã Bolsonaro

Gastos de Michelle eram pagos em dinheiro vivo, indicam áudios obtidos pela PF

“O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio”, disse Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, fazendo referência ao escândalo da rachadinha

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Assessoras tentaram convencer Michelle a parar de usar o cartão de crédito de uma amiga, cujas faturas eram pagas em dinheiro

São Paulo – A Polícia Federal (PF) interceptou conversas entre o ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e duas assessoras de Michelle, que revelam a existência de um esquema de pagamento em dinheiro vivo das despesas da ex-primeira-dama. O portal UOL obteve as transcrições dos áudios de Whatsapp e divulgou neste sábado (13).

De acordo com a PF, os diálogos revelam a existência de uma “dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências”. Os pagamentos ocorreram pelo menos até julho de 2022, de acordo com dados obtidos pela quebra dos sigilos bancários de auxiliares de Mauro Cid – preso na semana passada pela Operação Venire, suspeito de integrar uma organização criminosa que fraudava certificados de vacina da covid-19.

Nas mensagens, Mauro Cid mostrava preocupação que a prática fosse caracterizada como um esquema de rachadinha. “O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”.

Conforme a investigação, Michelle utilizava um cartão de crédito vinculado à conta da amiga Rosimary Cardoso, à época assessora parlamentar no Senado. A PF identificou depósitos em dinheiro vivo na conta de amiga para custear as despesas com o cartão da então primeira-dama. Além disso, o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, subordinado de Cid, fez ao menos 12 depósitos em dinheiro na conta de uma tia de Michelle. Ele também fez pagou com dinheiro vivo faturas do cartão de Michelle.

Dinheiro público

A empresa Cedro do Líbano, com sede em Goiânia, que tinha contratos públicos com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) durante o governo Bolsonaro, é a origem de uma série de transferências feitas ao sargento. Pelo menos R$ 25.360 foram depositados pela empresa na conta de militar subordinado ao ajudante de ordens de Bolsonaro. Para a PF, trata-se de um um indicativo da existência de desvios de recursos públicos para a quitação das despesas da então primeira-dama.

Duas assessoras da então primeira-dama, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, tentaram tentaram convencer Michelle a interromper o uso do cartão da amiga, sem sucesso. “No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (…) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy”, disse Cintia, em áudio enviado à Giselle.

Em outro áudio, Giselle conta a Mauro Cid ter conversado com uma pessoa próxima a Michelle, e que a ex-primeira-dama ficou “pensativa”, mas que continuaria a usar o cartão. Mauro Cid responde o áudio de Giselle e cita o nome de Flávio Bolsonaro: “Giselle, mas ainda não é o ideal isso não tá? (o uso do cartão de Rosimary). O Cordeiro conversou com ela, tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo, tá. É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas”, respondeu.