Algoritmo em campanha

Estudo prova que Youtube privilegia ‘recomendações’ de conteúdos bolsonaristas

Internautas reagiram cobrando explicações da plataforma de vídeo. “Escândalo” e “Youtube sem partido” foram parar entre os temas mais comentados do Twitter

Reprodução/Youtube/Jovem Pan
Reprodução/Youtube/Jovem Pan
Alinhada ao bolsonarismo, Jovem Pan apostou no negacionismo na pandemia e agora contesta eleições

São Paulo – Estudo do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela que o Youtube privilegia a Jovem Pan e vídeos a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL) em suas recomendações. Em 18 visitas-teste, os pesquisadores identificaram que os canais do grupo Jovem Pan apareceram 14 vezes na primeira página de resultados, com um ou mais vídeos. Como “sugestão” principal, os vídeos da emissora foram 10 dos 18 testes. Ou seja, em 55% das ocorrências. O experimento foi realizado 23 a 30 de agosto, semana em que ocorreram as sabatinas dos presidenciáveis no Jornal Nacional.

O vídeo mais recomendado aos usuários, no entanto, foi o da participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) no programa Pânico. O conteúdo apareceu em oito visitas-teste, em cinco versões, que juntas somam 9,6 milhões de visualizações. Tudo isso, em meio a uma campanha que o Youtube lançou, em que alega reduzir a propagação de conteúdo duvidoso, recomendar conteúdos de fontes confiáveis e recompensar os criadores de conteúdo de qualidade.

Para explicitar a contradição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) notificou a Jovem Pan, na semana passada, por disseminar informações falsas sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o programa 3 em 1. Além disso, a Corte afirma que a emissora está fazendo propaganda “de forma sistemática, em favor da candidatura Bolsonaro”.

Reação

Após a colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo divulgar o estudo, os termos “YOUTUBE SEM PARTIDO” e “Escândalo” figuraram nos trending toppics (assuntos mais falados) do Twitter. “É muito grave o YouTube, uma plataforma com mais de 130 milhões de usuários no Brasil, privilegiar um veículo de mídia no seu sistema de recomendação, diante de tantas outras fontes. Ainda mais por [a Jovem Pan] ser um veículo hiperpartidário, claramente bolsonarista, que não dá isonomia aos candidatos”, disse a diretora do Netlab, Marie Santini, à coluna.

“É um ESCÂNDALO o favorecimento à Jovem Pan que o Youtube tem feito, distribuindo conteúdo com Bolsonaro até mesmo para perfis que nunca apoiaram a direita”, escreveu o deputado Ivan Valente (Psol-SP).

Do mesmo modo, a youtuber progressista Laura Sabino disse que a pesquisa constatou algo que produtores de conteúdo “de esquerda” já sabiam: “Os algoritmos privilegiam conteúdos de direita e os nossos são jogados lá embaixo”.

O Sleeping Giants, movimento que combate o financiamento do discurso de ódio e das fake news, também cobrou uma resposta do Youtube. “Não queremos que o @YouTubebrasil não tenha politica, pelo contrário, queremos muito mais. O que não pode é o Youtube privilegiar uma ideia unicamente.

Procurado pela reportagem, o YouTube afirma que não teve acesso à pesquisa e, portanto, não iria comentar os resultados.

Confira outras manifestações

Algoritmo tendencioso

Por outro lado, outros veículos jornalísticos com mais tradição e credibilidade que a Jovem Pan aparecem muito como sugestão principal – Uol (5), CNN Brasil (1) e Band (1). Explorando a página inicial completa do YouTube, a pesquisa identificou 31 canais de conteúdos informativos. Eles pertencentes a 20 grupos de comunicação, que apareceram como sugestões. Entre os 31 canais, entretanto, 8 pertencem ao grupo Jovem Pan, que apareceram 25 vezes ao longo do experimento. Uol, Band, e CNN Brasil aparecem com 16, nove e oito vezes, respectivamente. Canais de viés progressista recebem destaque ainda menor. O Conversa Afiada, por exemplo, apareceu quatro vezes entre as sugestões, e a Revista Fórum, apenas duas.

O NetLab destaca ainda que a Jovem Pan foi acusada de disseminar desinformação sobre as vacinas contra a covid-19, durante a pandemia. Além disso, uma de suas repórteres foi desmentida ao vivo após acusar Lula de mentir ao afirmar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil.

Os pesquisadores também ressaltam a hiperpartidarização da Jovem Pan. Como exemplo, apontam que a emissora só recentemente, durante o período eleitoral, deixou de veicular as lives semanais de Bolsonaro. No entanto, alertam que o apoio aberto da emissora ao presidente compromete o acesso à informação pelos usuários.


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