8 de janeiro

Empresário do agronegócio fica calado na CPMI, mas relatora expõe seu caráter golpista

No total, 272 caminhões integraram comboios golpistas e violentos a Brasília desde 4 de novembro. Desses, 72 partiram da cidade de Sorriso, no Mato Grosso, onde mora o “pai da soja” Argino Bedin

Thomaz Silva/Agência Brasil
Thomaz Silva/Agência Brasil
Caminhões bloqueram estradas em todo o país desde a vitória de Lula, para provocar o caos no país

São Paulo – O empresário da soja Argino Bedin, investigado por suspeita de financiar os ataques a Brasília no dia 8 de janeiro, ficou em silêncio na sessão desta terça-feira (3). Ele foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantindo o direito de permanecer calado. Aliado de Jair Bolsonaro (PL), Badin é o 20º depoente a comparecer à comissão. O latifundiário é sócio de pelo menos nove empresas. Em 12 de novembro, teve as contas bloqueadas por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Com a garantia legal, o depoente, de 73 anos, não respondeu a perguntas. As poucas que a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, lhe dirigiu, obteve como resposta a mesma frase: “Vou exercer meu direito de ficar calado”. A parlamentar então decidiu não perguntar mais e apresentou diversas informações relacionadas ao “pai da soja”, como Bedin é conhecido no Mato Grosso, e sobre sua participação no 8 de janeiro.

Relatório da Abin

Segundo informações a que a comissão teve acesso, relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aponta que 72 caminhões enviados a Brasília, e que bloquearam estradas nos dias imediatamente depois da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 30 de outubro, partiram do pequeno município de Sorriso, de 70 mil habitantes, de onde é Argino Bedin (foto ao lado). Ele nasceu no Rio Grande do Sul, foi criado no Paraná e chegou a Sorriso em 1979.

Dos 72 veículos de Sorriso, 16 eram do próprio empresário ou relacionados a integrantes de sua família, afirmou Eliziane, a partir do relatório. No total, 272 caminhões integraram comboios a Brasília desde 4 de novembro, dos quais 93% eram provenientes de quatro estados: Mato Grosso, Bahia, Goiás e Paraná.

Movimento Brasil Verde e Amarelo e Aprosoja

Eliziane citou em sua fala a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), parceira do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), ambos acusados de serem parceiros na articulação dos atos antidemocráticos no último dia 8 de janeiro e também nos comboios golpistas de caminhões de novembro. A principal liderança do MBVA é Antônio Galvan, também presidente da Aprosoja.

Segundo o deputado Rogério Correia (PT-MG), Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) registram que Roberta Bedin, filha do depoente à CPMI, teria movimentado R$ 19,6 milhões no período em que aconteceram os bloqueios das estradas. Argino Bedin movimentou R$ 1,9 milhão, montante de “origem não claramente conhecida”, disse o deputado.

“Direito de ficar calado”

Em sua intervenção, o deputado Carlos Veras (PT-PE) lembrou ao depoente que “foi o Supremo que o senhor ajudou a ser atacado que lhe deu o direito de ficar calado”. Em seguida, o parlamentar perguntou:

– Qual sua avaliação dos atos do dia 8 de janeiro?
– Vou exercer meu direito de ficar calado – respondeu o chamado “pai da soja”.

Requerimento rejeitado

Antes de começar o depoimento de Argino Bedin, a CPMI rejeitou, por 14 votos a 10, requerimento do deputado bolsonarista Delegado Ramagem (PL-RJ), para convocar Sandro Augusto Sales Queiroz, da Força Nacional (FN), para falar de sua atuação do 8 de janeiro. A rejeição do requerimento foi uma derrota da oposição bolsonarista, que queria o membro da FN para fazer barulho contra o governo Lula e alimentar suas redes sociais.