Ameaça?

‘É a tua vida está em risco’, diz Damares a Delgatti, e defesa pedirá programa de proteção à testemunha

Aparentemente muito nervosa, senadora bolsonarista dirigiu-se ao hacker na CPMI e disse: “Só vou dizer o seguinte: a vida dá volta e é a tua vida que está em risco”

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Por recomendação de seus advogados, o hacker Walter Delgatti respondeu às perguntas de bolsonaristas, no período da tarde na CPMI, com uma só frase: "ficarei em silêncio"

São Paulo – O hacker Walter Delgatti e seu advogado foram direta ou indiretamente ameaçados durante a sessão da CPMI do 8 de Janeiro nesta quinta-feira (17). A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), aparentemente muito nervosa, afirmou: “Walter, o meu recado fica para ti: você mentiu, você tinha aliança com o PT. Você estava com raiva, o PT te largou na mão, porque você foi para a cadeia, foi para a direita, agora está voltando. Só vou dizer o seguinte: a vida dá volta e é a tua vida que está em risco”.

No final da audiência, o senador  Randolfe Rodrigues (Rede-AP) dirigiu-se ao advogado do depoente e ao próprio Delgatti, e aconselhou: “peçam mesmo a inclusão de Delgatti (ao programa de) proteção à testemunha”. A defesa do hacker estaria reivindicando das autoridades a proteção de seu cliente, que já disse que teme pela sua vida.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) também comentou a questão. Em sua fala final, cumprimentou os advogados de Delgatti por recomendarem ao cliente para ficar em silêncio. O hacker não respondeu às perguntas dos bolsonaristas no período da tarde. “E explico por quê. O senhor Walter Delgatti foi aqui ameaçado. Eu não vou colocar o vídeo para não constranger quem fez a ameaça, que é membro da CPI e senadora da República. Que chegou a dizer a Delgatti a seguinte frase: ‘a vida dá volta e é a tua vida que está em risco’”, registrou o deputado.

Ele acrescentou que o advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, foi ameaçado antes. “O processo de golpe no país foi um processo de extrema violência (…) com quebradeiras em Brasília. E ele recebe simplesmente uma fala: a vida dá volta, e é a sua vida que está em risco”. Indiretamente, ele comparou a fala de Damares com “apito de cachorro”, mensagem em código para o cumprimento de ordens.

Correia defendeu que, além de ser incluído como testemunha protegida, por segurança Delgatti seja beneficiado com o fim da prisão preventiva, “pela colaboração” dada à CPI.

Flávio admite conversas de Bolsonaro com hacker

Ante a impossibilidade de desmentir os contatos do ex-presidente da República com Walter Delgatti Neto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acabou admitindo que seu pai, Jair, manteve realmente um diálogo com o hacker, cujo depoimento é considerado contundente.

Ante as evidências das investigações em curso, inclusive da Polícia Federal, o filho zero um de Bolsonaro incorporou um discurso defensivo. Afirmou que “muito antes de sonhar em ser candidato à presidência da república”, Jair Bolsonaro já defendia que as urnas de votação tivessem “mais camadas de segurança”. Flávio falou do sistema de votação e das urnas eletrônicas, enquanto fazia perguntas a Delgatti, que respondia a tudo com a frase “ficarei em silêncio”.

Flávio então entrou em contradição com discurso confuso. “Presidente, como ele vai ficar em silêncio… Óbvio que as conversas todas que existiram, segundo ele está dizendo, tanto com o presidente Bolsonaro, com a deputada Carla Zambelli, com integrantes das Forças Armadas, não foram pra fazer invasão em sistema eleitoral nenhum (…). Foi na verdade uma sondagem pra que ele pudesse, junto com aquele grupo das Forças Armadas que estava legalmente junto ao TSE, pra fazer os testes em urnas, pudesse mostrar para o TSE possíveis vulnerabilidades das urnas”, discorreu.

Segundo o senador, a “narrativa” de que Delgatti foi contratado para fraudar as eleições “é uma mentira, um terror criado como se o presidente Bolsonaro o tivesse contratado para isso”. “Para esclarecer a relatora, primeiro que não tenho nada a esconder, porque a conversa do senhor Walter era para ele mostrar seus conhecimentos para que fosse oficialmente instruído o TSE sobre vulnerabilidade das urnas eletrônicas. Só para ficar bem claro”, enfatizou o zero 1.

Ideia fixa bolsonarista: as urnas

O bolsonarismo usou suas falas para continuar a propagar dúvidas sobre as urnas eletrônicas. Os bolsonarisatas também usaram o tempo para atacar e acusar o depoente de mentir “para ser candidato a alguma coisa”, como disse Damares, acusando as falas do hacker de “desqualificadas”.

Em sua inquirição, Flávio passou um vídeo do jornalista Glenn Greenwald, no qual o jornalista norte-americano diz que “tudo o que Delgatti diz, eu tenho dúvidas”. Cofundador do site The Intercept, que divulgou os áudios da Vaza Jato feitos por Delgatti, Greenwald tem uma posição dúbia.

Glenn Greenwald e Monark

Recentemente, Greenwald vem atacando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em suposta defesa da “liberdade de expressão” que Moraes estaria a violar. Meses atrás, o jornalista Pepe Escobar classificou Greenwald como um “agente duplo”.

Entre os nomes que Greenwald defende está o bolsonarista Monark, apelido de Bruno Aiub, que já defendeu a existência de um partido nazista no Brasil e deu declarações consideradas racistas e homofóbicas. Criticado por entidades judaicas, pediu desculpas e afirmou que estava bêbado. Também pediu desculpas por se colocar a favor da legalização de um partido nazista.

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