Entidades de jornalistas repudiam agressão de bolsonaristas a fotógrafo
Bolsonaristas, ao tentar livrar os reais criminosos do 8 de janeiro, tentam culpar até o fotógrafo que acompanhou os atos golpistas
Publicado 16/08/2023 - 17h29
São Paulo – Entidades profissionais de jornalistas divulgaram carta em repúdio ao tratamento dado por parlamentares bolsonaristas ao fotógrafo Adriano Machado durante a CPMI do 8 de janeiro. Com a finalidade de tentar isentar apoiadores do ex-presidente que depredaram Brasília após sua derrota, aliados no Parlamento tentam imputar responsabilidade a todos. Inclusive a um fotojornalista que apenas retratava os fatos para seu empregador, a agência de notícias Reuters.
Machado tem mais de 20 anos a serviço do jornalismo. Bolsonaristas, inclusive, o questionaram o porquê dele não ter dado voz de prisão aos criminosos. Eles fazem ilações de que os atentados ocorreram com anuência de profissionais e também de membros do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assim, bolsonaristas querem culpar o governo Lula por supostamente ter deixado que extremistas insuflados por Bolsonaro que queriam impedir seu governo tentassem um golpe de Estado.
Contudo, o fotojornalista nunca teve ligação com qualquer lado político. Mesmo assim, os bolsonaristas não pouparam agressões e intimidações. “Mas foi ofendido por diversas vezes, quando parlamentares da oposição, com vistas a atacar o governo, o acusaram de participar de uma encenação de golpe”, afirma a nota assinada, entre outras entidades, pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
“Chegou-se ao extremo de se perguntar ao repórter fotográfico por que motivo ele não deu voz de prisão aos inúmeros manifestantes que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto no dia 8. Um dos parlamentares anunciou que pediria a quebra do sigilo telemático do fotojornalista para saber com quem ele trocava mensagens”, prossegue a nota.
A tentativa de quebra de sigilo do jornalista ofende os profissionais da área e demonstra o desespero bolsonarista em tentar acobertar os reais agentes do dia 8 de janeiro. A falta de sentido é tanta que os mesmos parlamentares que acusam o governo Lula de não agir são aqueles que tentam libertar os presos por crimes daquela data.
“Para dar voz e vez a teorias conspiratórias e à defesa de transgressores dos preceitos democráticos, alguns parlamentares tentaram ainda equiparar o trabalho do fotógrafo e da imprensa nacional ao de ativistas políticos, denunciados e processados por crimes contra a democracia e por divulgação de falsas notícias”, prossegue a carta.
Confira o texto na íntegra:
As organizações abaixo assinadas repudiam não só a convocação do fotojornalista Adriano Machado, da Reuters, à CPMI do Congresso Nacional sobre os ataques de 8 de Janeiro como a tentativa, por parte de alguns parlamentares, de atacar a honra do jornalista e a reputação de toda a imprensa brasileira.
Adriano Machado, cujo trabalho ultrapassa duas décadas de serviços prestados ao jornalismo, respondeu aos questionamentos com tranquilidade nesta terça-feira (15.ago.2023). Mas foi ofendido por diversas vezes, quando parlamentares da oposição, com vistas a atacar o governo, o acusaram de participar de uma encenação de golpe.
Chegou-se ao extremo de se perguntar ao repórter fotográfico por que motivo ele não deu voz de prisão aos inúmeros manifestantes que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto no dia 8. Um dos parlamentares anunciou que pediria a quebra do sigilo telemático do fotojornalista para saber com quem ele trocava mensagens.
Cabe ao fotojornalista registrar as imagens do crime. O papel de coibir, identificar criminosos, responsabilizá-los e puni-los é trabalho das autoridades de segurança e da Justiça. Pedir a quebra do sigilo telemático de um profissional de imprensa é uma arbitrariedade, que contraria o direito constitucional de sigilo das fontes.
Para dar voz e vez a teorias conspiratórias e à defesa de transgressores dos preceitos democráticos, alguns parlamentares tentaram ainda equiparar o trabalho do fotógrafo e da imprensa nacional ao de ativistas políticos, denunciados e processados por crimes contra a democracia e por divulgação de falsas notícias.
Num cenário hostil à imprensa – 17 profissionais foram agredidos em Brasília durante esses protestos violentos -, a própria convocação de Adriano Machado, que teve de ir ao Parlamento como se fosse suspeito de um crime ou de um conluio, é uma forma de agressão e de intimidação à imprensa.
Mais que isso, a audiência expõe o profissional a riscos e ataques, que ele já vem sofrendo nas redes sociais desde que parlamentares o expuseram, enxergando conspiração em um vídeo que o mostra apenas executando seu papel de fotojornalista diante de uma invasão ao centro do governo brasileiro.
As organizações abaixo assinadas se solidarizam com Adriano Machado e sua família, reiterando a confiança em seu trabalho profissional. E afirmam aos parlamentares que não permitirão que profissionais de imprensa sejam usados como joguetes nas disputas políticas, tampouco nos atos e manifestações que põem sob risco a democracia.
15 de agosto de 2023
Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
Instituto Vladimir Herzog – IVH
Instituto Palavra Aberta
Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
Tornavoz
Repórteres Sem Fronteiras (RSF)
Ajor – Associação de Jornalismo Digital