Dama da fake news

Denunciada por assédio, editora de Política é demitida do ‘Estadão’

Jornalista teria assediado jovens repórteres a redigir reportagens distorcidas de modo a atacar Flávio Dino, evitando sua indicação ao STF. Em outro caso, após ser desmentida, publicou salário de jornalista que trabalha no governo

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Demissão de Andreza Matais estaria acertada há mais de três meses, após se envolver em polêmicas

São Paulo – De acordo com o site Diário do Centro do Mundo (DCM), a jornalista Andreza Matais, editora-chefe de Política do jornal O Estado de S. Paulo e chefe da sucursal de Brasília, foi demitida nesta segunda-feira (29). O Estadão também demitiu Leonêncio Nossa, “braço direito” de Andreza e editor de Especiais no jornal.

Em novembro, o Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal (MPT) abriu investigações contra o Estadão e Andreza, após denúncias graves de assédio moral e constrangimento no ambiente de trabalho. Conforme a denúncia, a jornalista “assediou e obrigou repórteres recém-contratados” a publicar uma matéria relacionando o ministro da Justiça, Flávio Dino, com uma mulher classificada como “dama do tráfico do Amazonas”.

A editora teria pressionado jornalistas mais jovens e recém-contratados. Segundo a denúncia, eles eram forçados a redigir reportagens distorcidas para atender aos interesses pessoais da chefe. Notavelmente, Andreza é casada com um dirigente da federação PSDB-Cidadania, o que levanta suspeitas sobre possíveis conflitos de interesse político no jornal.

Conforme a denúncia, Andreza tinha objetivo pessoal oculto de “revigorar a candidatura do ministro Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU)”. Dantas chegou a aparecer como um dos nomes na disputa pela sucessão de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF). Portanto, os ataques a Dino atendiam a interesses pessoais da editora do Estadão.

Além disso, o MPT investiga o veículo e a jornalista por supostamente fraudar ou ordenar a fraude em documentos de registro de horas extras realizadas funcionários do jornal. De acordo com o DCM, essa disputa vem desde, pelo menos, maio do ano passado. E incluiu também a demissão de mais de uma dezena de funcionários insatisfeitos.

Histórico de ataques ao governo Lula

Ainda em outubro, Andreza se envolveu em outra polêmica. Na ocasião, o Estadão publicou reportagem alegando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria interferido diretamente em empréstimo da Comunidade Andina de Fomento (CAF) em benefício da Argentina. O objetivo seria favorecer a candidatura governista de Sergio Massa à presidência. Ao mesmo tempo, prejudicaria o candidato extremista Javier Milei, que acabou vencendo a disputa.

Tanto o Palácio do Planalto como a ministra do Planejamento, Simone Tebet, negaram a existência de qualquer ligação entre o presidente Lula e a liberação dos recursos, como afirmado na matéria, que teria ocorrido no final de agosto. De acordo com a ministra, o ministério resolveu a questão com autonomia, sem qualquer interferência do presidente. Do mesmo modo, o jornalista George Marques, assessor na Secretaria de Comunicação Institucional da Presidência, também desmentiu o Estadão. Após o desmentido, Andreza atacou o jornalista. Pelas redes sociais, ela publicou o salário de Marques, como forma de intimidá-lo.

A atitude causou insatisfação até mesmo na diretoria do jornal, que considerou excessiva a exposição da jornalista. Diante da polêmica, a jornalista abandonou o X (ex-Twitter). De acordo com o DCM, a demissão já era tida como certa há mais de três meses. De lá para cá, o Estadão estaria negociando com a jornalista “a melhor saída possível para todos”.