Caso Alessandro Moretti

Lula: ‘Não há clima’ para manter número 2 da Abin se comprovada ligação com Ramagem

Em entrevista nesta terça, presidente comentou as investigações sobre a “Abin Paralela” e as acusações de Bolsonaro, as quais classificou como “grande asneira”

Reprodução/CBN Recife/YouTube
Reprodução/CBN Recife/YouTube
"Fizemos o país crescer com inclusão social. Tiramos o Brasil do Mapa da Fome", escreveu Lula

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta terça-feira (30) que o governo avalia a demissão de Alessandro Moretti, o número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele é egresso de posição estratégica em órgãos comandados por bolsonaristas, incluindo o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Mas sua situação ficou mais delicada na última semana, após a Polícia Federal deflagrar operação contra esquema de espionagem ilegal na agência, a chamada Abin paralela.

“Dentro da equipe dele tem um cidadão, que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com Ramagem, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade, e isso está sendo apurado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia”, disse o presidente em entrevista ao jornalista Elielson Lima, da CBN Recife. “Mas antes de você simplesmente condenar, a priori é importante que a gente investigue corretamente, que apure e garanta o direito de defesa. Porque se você muitas vezes se deixar levar pela manchete de jornal, você, que teoricamente é contra a pena de morte, está matando a pessoa sem dar chances das pessoas se defenderem. E eu acho que todo mundo é inocente atá que se prove o contrário”, completou o presidente.

Estrutura à margem da lei

A estrutura de monitoramento à margem da lei teria sido montada pelo ex-diretor da agência Alexandre Ramagem, sob o comando do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma das principais acusações aponta que Ramagem usou o órgão para repassar informações à família Bolsonaro. E a suspeita é de que Moretti esteja vinculado ao ex-diretor, hoje deputado federal pelo PL no Rio de Janeiro, até hoje, conforme comentou Lula na entrevista.

O presidente, entretanto, ressaltou a necessidade de provas diante das suspeitas e garantiu ter confiança no diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, cujo cargo também vem sendo posto a prova. “A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin, é o companheiro que foi meu diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2010. É uma pessoa que tenho muita confiança e por isso eu o chamei, ja que não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele”, disse.

Bolsonaro fala asneira

As denúncias de uma “Abin paralela” ganharam forca novamente nesta segunda-feira com cumprimento de mandados de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos- RJ) e seus assessores. As investigações apontam que o “filho 02” de Bolsonaro integrava o “núcleo político” do esquema de espionagem ilegal. Em entrevista à CNN Brasil, o ex-presidente disse, no entanto, “desconhecer” qualquer pedido ilegal de informações por parte de seus filhos para Alexandre Ramagem.

Bolsonaro ainda alegou que ele e sua família seriam vítimas de “perseguição” por parte do governo federal. O que Lula rebateu como uma “grande asneira”.

“O governo brasileiro não manda na Polícia Federal, muito menos na Justiça. Você tem um processo de investigação , tem decisão de um ministro da Suprema Corte que mandou fazer busca e apreensão por suspeita e má fé da Abin, dos quais o delegado que era responsável era ligado à família Bolsonaro e a Polícia Federal foi cumprir o mandado da Justiça. Não tem nenhum problema se é uma decisão judicial. O que eu espero é que as pessoas que estão sendo investigadas tenham direito à presunção de inocência, que eu não tive. E as pessoas que não devem não temem”, rebateu o presidente. 

Eleição em São Paulo

Durante a entrevista, o petista também contestou a notícia do jornal Folha de S. Paulo, especulando que a deputada federal Tabata Amaral (PSB) poderia integrar uma pasta no governo Lula em troca de apoio a candidatura do também deputado Guilherme Boulos (Psol) à prefeitura de São Paulo. “Se ela quiser ser candidata ela vai ser porque ela tem um partido politico e é ele quem vai decidir, não o presidente Lula”, afirmou, sem negar o apoio a Boulos.

“Vai ser maravilhoso, é uma disputa política democrática. Se a Tabata e o Boulos forem candidatos, quem for para o segundo turno estarei apoiando. Se os dois forem para o segundo turno ai sim terá divergência. Mas o que precisamos é derrotar o bolsonarismo na cidade de São Paulo”, garantiu Lula.

Redação: Clara Assunção