Nega o óbvio

Delegada do caso Marcelo Arruda é ‘negacionista e incentiva crime de ódio’, afirma advogado

Defesa do dirigente petista assassinado em Foz do Iguaçu aponta ilegalidades nas conclusões do inquérito sobre o crime

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Conclusão exposta pela delegada da Polícia Civil do Paraná desmente fatos e imagens mostradas na TV e redes sociais

São Paulo – Em nota pública divulgada nesta sexta-feira (15), os advogados de Marcelo Arruda, dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR) assassinado pelo policial penal Jorge Guaranho no último sábado (9), contestam o que consideram incongruências e ilegalidades nas conclusões do inquérito sobre o crime. Essas conclusões, expressas em entrevista coletiva da Polícia Civil do Paraná pela manhã, são precipitadas, segundo a defesa. A conclusão policial foi de que não houve crime de ódio ou motivação política, quando todos os indícios e provas apontam o contrário.

“Arruda era tesoureiro do PT. O tema da festa era o PT. O outro chegou arrumando confusão, querendo impedi-lo de exercitar seu direito político de manifestação. Tanto queria que impediu, e da forma mais radical, silenciando a vítima para sempre”, comentou o advogado criminalista Luiz Fernando Pacheco, que não compõe a defesa do petista.

A delegada Camila Cecconello, em coletiva concedida na manhã desta sexta, disse que o celular do assassino, que pode (ou poderia) ser peça-chave para elucidar o crime e sua motivação, não foi apreendido no dia do assassinato por ter sido entregue à mulher do agressor no hospital onde foi internado. O aparelho foi depois entregue à polícia protegido com senha, e por isso – explicou Camila – será feita perícia, que deve demorar de 20 a 30 dias para ficar pronta.

A delegada não viu o assassinato como crime político. “É complicado a gente dizer que o homicídio ocorreu porque o autor queria impedir o exercício dos direitos políticos daquela vítima”, disse. Acrescentou que “quando ele (Guaranho) chegou no local, não tinha a intenção de efetuar os disparos”, segundo avaliação da polícia.

A defesa da família de Arruda demonstra inconformismo ante o “desrespeito acerca das prerrogativas dos advogados”. Segundo os defensores, o requerimento de diligências protocolado não foi sequer respondido e solicitações – da família e do Ministério Público – foram ignoradas pelas autoridades policiais. “Apenas após decisão judicial é que foram fornecidas parciais informações.”

Os advogados citam a Súmula Vinculante 14, do Supremo Tribunal Federal (STF), que garante aos advogados dos familiares o “acesso amplo” aos elementos de prova assim que estejam disponíveis no âmbito da investigação criminal.

“Essa delegada é uma terraplanista

Segundo Camila Cecconello, contrariando as imagens que mostram o crime, o assassino “tinha intenção (apenas) de provocar”. “A escalada da discussão entre os dois é que acabou fazendo com que o autor voltasse e praticasse o homicídio”, justificou. “O que nós temos é o depoimento da esposa, que diz que ele alegou que ia voltar porque se sentiu humilhado”, explicou a policial, concluindo: “Parece uma coisa que acabou virando pessoal entre duas pessoas que discutiram por motivações políticas”.

“Essa delegada é uma negacionista. Uma terraplanista”, diz o advogado Pacheco. “Se o tema da festa não fosse o PT, o fato não teria ocorrido. A postura da polícia é um incentivo ao crime de ódio. Isso é grave”, avalia.

Sobre a “explicação” da delegada do Paraná, de que o crime político se configura ao se impedir o exercício dos direitos políticos, Pacheco ironiza: “O sujeito matou o outro! Quer mais do que isso? Morto exercita direito político?”, questiona. “Mas a opinião da delegada pouco importa. O Ministério Público é livre para oferecer a denúncia, capitulando os crimes como quiser. O MP não está adstrito ao que diz a delegada”, conclui o advogado.

O que Bolsonaro quer

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em vídeo, declarou-se indignada com “as conclusões açodadas do inquérito”. “As provas que a própria polícia recolheu mostram que o assassino foi até a festa de caso pensado para agredir e ofender por motivação política, e mesmo assim a delegada quer concluir que foi motivação pessoal. Exatamente a que Bolsonaro e seu vice Mourão querem impor contra verdade dos fatos”, disse Gleisi.

Em nota, o PT do Paraná contesta a tentativa de caracterizar o assassinato como fruto de uma briga comum sem motivações políticas. A narrativa, diz a nota, é “contestada pelos fatos amplamente divulgados na imprensa, com imagens e depoimentos que provam a motivação política do crime”.

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