Crime premeditado

Assassino de Marcelo Arruda é indiciado por homicídio qualificado, mas polícia não vê motivação política

“É difícil falarmos que há um crime de ódio, que ele matou pelo fato da vítima ser petista”, disse a delegada Camila Cecconello

Fotos: Reprodução
Fotos: Reprodução
A delegada Camila Cecconello (detalhe): homicídio por motivo torpe

São Paulo – Jorge Guaranho, assassino do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, foi indiciado pelo crime de homicídio qualificado, por motivo torpe, e por causar “perigo comum” a pessoas que ainda estavam na festa onde o petista comemorava seu aniversário de 50 anos. A informação é da delegada Camila Cecconello, em coletiva concedida na manhã desta sexta-feira. Arruda foi morto pelo bolsonarista Guaranho entre a noite de sábado (9) e a madrugada de domingo

Segundo a delegada, “o autor dos fatos” – o agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho – ficou sabendo da festa dos 50 anos de Marcelo por terceiros, em um churrasco no qual “estava comemorando e ingerindo bebidas alcoólicas”.  A testemunha que informou o assassino da festa tinha acesso às câmeras de monitoramento do clube onde Marcelo, amigos e familiares festejavam.

Movimentos pedem justiça para Marcelo Arruda com atos no domingo

De acordo com a delegada, a pessoa que contou a Guaranho sobre a realização da festa temática petista tinha o “costume” de acessar essas câmeras. Segundo o relato colhido pela polícia, o “autor” viu as imagens, perguntou onde era a festa, e depois saiu acompanhado da mulher e filho. Na coletiva, Camila Cecconello descreve a sucessão dos fatos apoiada nas imagens fartamente divulgadas nas redes sociais e televisão durante a semana.

De acordo com a delegada, o assassino efetuou pelo menos quatro disparos, dos quais pelo menos dois atingiram Marcelo. O petista então revidou e teria efetuado cerca de dez disparos, dos quais quatro atingiram Guaranho, que permanece em estado grave e sedado, segundo Camila.

A outra delegada

Questionada sobre eventual motivação política do homicídio, a delegada afirmou que não há provas suficientes nos autos que indiquem crime político contra Marcelo Arruda. “O que nós temos é o depoimento da esposa, que diz que ele alegou que ia voltar porque se sentiu humilhado. Porque a vítima teria jogado pedras e terra no carro acertado a esposa e o filho dele. Temos a alegação da esposa, não temos a alegação da subjetividade desse autor. É difícil falarmos que há um crime de ódio, que ele matou pelo fato de a vítima ser petista”, disse Camila.

Irmã de Marcelo Arruda critica assédio de ‘cunho político’ de Bolsonaro

Após a fala da titular, a delegada Iane Cardoso, que comandava a investigação inicialmente, citou na entrevista “as agressões praticadas contra o policial penal” (o assassino). Iane continua na equipe, mas deixou o comando após denúncias de que, em 2016, postou em rede social declarações contra o PT. Na época, a policial escreveu que “petista quando não está mentindo está roubando ou cuspindo”. No domingo (10), à imprensa, em ato falho, ela se referiu ao assassino como “vítima”.

Nesta sexta, na coletiva, Iane Cardoso ficou responsável por falar das investigações das agressões que o assassino sofreu quando já estava caído, após receber os tiros desferidos por Marcelo em legítima defesa. “Imagens mostraram que quando já havia sido alvejado, ele cai ao solo. Ele foi agredido fisicamente por três indivíduos”, diz a delegada. Segundo ela, os “agressores” de Guaranho já foram identificados e ouvidos.

Justiça e PGR

Hoje, a Justiça negou manter a investigação sobre morte do tesoureiro do PT em sigilo. A família e o Ministério Público haviam pedido a preservação das informações, mas, segundo a GloboNews, o juiz do caso considerou que na investigação não se colocam dados da intimidade da família, e que se  trata de crime contra a vida, e portanto o sigilo não deve ser decretado.

O PT pediu a federalização da investigação sobre o crime de Foz do Iguaçu. Mas Procuradoria-Geral da República não deve aceitar o pedido, por considerar que se tratou de crime comum, e não político. O procurador-geral, Augusto Aras, é aliado de Jair Bolsonaro.

Leia mais: