História torturada

Curta sobre Wladimir Pomar conta memórias de tempos ainda presentes

Documentário é baseado na autobiografia do jornalista e escritor, comunista e petista, que morreu em 2023

Reprodução
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São Paulo – O Nome da Vida é o título do curta que estreia no final do mês, baseado na autobiografia lançada em 2017 pelo jornalista e escritor Wladimir Pomar, que morreu na madrugada de 9 de junho de 2023, aos 86 anos, um mês antes dos 87. Produzido durante quatro anos, traz um tempo de memórias também atacadas, reivindica justiça histórica e aponta para perigos recentes, às vésperas dos 60 anos do golpe de 1964.

Comunista, foi preso naquele ano e ficou na clandestinidade até dezembro de 1976, até ser preso novamente no chamado Massacre da Lapa, em São Paulo. A ditadura assassinou três dirigentes do PCdoB – incluindo o pai de Wladimir, Pedro Pomar. Seria um exemplo de “dissimulação” do governo Geisel, que falava em abertura e continuava a perseguir e matar militantes.

Amor à verdade

Três anos e quatro meses depois, em 11 de abril de 1980, durante o traslado dos restos mortais de Pedro – de São Paulo ao Pará –, Wladimir homenageia o pai e sua herança. “Ele nos deixou o exemplo de sua vida, um legado de modéstia, de retidão de caráter, de dedicação à classe operária, ao povo e a seu partido, de amor entranhado à verdade, de aversão à vaidade e de constante alerta e combate aos próprios erros. Há quem queira ser dono desse legado. Essa pretensão é uma afronta a meu pai, que sempre se bateu contra o exclusivismo e o espírito de seita.”

Assim, como informam os responsáveis pelo filme, com duração de 13 minutos, “o documentário alterna entre detalhes da perseguição policial em São Paulo e passagens da infância e da vida clandestina, utilizando narração em primeira pessoa e animações para reconstituir uma história diferente da versão imposta pela ditadura”. Já nos anos 1980, Wladimir foi para o recém-criado PT, integrou a executiva nacional e coordenou o Instituto Cajamar, além da campanha de Lula a presidente em 1989, na primeira eleição majoritária direta desde 1960.

A quem pertence a história?

Dirigido pela ilustradora e animadora Amanda Pomar (Inhamis Studio), neta de Wladimir, O Nome da Vida estreia justamente em 31 de março, domingo, com sessões às 16h e às 19h. Terá mais um em 1º de abril, às 19h. Todas na Fundação Perseu Abramo, na zona sul de São Paulo. Também terá exibições em festivais.

“Como um remédio para acordar, esse trabalho foi rapinar uma história torturada do país e dos meus”, diz Amanda. “No entanto, por mais que se expresse o caráter pessoal que foi o percurso para narrar este trauma, antes tarde do que nunca, é preciso que se corrija. Ele não me pertence, a história não me pertence.”