São Paulo – A entrevista começa assim: “Meu nome é Wladimir Ventura Torres Pomar. Na verdade meu nome é Wladimir Ventura. Torres é por parte da minha mãe; Pomar pelo lado do meu pai. A data de nascimento é 14 de julho, eu sou um dos poucos brasileiros com quem a França comemora aniversário. É 1936, meu pai estava preso e, segundo contam, ele foi me visitar na maternidade escoltado, para ver o filho nascendo”. Onde poderia ser acrescentado: “Oitenta anos depois aqui estou eu e tudo o que aconteceu comigo”.

Termina em risos quando a última pergunta busca uma explicação sobre a militância política da família, sobre a trajetória do avô, do pai, dele, dos filhos e netos. “É uma coisa abnormal, porque normal não é, mas não dou muita bola para isso não, é melhor, você fica mais tranquilo para discutir e conversar.”

O livro Texto e Contextos (356 págs.) foi organizado por Rodrigo César e publicado pelo Jornal Página 13, corrente do Partido dos Trabalhadores, sob coordenação editorial de Valter Pomar. Lançado em agosto de 2016 em comemoração aos 80 anos de Wladimir, a publicação tem na entrevista de 46 capítulos uma narrativa que segue o espírito do cinema da palavra, sem intermediários.

Seus entrevistadores são os professores Alexandre Fortes, docente associado de História Contemporânea da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Jean Rodrigues Sales, de História Contemporânea da mesma universidade, e Paulo Fontes, da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas. As sessões de conversa estimulam a vivacidade e o humor delicado do entrevistado.

São 80 anos de história pessoal, paralela e muitas vezes imersa nos principais acontecimentos do Brasil e do mundo, e que desfilam ali com naturalidade. O leitor vai rever os momentos de glória do PCB, a construção do PCdoB, da Ala Vermelha, o massacre da Lapa (onde o pai do autor foi fuzilado e ele preso), a construção do PT e as contradições e lutas das esquerdas pós anos 80.

Wladimir revisita seu interesse pela China, pioneiro na esquerda, e a produção de textos e livros sobre aquele tigre asiático.

O livro traz uma boa surpresa que é a reprodução de 14 das 90 pinturas de sua autoria feitas enquanto esteve preso nos anos 1970. E ainda 12 depoimentos de personalidades que conviveram com Wladimir onde se destaca a dedicação à militância, ao trabalho e à causa, mais seu companheirismo com outros militantes, onde não falta a palavra “mestre” e se destaca sua relação amorosa e fraterna com Raquel da Rocha Pomar, companheira de vida.

Fecha o livro um catálogo de 43 páginas de artigos, livros, roteiros, textos e entrevistas produzidos a partir de 1969. No formato digital ou em papel, o livro pode ser solicitado em [email protected] Quem escrever será convidado a dar uma contribuição.