Minuto de silêncio

Crime político no Paraná repercute no país. ‘Agentes do ódio são conhecidos’, diz frente de partidos

CNBB, OAB e ministro Alexandre de Moraes condenam crime político que matou Marcelo Arruda. “Chefe que tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”, diz nota

Reprodução/Twitter
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Partidos unidos pela candidatura de Lula fazem um minuto de silêncio em homenagem a Marcelo Arruda nesta segunda-feira

São Paulo – Ao abrir a reunião do conselho político, com os presidentes e representantes dos sete partidos que compõem o movimento Vamos Juntos Pelo Brasil, nesta segunda-feira (11) em São Paulo, a deputada federal Gleisi Hoffmann dedicou um minuto de silêncio e o próprio encontro ao guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, vítima de crime político na madrugada deste domingo (10), em Foz do Iguaçu (PR), durante a festa de seu aniversário, por um militante bolsonarista. “Queria dedicar a reunião à memória de Marcelo Arruda e de todos aqueles que sofreram violência política nesses últimos anos. Já perdemos alguns companheiros”, disse a presidenta nacional do PT ao lado do pré-candidato do partido à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

O crime político, cometido pelo policial penal Jorge Guaranho, está no contexto do Brasil nos últimos anos , “fruto de colocar o ódio como instrumento da política”, continuou a deputada e dirigente. O trágico desfecho é o ápice de um “movimento sustentado pelo presidente da República que, por suas posturas, gestos, palavras, incentiva isso”, disse ainda a presidente do PT.

Após a reunião, os sete partidos da frente progressista – PCdoB, PSB, Psol, PT, PV, Rede e Solidariedade – divulgaram nota na qual afirmam que o assassinato de Arruda “por um fanático bolsonarista” faz parte da escalada de violência “criminosamente estimulada pelas atitudes e pelo discurso de ódio do atual presidente da República contra todos que dele divergem ou lhe fazem oposição”.

Lista de ataques

A nota afirma que desde a execução a tiros de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018, “agentes da extrema-direita, milicianos e terroristas vêm cometendo uma série de violências praticamente impunes”. O documento lembra os tiros contra a caravana de Lula no Sul em 2018, e os assassinatos por bolsonaristas do mestre capoeirista Moa do Katendê, na Bahia, no mesmo ano, e de Antônio Carlos Furtado, em Santa Catarina (2019).

Os partidos lembram o recente ataque de drone que lançou “veneno agrícola” sobre o público de um ato político de Lula em Uberlândia, e a bomba caseira que lançada na Cinelândia na semana passada. A nota cita ainda o ataque ao juiz federal Renato Borelli e um tiro desferido contra a sede do jornal Folha de S. Paulo, na semana passada.

As legendas vão pedir à Procuradoria-Geral da República que se manifeste junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para federalizar as investigações da morte de Arruda. O pedido, porém, não tem muitas chances de ser atendido, dado que o chefe da PGR, Augusto Aras, é aliado de Bolsonaro. Segundo a nota, os “agentes do ódio são conhecidos e respondem a um chefe que tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”.

Alexandre de Moraes

“A intolerância, a violência e o ódio são inimigos da Democracia e do desenvolvimento do Brasil. O respeito à livre escolha de cada um dos mais de 150 milhões de eleitores é sagrado e deve ser defendido por todas as autoridades no âmbito dos 3 Poderes”, escreveu no Twitter o ministro do Supremo Tribunal Fedeeral (STF) Alexandre de Moraes.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse na mesma rede social que o crime político de Foz do Iguaçu “é a materialização da intolerância (…) que permeia o Brasil atual e nos mostra, da pior forma possível, como é viver na barbárie”. Em nome da Câmara dos Deputados, o presidente Arthur Lira (PP-AL) declarou que a Casa “repudia qualquer ato de violência, ainda mais decorrente de manifestações políticas”.

“Mascate da morte”

Para o senador Renan Calheiros (MDB-AL), é “ilusão imaginar que Bolsonaro tenha limites”. “Mais uma vez ele se supera. Covarde como o bolsonarista assassino de Foz do Iguaçu, foge da responsabilidade e culpa a vítima. Nenhuma surpresa de um verdadeiro mascate da morte”, postou o parlamentar.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se manifestou nesta segunda-feira, por meio de seu presidente, dom Walmor Oliveira de Azevedo. A entidade diz que “a insanidade” transformou uma festa de aniversário “em cenário de violência e morte” e que isso “não deve ser a referência para o exercício da cidadania no Brasil”. “Para que o país se torne mais justo, solidário e fraterno, todos precisam se unir a partir do compromisso com a paz. Não importa qual seja a convicção política, o partido, as diferenças”, afirma a CNBB.

Dizendo-se “profundamente consternada”, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) “exige” das autoridades públicas dos demais poderes “ações coibitivas das incitações ao crime e das ameaças, claras ou veladas, ao processo eleitoral”. “É hora de unir a sociedade em defesa da democracia”, diz ainda nota da entidade.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, “o triste episódio de Foz do Iguaçu reforça a necessidade de unidade das instituições, inclusive dos partidos, em torno da civilidade”.

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