Tentando aliviar a culpa

Para Bolsonaro, é a esquerda que pratica violência na política

Presidente tenta mudar discurso após assassinato de tesoureiro do PT por bolsonarista em Foz do Iguaçu. No sábado, filho do presidente defendeu armas em comício em Brasília

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Após falar em "fuzilar a petralhada", Bolsonaro sugeriu uma "granadinha" contra opositores, estimulando a violência política

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou neste domingo (10) se manifestar contra a violência na política para amenizar a influência de seu discurso pró-armas no episódio em Foz do Iguaçu (PR), em que o guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda foi assassinado a tiros pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho.

O presidente republicou em sua conta no Twitter uma postagem de 2018 em que afirma ser contra o exercício da violência por seus apoiadores. “Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos”, afirmou o presidente.

“Falar que não são esses e muitos outros atos violentos mas frases descontextualizadas que incentivam a violência é atentar contra a inteligência das pessoas. Nem a pior, nem a mais mal utilizada força de expressão, será mais grave do que fatos concretos e recorrentes”, disse ainda o presidente, em defesa de seu próprio discurso.

“Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 hora por dia.”

Essa postura, no entanto, não apaga a fala de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, em Rio Branco, no Acre, onde o então candidato do PSL fez um gesto que marcou sua campanha, imitando uma arma com um tripé de câmera, em alusão a um fuzilamento enquanto discursava em cima de um carro de som.

“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein? Vamos botar esses picaretas para correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem de ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadela, hein, galera. Vão ter de comer é capim mesmo”, disse enquanto levantava o tripé imitando estar atirando.

Comício em Brasília

Horas antes do lamentável crime em Foz do Iguaçu, no entanto, no sábado (9), o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o “03”, como é chamado pelo presidente, fez um comício em Brasília, abertamente em defesa das armas (confira o vídeo abaixo).

Eduardo Bolsonaro com o policial Jorge José da Rocha Guaranho, que assassinou o tesoureiro petista em Foz do Iguaçu / Reprodução

“Todo mundo sabe da importância da pauta das armas, mas não basta somente termos ciência disso, está na hora de a gente dar o próximo passo, a gente sabe que é um ano muito importante, o mais importante das próximas décadas e o Brasil é tão privilegiado que a gente nem precisa imaginar como seria um governo de esquerda retornando ao poder, é só olhar para a Argentina, Chile… No Chile querem acabar com as forças armadas e substituir a polícia por outra coisa qualquer”, disse o deputado em referência ao processo constituinte no Chile, cujo projeto propõe acabar com o atual formato dos Carabineros, a polícia ostensiva que foi criada na ditadura.

Eduardo Bolsonaro citou a redução de homicídios em 2019 e atribuiu esse fato ao modelo defendido pelo presidente de armar a população brasileira. “Sim, eu quero estar armado porque eu prefiro bandido debaixo da terra do que minha esposa estuprada”, disse. Em seguida atacou as instituições que defendem o desarmamento: “Chupa Sou da Paz, chupa Viva Rio, chupa Fórum Brasileiro de Segurança Pública, chupa Instituto Igarapé, vocês vai ter que trabalhar muito pra esconder esses números (…) Esses merdas filhos da puta, que sempre foderam a sociedade brasileira”, afirmou atacando o Estatuto do Desarmamento, criado no primeiro governo Lula, em 2003.