ataques à democracia

Cid depõe por mais de 10 horas sobre acusações de Delgatti

PF busca confirmar versão apresentada pelo hacker, que contou ter tratado com Bolsonaro, e também em reuniões no Ministério da Defesa, sobre esquema para invadir as urnas eletrônicas

Lula Marques/Agência Brasil
Lula Marques/Agência Brasil

São Paulo – O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, prestou mais de dez horas de depoimento à Polícia Federal (PF). Ele chegou à sede da PF, em Brasília, por volta das 10 horas da manhã desta segunda-feira (28). E acabou de depor quando já passava das 20 horas. Nem o militar, nem o seu advogado falaram com a imprensa ao final da oitiva.

O novo depoimento ocorre no âmbito do inquérito que investiga a atuação do hacker Walter Delgatti Neto junto ao Palácio do Planalto e sua relação com invasão do sistema de Justiça, especificamente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro começou a depor à PF sobre as afirmações de Delgatti na última sexta-feira (25). Na ocasião, ele passou cerca de seis horas na sede da PF, mas a oitiva não foi até o final, devido a uma falha no sistema que não registrou o depoimento.

Golpismo investigado

À CPMI do 8 de janeiro, no Congresso Nacional, no último dia 17, Delgatti afirmou que Bolsonaro pediu a ele para forjar uma invasão às urnas eletrônicas com intuito de desestabilizar o sistema eleitoral. E que o então presidente lhe prometeu que concederia indulto se ele fosse preso devido a suas ações golpistas. Conforme a versão do hacker, Mauro Cid teria presenciado sua conversa com o Bolsonaro.

Além disso, Bolsonaro teria encaminhado Delgatti ao Ministério da Defesa, para tratar de “questões técnicas” relacionadas ao sistema de votação eletrônico. O hacker prestou depoimento à PF um dia depois da ida à CPMI. Como “indício de prova”, ele deu detalhes da sala em que esteve na Defesa. Disse que esteve cinco vezes no ministério. Em duas oportunidades, se reuniu com o então ministro Paulo Sergio Nogueira.

Assim, a PF busca identificar os militares que participaram dessas reuniões. E não descarta convocar o ex-ministro para prestar depoimento.

Novo encontro com a PF

Cid está preso desde o dia 3 de maio, acusado de envolvimento em um esquema de falsificação de cartões de vacina. Os investigadores da Polícia Federal (PF) apreenderam seu celular e encontraram conversas e conteúdos de cunho golpista. Além disso, acharam também mensagens que apontam para o seu envolvimento no esquema de venda ilegal de joias que Bolsonaro recebeu de autoridades estrangeiras.

Sobre este último caso, Cid deve voltar à sede da PF na próxima quinta (31). Além dele, Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle e mais cinco pessoas suspeitas de envolvimento no esquema deverão depor simultaneamente. A estratégia é para evitar que os suspeitos combinem versões.

De acordo com o portal g1, a perícia nos celulares do advogado Frederick Wassef e do general da reserva Mauro César Cid – pai do ex-ajudante de ordens – traz “riqueza de detalhes” sobre o esquema. Os policiais teriam localizado, por exemplo, os pagamentos e a destinação do dinheiro obtido com a venda ilegal das joias. Diante disso, a CNN Brasil revelou hoje que a defesa de Cid “sinalizou” à PF que ele pretende confessar a sua participação. Assim, ele espera reduzir a pena em caso de provável condenação.