Câmara ‘devolve’ mandatos de 173 deputados cassados pela ditadura

São Paulo – A Câmara dos Deputados realizou hoje (6) sessão solene para devolver, simbolicamente, os mandatos de 173 parlamentares, titulares ou suplentes, cassados de 1964 a 1977, durante o […]

São Paulo – A Câmara dos Deputados realizou hoje (6) sessão solene para devolver, simbolicamente, os mandatos de 173 parlamentares, titulares ou suplentes, cassados de 1964 a 1977, durante o período da ditadura (1964-1985). O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), leu os nomes dos 173 deputados, dos quais 28 estão vivos – o 29º, Marcelo Gato, morreu na semana passada.

“A cassação é uma violência não só contra o detentor do mandato, mas contra o eleitor, que é soberano em uma democracia”, afirmou Luiza Erundina (PSB-SP), presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, responsável pelo ato. Segundo Maia, a iniciativa buscou “apagar a nódoa causada pelos gestos autoritários que muito nos envergonha”.

O líder do PMDB (e candidato à presidência da Câmara), Henrique Eduardo Alves (RN), ficou emocionado pela devolução simbólica do mandato de seu pai, Aluizio Alves, cassado em 1969. “Hoje, este painel reconstrói a dignidade e a vida pública, a honra, e a coragem, de homens e mulheres brasileiros”, disse, referindo-se ao painel eletrônico que exibia os nomes dos parlamentares.

Vieira da Cunha, do PDT gaúcho, lembrou que a data da cerimônia marcava também a morte, em 1976, do ex-presidente João Goulart, o Jango. “Esta homenagem resgata a dignidade do Parlamento, vítima de um ato que queria legitimar o poder político de um governo que não tinha direito de estar no poder.”

Na primeira lista de cassados, relativa ao período 1964-1967, há deputados de uma dezena de partidos. São vários nomes conhecidos, como os Almino Affonso, Francisco Julião, Leonel Brizola, Plínio de Arruda Sampaio, Rogê Ferreira, Rubens Paiva e Tenório Cavalcanti.

Painel

Também foi montada uma exposição com imagens que retratam o Congresso durante o regime de exceção. O destaque é o painel A Verdade Ainda que Tardia, do artista plástico Elifas Andreato. Com 5,5 metros de comprimento e 1,7 metro de altura, o painel consumiu três meses e meio – para pintá-lo, Andreato chegou a estudar práticas de tortura. “As revelações foram muito impressionantes para mim. Opondo-me ao regime, eu tinha quase certeza de que conhecia todos os métodos de tortura implantados pela Agência Central de Inteligência [CIA] americana e pelas polícias inglesa e israelense, mas, lendo e ouvindo relatos, descobri que desconhecia coisas aterradoras. Eram suplícios além daquilo que eu podia imaginar.”

A inscrição Dodora, contida no painel, faz referência a Maria Auxiliadora Lara Barcelos, companheira de cela da presidenta Dilma Rousseff durante a ditadura. Ela suicidou-se na Alemanha, na década de 1970. “Comoveu-me muito a história de Dodora porque ela foi barbaramente espancada e estuprada pelo capitão Guimarães [da Polícia do Exército, da Vila Militar do Rio de Janeiro]”, disse Andreato.

Mais detalhes sobre o trabalho podem ser vistos no site www.averdadeaindaquetardia.com.br.

Com informações da Agência Câmara e da Agência Brasil