Em Brasília

Bolsonaro convoca Força Nacional para atuar na segurança do 7 de Setembro

Capital terá esquema de segurança inédito desde a redemocratização, espelhando a era Bolsonaro, de violência política e militarização

Fábio Rodrigues Pozzebom
Fábio Rodrigues Pozzebom
Em tese, segundo a decisão, a tropa ficará responsável pelas cercanias do Ministério da Justiça

São Paulo – Portaria publicada nesta segunda-feira (5) no Diário Oficial da União determina a participação da Força Nacional nas ações de segurança pública em Brasília no feriado de 7 de setembro, bicentenário da Independência, quando haverá manifestações bolsonaristas na capital federal. Em tese, segundo a decisão, a tropa ficará responsável pelas cercanias do Ministério da Justiça. O texto é assinado pelo ministro dessa pasta, Anderson Torres.

Os desfiles “cívico-militares” voltam a ser realizados após três anos de interrupção devido à pandemia de covid-19. Mas o clima militarizado e a insinuação de “ameaça no ar” é inédito desde a redemocratização. Atiradores de elite – que admiradores de filmes de violência preferem chamar de snipers –  além de especialistas antibomba farão parte da segurança. Não foi informado o contingente militar convocado para o dia por “questões estratégicas”, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Bolsonaro deve participar de atos de campanha e comemorações do 7 de Setembro à tarde, no Rio de Janeiro, onde é sua base eleitoral. Antes, pela manhã, marcará presença no desfile em Brasília, quando deverá transformar o que deveria ser uma festa cívica da nação em manifestações de apoio à sua candidatura.

A Esplanada dos Ministérios será fechada para carros na véspera e a Praça dos Três Poderes terá acesso restrito. Policiais do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e da Polícia Militar do Distrito Federal estarão a postos e articulados.

Haverá bloqueios de caminhões, para evitar que se repitam as ameaças golpistas de 2021, quando mais de cem veículos pesados furaram o frágil bloqueio e invadiram a Esplanada. O policiamento do STF será reforçado. O tribunal, por meio de portaria, já havia determinado ponto facultativo a partir desta terça-feira (6), como medida de segurança.

Conforme o previsto, a segurança vai fazer revista em quem quiser participar de comemorações e atos políticos. Grades protegerão o Legislativo, órgãos do Judiciário (STF e TSE) e ministérios.

Confira o que será proibido:

  • armas em geral;
  • fogos de artifício, explosivos e equipamentos a laser;
  • sprays e aerossóis;
  • mastros de bandeira, bandeiras e cartazes;
  • garrafas de vidro e latas;
  • armas de brinquedo;
  • drogas ilícitas;
  • substâncias inflamáveis;
  • armas brancas (facas, espadas etc.):
  • tesouras, martelos, flechas etc.

Até onde vai Bolsonaro?

Bolsonaro não parece disposto a adotar uma conduta civilizada, mesmo precisando conquistar eleitores na faixa até dois salários mínimos, e também entre as mulheres, no meio católico e no Nordeste, segmentos onde Lula tem vantagem nas pesquisas de intenção de voto. O 7 de Setembro poderá mostrar até onde vai a incivilidade do candidato à reeleição e se ele continua apostando em golpe.

No sábado (3), em Novo Hamburgo (RS), ele voltou a ofender o ministro Alexandre de Moraes, do STF e presidente do TSE, com termo incondizente com o cargo que ocupa. “Nós vimos, há pouco, empresários tendo sua vida devassada, tendo a visita da Polícia Federal”, disse, referindo-se à operação da Polícia Federal autorizada por Moraes e deflagrada no dia 23 de agosto contra um grupo de empresários investigados por defenderem um golpe de Estado.

“Estavam privadamente discutindo assunto, não interessa qual seja o assunto, eu posso bater um papo num canto qualquer. Não é porque tem um vagabundo atrás da árvore ouvindo a nossa conversa, que vai querer roubar a nossa conversa”, disse Bolsonaro em clara referência a Moraes.

Entre os empresários alvos da PF em agosto – e defendidos por Bolsonaro – estavam Luciano Hang, da rede de lojas Havan, que responde a processos de sonegação de impostos, e Meyer Nigri, da Tecnisa, amigo do procurador-geral da República Augusto Aras, entre outros.