Força eleitoral?

7 de setembro fica restrito à bolha de Bolsonaro nas redes. ‘É um líder de seita’

Segundo o analista Pedro Barciela, o presidente não conseguiu dialogar com outros grupos além do bolsonarismo. Oposição vai ao TSE por abuso de poder. Cientista político vê condições para tornar Bolsonaro inelegível

Marcello casal Jr./ABr
Marcello casal Jr./ABr
"Bolsonaro precisa logo depois dessa eleição se tornar inelegível por conta de todas as atrocidades que ele cometeu. Isso não pode ficar impune", defende cientista político

São Paulo – Do café da manhã no Palácio do Alvorada com apoiadores aos comícios eleitorais em Brasília e no Rio de Janeiro, que sequestraram as comemorações pelo bicentenário da independência do Brasil neste 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu em nenhum de seus discursos falar para outros grupos além do seu nicho bolsonarista. 

Na análise do cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o mandatário fez um dia “típico” de seu governo, dirigindo-se apenas para apoiadores, ostentando suposta masculinidade e falas machistas, até ataques à democracia. “Bolsonaro é um líder de seita. E o movimento sectário, como esse dele, ainda que seja uma seita grande, tem por definição muita dificuldade de se amplificar, de arrebanhar o apoio de outros setores da sociedade. Ele não se importa com outros setores da sociedade, é um movimento não pluralista. Ou seja, quem não está com ele, está contra ele. Quem não é do seu povo, não é povo”, observa Couto.

“É uma ideia de democracia profundamente autoritária por mais paradoxal que seja essa expressão. (…) E o resultado não é só apenas uma postura excludente, autoritária, prepotente e arrogante desse tipo de liderança política e do movimento que essa liderança carrega. Mas é também a dificuldade que tem de ampliar seu eleitorado. E isso tem implicações que apontam para uma muito provável derrota de Bolsonaro nesse ano”, afirma. 

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Sem alcance nas redes

A análise do cientista político foi feita durante sua participação no Jornal Brasil Atual na edição desta quinta-feira (8) e leva em conta considerações empíricas. Couto pondera que as pesquisas eleitorais, como o Datafolha, nesta sexta (9), devem informar de fato o impacto das manifestações neste 7 de setembro. A impressão do professor, no entanto, já foi confirmada dentro das redes sociais. De acordo com o analista de dados Pedro Barciela, os atos de Bolsonaro não conseguiram dialogar com novos eleitores. 

Ao contrário, a postura do presidente teve efeito reverso no Twitter, aproximando atores não-polarizados do antibolsonarismo. “O bolsonarismo perde nova oportunidade de expandir o alcance de sua mensagem para além de seus apoiadores, preso a um cenário macro onde a postura ofensiva e combativa recompensa seus apoiadores com engajamento, mas pouco produz no sentido de expandir o alcance das informações”, comentou Barciela nas redes. 

Ainda que o objetivo de Bolsonaro tenha sido o de mostrar apoio popular, Couto também ressalta que, embora a força do bolsonarismo não seja de fato desprezível, “milhares de pessoas na rua não significa milhões de votos na urna”. O cientista político também concorda com análise de que o tom do discurso de Bolsonaro foi ofensivo, ainda que com ameaças veladas, por exemplo, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ou explícitas ao se dirigir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, o principal oponente em sua busca pela reeleição. 

Bolsonaro inelegível

“Ele (presidente) deixou nas entrelinhas e permitiu que, tanto aos seus adversários políticos quanto ao Supremo, que transformou em um inimigo político também, todos fossem atacados, instrumentalizando o 7 de setembro. É mais um dia de ladeira abaixo no país”, descreve Couto. Ainda segundo ele, Bolsonaro cometeu abuso de poder econômico e político ao transformar os atos comemorativos do bicentenário da Independência do Brasil em atos de campanha eleitoral para sua promoção. 

Já nesta quarta, o Psol, PT, PV, PDT, Rede Sustentabilidade e União Brasil anunciaram que vão acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Bolsonaro pelo “sequestro” do dia 7 de setembro para comícios. 

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“Bolsonaro precisa ser tornado logo depois dessa eleição inelegível por um prazo de oito anos, que é o que a lei prevê por conta de todas as atrocidades que ele cometeu. Isso não pode ficar impune. Essa é a regra do jogo que deve ser usada, não o jogo sujo, a criação de mentiras. Não é isso que resolve, mas (o que resolve) é a severidade da lei aplicada no momento certo”, defende Cláudio Couto. 

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Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima