Novo recado

Autores de carta pela democracia reafirmam defesa das eleições

Na véspera do 7 de setembro, juristas voltam a afirmar que o acatamento do resultado das urnas é um “valor inquestionável”

Rovena Rosa/Agência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil
Leitura da Carta, que teve mais de 1,1 milhão de assinaturas, reuniu amplos setores da sociedade e serviu de freio às intenções golpistas de Bolsonaro

São Paulo – Na véspera do Dia da Independência, os autores da Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito lançaram uma nova mensagem nesta terça-feira (6) em defesa do voto e de eleições livres no país. Intitulado Independência e Democracia, o texto agradece a todos que apoiaram o manifesto que foi lido em 11 de agosto na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), e reafirmam a defesa dos valores democráticos.

O novo texto diz que “homenagear o 7 de Setembro é também reafirmar o compromisso com a democracia e com a Constituição de 1988”. Nesse sentido, os autores dizem que “uma Nação independente pressupõe o respeito às instituições e à vontade livre das cidadãs e cidadãos”. E destacam que o acatamento do resultado das eleições é um “valor inquestionável”. Dizem que o orgulho de ser brasileiro “deve ser festejado”. Além disso, ressaltam que a sociedade brasileira “é capaz de decidir seus próprios rumos”.

Os autores são os mesmos que iniciaram a “avalanche democrática” que reuniu milhares de pessoas, dentre juristas, representantes de movimentos sociais, políticos e artistas que acomparam a leitura da Carta no Largo São Francisco há pouco menos de um mês.

A Carta, que surgiu em reação à escalada golpista do presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu mais de 1,1 milhão de assinaturas. Os organizadores suspenderam a coleta de assinaturas no dia 16 de agosto, em função do início da campanha eleitoral.

Sujeito oculto

Como na Carta original, o presidente Jair Bolsonaro também não é citado na nova mensagem. Mas ao relacionar o 7 de Setembro com “compromisso pela democracia”, os autores do documento enviam novo recado implícito ao ex-capitão.

Empresários e movimentos de direita buscam arregimentar apoiadores para o que tende a ser o último Dia da Independência sob o governo Bolsonaro. O presidente deve discursar nos atos em Brasília e no Rio de Janeiro. Assim como ocorreu no ano passado, ele deve emitir agressões aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Por exemplo, ele convidou a participarem dos atos os empresários golpistas que foram alvo de uma operação na Polícia Federal (PF), no fim do mês passado, a pedido do ministro Alexandre de Moraes. Num grupo de Whatsapp, os empresários defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença as eleições deste ano.

Neste sábado (2), Bolsonaro volto a xingar Moraes, chamando-o de “vagabundo”, após algumas semanas de calmaria, período em que chegou inclusive a comparecer à posse do ministro na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No 7 de Setembro do ano passado, chamou Moraes de canalha, e disse que não mais acataria as suas decisões. No dia seguinte, após o fracasso da investida golpista, Bolsonaro divulgou uma carta, redigida com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB), se desculpando pelos “excessos”. Dessa vez, Temer já mandou avisar Bolsonaro que não conte com ele para apagar um novo incêndio.

Acuado

Pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada ontem mostra a possibilidade de vitória de Lula inclusive no primeiro turno. Já Bolsonaro oscilou para baixo nas intensões de votos. Desse modo, o risco de derrota eleitoral iminente amplia as expectativas sobre o que Bolsonaro pode ousar fazer nesta quarta (7). Para conter eventuais tumultos, a Esplanada dos Ministérios amanheceu hoje bloqueada pela Polícia Militar do Distrito Federal. Apenas veículos autorizados terão acesso ao local.

Além disso, também assombra Bolsonaro o escândalo imobiliário revelado na semana passada pelo portal UOL. A matéria de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva revelou que, nos últimos 30 anos, a família Bolsonaro negociou 107 imóveis, sendo 51 deles em dinheiro vivo. O montante ultrapassa R$ 25 milhões em espécie. Ontem, Lula disse que “tem algo de podre no ar“, ao comentar as revelações. Bolsonaro também acionou o TSE para tentar barrar uma propaganda eleitoral de Lula que cita o escândalo.