Nem esfriou...

Bolsonaristas correm para herdar votos do ex-presidente condenado

Condenado, inelegível, Jair Bolsonaro deixa um vácuo na extrema direita. Mal saiu o acórdão condenatório do TSE, políticos já começaram a articular

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
A ex-primeira-dama, que também tem envolvimento em escândalos, como o das joias, agrada o eleitorado evangélico mais extremista

São Paulo – O acórdão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de hoje (30), que condenou Jair Bolsonaro, mal saiu e integrantes da extrema direita já se articulam para recolher as migalhas do ex-presidente. Políticos bolsonaristas que pretendem herdar o potencial eleitoral de Bolsonaro. Deve-se levar em conta, também, que o condenado está inelegível. Contudo, ainda tem seus direitos políticos, ou seja, deve participar das campanhas eleitorais dos próximos anos.

Bolsonaro não poderá ocupar cargo eletivo até, pelo menos, 2030. Ainda tramitam uma série de processos contra ele. Inclusive, na Justiça Comum, em casos envolvendo enriquecimento ilícito, como o das joias sauditas, entre outros. Dado o cenário desolador que circunda o político radical, alguns herdeiros mais óbvios já se pronunciaram.

Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a condenação de hoje é um avanço. Contudo, ele reforça a necessidade de julgamento destes outros processos, incluindo na Justiça Comum. “A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que, nesta sexta-feira (30/06), tornou Jair Bolsonaro inelegível, com a perda dos direitos políticos por oito anos, até 2030, é uma vitória da democracia, das instituições e, principalmente, da classe trabalhadora, que foi tão atacada pelo ex-presidente durante seu governo”, disse.

“A classe trabalhadora, porém, não vai parar de lutar até que Bolsonaro pague por todos os crimes que cometeu, em especial pela morte de milhares de brasileiros e brasileiras, em consequência do negacionismo, da corrupção e da incompetência no enfrentamento à pandemia de Covid-19. A luta continua”, completou.

Bolsonaristas em disputa

Já entre os bolsonaristas em disputa, destaque para a esposa dele, Michelle Bolsonaro. A ex-primeira-dama, que também tem envolvimento em escândalos, como o das joias, agrada o eleitorado evangélico mais extremista, uma vez que ela se apresenta como religiosa radical. “Estou às suas ordens, meu capitão”, escreveu Michelle em uma postagem de redes sociais, onde também aproveitou para criticar a Justiça.

Ontem, o ex-presidente inelegível chegou a cogitar a candidatura de sua esposa. “apoio uma candidatura de Michelle. Se eu estiver fora do jogo político, serei um bom cabo eleitoral. Tem vários bons nomes por aí, mas acredito até o último segundo na isenção e em um julgamento justo e sem revanchismo por parte do TSE”, disse.

Outro que corre pela tangente é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Considerado menos radical, o político também se manifestou sobre Bolsonaro. “A liderança do presidente Jair Bolsonaro como representante da direita brasileira é inquestionável e perdura. Dezenas de milhões de brasileiros contam com a sua voz. Seguimos juntos, presidente”, disse.

Entretanto, o caminho de Tarcísio na disputa ao Planalto não parece tão óbvio. Aliado de primeira ordem de Gilberto Kassab, existe uma intenção de que ele concorra à reeleição do governo paulista. Então, também há de ser ponderado que Lula pode disputar a reeleição em 2026. Logo, com resultados robustos em áreas como meio ambiente, educação e economia, existe a avaliação que o petista seria imbatível. Então, Tarcísio pode não querer correr o risco de perder sua atual cadeira.

Heranças

A cientista social Rosemary Segurado, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) avalia, em entrevista para o programa Central do Brasil, na TVT em parceria com o Brasil de Fato, que a disputa será acirrada na extrema direita.

“Já tem vários cenários sendo colocados, e me parece que o momento agora é esse dessa reconfiguração. Acho interessante a gente pensar quem pode ser capaz de catalisar essa força, que ainda é muito grande, do bolsonarismo. As apostas estão colocadas, existem vários nomes na mesa e agora vai começar uma disputa, obviamente entre esses nomes, para que isso ocorra”, disse.

Por fim, ela sentencia que estas disputas serão tratadas, sobretudo, nas cúpulas partidárias das legendas mais alinhadas com o bolsonarismo. “O que nós temos que pensar: a inelegibilidade do Bolsonaro não é o fim do bolsonarismo. Esse momento agora é fundamental para que inclusive, dependendo da postura do próprio Bolsonaro: se ele vai conseguir pegar para si essa articulação ou vai deixar Valdemar da Costa Netto (presidente do PL) atuar livremente nesse processo”.