Eleição disputada

Chinaglia tenta aproximação com PSB; Cunha reitera agenda conservadora

Arlindo Chinaglia fala em 'agenda nacional' e busca apoio de Delgado para eventual segundo turno; Eduardo Cunha amarra votos de evangélicos e ruralistas com agenda moralista e corporativa

Zeca Ribeiro/ Câmara dos Deputados

Chinaglia foi a Recife, terra cujos parlamentares votam em peso no candidato do PSB, Júlio Delgado

Brasília – Se por um lado a polarização na disputa para a presidência da Câmara dos Deputados ganhou ares de campanha política nos últimos dias, por outro tornou mais claras as propostas a serem defendidas pelos principais candidatos a partir dos compromissos assumidos. O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), já definiu os temas com os quais pretende retribuir o apoio que recebeu quinta-feira (15) das bancadas evangélica e ruralista. O vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), por sua vez, tem visitado os estados nos quais pode costurar apoios e angariar votos de integrantes do PSB no caso de um segundo turno. O candidato dos socialistas, Júlio Delgado (MG), figura em terceiro lugar nas intenções de votos.

Sendo assim, com o apoio formalizado pelas duas bancadas, Eduardo Cunha comprometeu-se a trabalhar por articulações contra a aprovação de projetos relacionados à liberação do aborto no país e à criminalização da homofobia, bem como a aprovação dos estatutos do nascituro e da família – contanto que garanta a constituição de família como a que é formada por casais heterossexuais.

No caso do projeto que criminaliza a homofobia, a briga promete ser grande se o peemedebista sair vencedor. Isso porque a matéria que tramitou no Congresso sobre o tema seguiu na última semana para arquivamento, ao passo que movimentos sociais articulam o encaminhamento de nova proposta a partir de fevereiro.

Da mesma forma, também é dado como certo que entre os compromissos assumidos por Cunha, num atendimento especial da bancada ruralista, está a reapresentação do projeto que transfere para o Congresso o poder de decidir sobre a demarcação das terras indígenas.

Hoje, essa prerrogativa é da União, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai). Nas últimas semanas de dezembro, várias entidades dos movimentos sociais protestaram contra a votação da matéria que consideram um retrocesso. O texto terminou sendo arquivado na Câmara. Agora, caso ganhe a eleição, deputado promete trabalhar para sua reapresentação e inclusão na pauta de prioridades entre as tramitações da Casa.

‘Mais afinidade’

Evangélico da Igreja Sara Nossa Terra, Eduardo Cunha disse considerar natural o apoio dos evangélicos e enfatizou que o que prometeu fazer não é diferente da plataforma que tem defendido como deputado nos últimos quatro anos. “A bancada evangélica, naturalmente, tem muito mais afinidade comigo pelo fato de eu fazer parte dela, de eu defender a vida e a família e ser contra o aborto. Defesa da vida e da família tem sido minha posição desde sempre, não estou fugindo dela”, disse.

Já o apoio da bancada ruralista é considerado uma vitória do líder peemedebista à Frente Parlamentar da Agropecuária nos últimos meses. Durante nota divulgada nesta sexta-feira (16) e encaminhada para todos os deputados que a integram, os ruralistas deixaram claro que estão confiantes de que, “eleito, Eduardo Cunha reconhecerá o nosso peso e abraçará as nossas causas”. “Por isso mesmo é que estamos recomendando votar nele”, destaca o texto.

Enquanto isso, Arlindo Chinaglia tem se dedicado a estreitar os laços entre petistas e socialistas. A última viagem do atual vice-presidente da Câmara foi a Recife, terra do ex-governador e candidato à Presidência Eduardo Campos, do PSB, que promete apoiar em peso o candidato da legenda, Júlio Delgado. O petista conversou com os parlamentares pernambucanos e chegou a se reunir com o governador Paulo Câmara, que era um importante braço direito de Campos.

O candidato afirmou que fez um acordo com Delgado para ter o apoio dele e dos partidos que o apoiam na sucessão, caso haja um segundo turno, mas essa possibilidade não chegou a ser confirmada por Delgado. Mesmo assim, alguns deputados do PSB dão como certa tal orientação – que já teria sido recebida para que, num segundo turno, possam, sim, votar no candidato petista.

Marcelo Camargo/ Agência Brasil (05/11/2014)
Cunha considera natural o apoio de evangélicos e diz que sua plataforma não é diferente do que tem defendido como deputado

Pauta nacional

“A eleição à presidência da Câmara é vista de um modo diferente e sabemos que, para a bancada do PSB, é muito mais fácil conviver e dialogar com Arlindo Chinaglia do que com Eduardo Cunha. É nisso que se está apostando”, afirmou um parlamentar do partido socialista. Além do PSB, declararam apoio ao nome de Júlio Delgado as legendas PPS, PSDB e PV. “A Câmara dos Deputados precisa de uma pauta nacional”, defendeu Chinaglia, dando a entender que esse será o tom da sua gestão, caso ganhe a disputa.

Em meio às discussões e buscas por votos, o movimento no Congresso começou a se intensificar com a chegada a Brasília dos novos parlamentares. São os deputados que começam a trazer suas mudanças para se acomodarem ou os que ainda estão conversando com a mesa diretora sobre questões relacionadas aos apartamentos funcionais onde ficarão instalados. A maior parte destes foram eleitos em outubro do ano passado pela primeira vez.

Por conta disso, a Casa preparou uma estrutura especial, formada por guichês de atendimento, com especial atenção para os novatos. Nestes lugares estão sendo dadas instruções sobre o funcionamento do Congresso e apresentados os espaços para ambientação.

Renovação significativa

Dos 513 deputados que vão atuar nos próximos quatro anos na Câmara, 198 têm sua primeira legislatura. A eles, somam-se outros 25 que não participaram da legislatura anterior, mas já tiveram mandato em algum momento e retornam ao Congresso, em um total de 4,3% de renovação para a 55ª legislatura, de 2015 a 2018.

A previsão da Diretoria-Geral da Câmara é que a posse receba pouco mais de 2,5 mil pessoas, entre autoridades e convidados dos próprios deputados, que poderão acompanhar a cerimônia em telões espalhados por diversos pontos da Casa, como o auditório Nereu Ramos e os plenários das comissões. A solenidade será realizada no dia 1º de fevereiro – um domingo – às 18h.