Sucessão

Candidatos partem para corpo a corpo na caça a votos para presidência da Câmara

Cunha prega ‘voto útil contra PT’, Chinaglia conta com apoio de Kassab, Delgado mira nos votos do PSDB e Chico Alencar fala em ‘resgate da representação parlamentar’

Eduardo Cunha e Arlindo Chinaglia trocam farpas; Chico Alencar e Júlio Delgado correm por fora

Brasília – Faltando seis dias para a eleição que vai definir a presidência da Câmara dos Deputados, o momento é de articulação total entre os integrantes do PT e do PMDB com os parlamentares tentando puxar votos para seus candidatos – Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Informações de políticos vinculados às duas siglas são de que, enquanto Cunha iniciou a disputa bem à frente do seu principal adversário, as conversas e reuniões feitas pela base aliada nas últimas semanas aumentaram as expectativas em torno do nome de Chinaglia – e hoje haveria uma situação de “empate técnico” entre os dois.

Outra novidade observada a partir de constatações de bastidores do último final de semana é de que aproximadamente 100 dos 513 deputados ainda não teriam, até hoje (26), decidido seus votos. Ou, se decidiram, não declararam apoio formal a nenhum candidato – o que significa que podem mudar de posição. O momento, por causa disso, é de ir a campo para conquistar esse pessoal.

Entre os partidos que não declararam apoio formal a nenhum dos candidatos estão PP, PR e o bloco dos partidos nanicos formado por PTN, PHS, PSL, PSDC, PRTB, PMN, PTC, PRP, PEN e PTdoB (que juntos reúnem 24 deputados). Mas a grande preocupação dos organizadores das candidaturas se dá a respeito das relações políticas a serem intensificadas ou reduzidas a partir do resultado do pleito.

O PSD, do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, por exemplo, anunciou na última semana apoio a Arlindo Chinaglia e vem trabalhando junto a prefeitos para que convençam outros parlamentares ligados a seus municípios a votar no petista. A estratégia demonstrou que tem dado certo, já que ampliou a expectativa de votos a Chinaglia.

Dificuldade do PSB

O PSB encontra-se numa encruzilhada com a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) Conforme avaliação de um dirigente da legenda, dependendo do desenrolar dos resultados a candidatura de Delgado pode terminar se mostrando benéfica para a presidenta Dilma Rousseff. O socialista tem o apoio formal do PSDB, mas muitos deputados tucanos têm dito que votarão em Eduardo Cunha.

Se isso acontecer, pessoas ligadas à executiva do partido acreditam que ficará difícil evitar o crescimento da dissidência que, desde o final das últimas eleições, em outubro passado, trabalha para que a sigla volte a fazer parte da base aliada do governo.

Essa possibilidade foi admitida, inclusive, pelo próprio candidato, que tem feito sua campanha colocando-se como uma “terceira via” entre as posições do candidato do governo (Chinaglia) e do que faz o jogo da independência com base em promessas corporativistas para a Casa (Cunha).

Já o PSDB discute internamente a possibilidade de, se a eleição caminhar para um segundo turno, trabalhar junto aos aliados para evitar que votem em Chinaglia. Embora já tenha sido decidido que num segundo turno os tucanos apoiariam Eduardo Cunha, o líder do PMDB conta com resistências ao seu nome.

“É um movimento curioso. Hoje há uma preocupação grande do PSB de que nem todos os deputados do PSDB votem em Júlio Delgado, porque é notória a aproximação de vários tucanos com Eduardo Cunha. Mas num caso de disputa entre Cunha e Chinaglia, há quem prefira, dentro do partido, ver o Chinaglia na presidência, por ter gostado da administração dele anteriormente”, contou um parlamentar da legenda.

Empate técnico

Conforme contabilidade extraoficial, que é modificada a cada dia, Cunha contaria com a garantia de votos de cerca de 160 deputados, vinculados ao PMDB, PTB, DEM, PSC, SD e PRB. Por sua vez, Arlindo Chinaglia teria 140 votos prometidos, de parlamentares do PT, PROS, PCdoB, PSD e PDT. E Júlio Delgado teria 100 votos, do PSB, PSDB, PPS e PV. O candidato do PSol, deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que apresentou sua candidatura na última semana, conta apenas com os votos do seu partido – cinco.

“A campanha para a presidência da Câmara é diferente de uma eleição. Pesa muito a aproximação pessoal dos deputados com os candidatos durante o período de legislatura”, comentou Chinaglia, no início de janeiro.

“Não vai haver segundo turno. Apesar dos empecilhos causados por aqueles que tentam denegrir a minha candidatura, vou ganhar já neste domingo”, afirmou em tom de segurança Eduardo Cunha, numa referência à gravação que ele disse ter recebido de um representante da Polícia Federal que tramava sua incriminação na operação Lava Jato. Áudio que no dia seguinte peritos disseram aparentar ter sido forjado.

Cunha tem procurado deputados pedindo para que considerem um “voto útil” à sua candidatura contra o PT. Cunha, que nos últimos anos protagonizou vários trancamentos da pauta do Congresso, impôs dificuldades na votação de matérias encaminhadas pelo Palácio do Planalto e várias vezes pregou uma postura independente do governo, agora tenta amenizar o tom de suas declarações.

O peemedebista ressaltou, nos dois últimos almoços dos que participou com parlamentares, que mesmo buscando uma independência não deixará de manter o seu apoio ao Executivo, até porque faz parte do PMDB. “Arlindo Chinaglia foi um presidente da Câmara medíocre, quando governou a Casa (no período entre 2007 e 2008)”, disse.

“Não vejo essa movimentação de ministros para apoiar minha candidatura como ele (Cunha) tanto tem criticado. Eu dizia desde o começo que se fosse me basear em tudo o que estava sendo publicado sobre esta eleição, minha candidatura estaria perdida, mas não achava que seria bem assim”, enfatizou, por sua vez, Arlindo Chinaglia.

“A nossa diferença em relação aos outros é não estar vinculado ao governo. Independência é votar matéria sem vinculação com indicação de ministro e sem perder ministro porque votou de uma forma ou de outra”, salientou, com outro programa de trabalho, o candidato Júlio Delgado. “Nossa plataforma é de resgate da representação parlamentar e em defesa de uma pauta progressista”, acrescentou Chico Alencar.

O resultado poderá definir uma nova base aliada para o governo, assim como as fragilidades a serem observadas em várias legendas – tanto da situação como da oposição.