Aliados do Planalto

Arthur Lira e Augusto Aras mantêm silêncio sobre ataques de Bolsonaro a eleições e tribunais

Após 72 horas dos ataques golpistas do chefe de governo ao sistema eleitoral a embaixadores, chefe da PGR e presidente da Câmara permanecem mudos

Isac Nobrega / PR
Isac Nobrega / PR
Falta de atitude de Augusto Aras explicita sua aliança com o chefe de governo contra a democracia

São Paulo – Perto de 72 horas depois dos ataques golpistas de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral do país, perante embaixadores de dezenas de países, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o procurador-geral da República, Augusto Aras, continuam sem comentar o episódio. Na segunda-feira, em evento no Palácio da Alvorada, o chefe do governo brasileiro proferiu um discurso agressivo contra os tribunais superiores e aos ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

Lira e Aras têm sido cobrados por dezenas de entidades e instituições, e também por seus pares, que exigem uma atitude. Procuradores de todos os estados e do Distrito Federal notificaram o procurador-geral na terça-feira (19), para que investigue Bolsonaro. Um grupo de 43 integrantes da Procuradoria Federal do Direitos dos Cidadãos (PFDC) enviou à PGR uma notícia-crime por “ataque explícito” de Bolsonaro ao sistema eleitoral.

Ainda na terça, 31 subprocuradores da República – o cargo mais alto na estrutura do Ministério Público Federal – emitiram nota pública em apoio ao sistema da Justiça Eleitoral. Entre os signatários da nota, três deles (Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e Nicolao Dino) foram votados pelo MPF em 2021 para compor a lista tríplice de indicados para comandar a PGR, quando Bolsonaro ignorou todos os nomes e reconduziu o aliado Aras.

Deputados de oposição apresentaram ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime, enfatizando que os embaixadores assistiram a uma fala golpista de Jair Bolsonaro, e denunciaram diversos crimes. Cabe a Aras dar início a uma investigação.

Silêncio “ensurdecedor” de Lira

O presidente da Câmara (Reprodução)

No caso de Arthur Lira, o ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados Marcelo Ramos (PSD-AM) disse na terça-feira (19) que o mutismo do presidente da Casa é “ensurdecedor”, diante da posição chave de Lira no Legislativo.

Segundo o site Metrópoles, um integrante da executiva nacional do próprio PP, o partido de Arthur Lira, classificou como “bizarra” a reunião de Bolsonaro com os embaixadores, e teria dito, sob condição de anonimato, que seria necessário um posicionamento de Lira.

Essa fonte, de acordo com a publicação, teria afirmado que Lira diz, em conversas internas, que nunca apoiaria um golpe de Estado. Mas na fala de Bolsonaro da segunda-feira o chefe do governo brasileiro praticamente anuncia para o mundo que sua intenção é exatamente essa. Por isso, a reação das instituições, dezenas de entidades, do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e mesmo do governo e Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Todos reagiram em defesa do sistema eleitoral brasileiro. Mas Lira e Aras continuam em silêncio.

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