Sem jogar a toalha

Apesar de Milei, Lula articula manutenção do acordo Mercosul-União Europeia

Governo brasileiro avalia que o acordo entre os blocos econômicos seja levado adiante, apesar da eleição de Javier Milei na Argentina. Economistas e analistas não acreditam que o país deixará o Mercosul, mas não veem a Argentina no Brics

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
O Ministério da Fazenda e economistas não acreditam que as ameaças do líder de extrema-direita, de deixar o Mercosul, sejam levadas adiante, dada a importância do bloco para a Argentina

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, vão acompanhar de perto o andamento das negociações entre o Mercosul e a União Europeia nos próximos dias. E deverão se encontrar na próxima semana, durante a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes, para contornar problemas de ajustes no tratado. O impulso político às negociações foi confirmado pelo Palácio do Planalto após ligação de Lula a Ursula, na tarde de ontem (20).

Aprovado em 2019, após 20 anos de negociação, o acordo Mercosul-UE ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. A negociação envolve 31 países e, segundo seus interlocutores, esta é a janela ideal para se finalizar de forma rápida o acordo comercial. A previsão é que os diplomatas avaliem neste final de semana se ainda há pendências e o que precisa ser feito para finalizar o documento a tempo da cúpula do Mercosul, que ocorre nos dias 6 e 7 de dezembro, no Rio de Janeiro. O encontro marcará também a despedida do Brasil da presidência temporária do bloco, que assumiu há seis meses.

O objetivo do governo brasileiro era avançar com os ajustes na proposta e garantir sua aprovação antes da posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei que, ao longo da campanha eleitoral, afirmou diversas vezes que pretendia tirar o país do Mercosul. Milei assume o poder, no entanto, dia 10 de dezembro, três dias depois da cúpula. O que deve, segundo autoridades diplomáticas, dificultar a assinatura do acordo durante a cúpula.

“Salvar o Mercosul”

Por outro lado, o Ministério da Fazenda e economistas não acreditam que as ameaças do líder de extrema-direita sejam levadas adiante. Em entrevista ao jornal O Globo, interlocutores do governo disseram não esperar uma ruptura. Principalmente porque o Brasil e o Mercosul são muito importantes para a Argentina. E o acordo Mercosul-UE é um tratado de liberalização comercial, de interesse dos argentinos.

“Não acho que a Argentina sairá do Mercosul. Uma hipótese seria os chineses pressionarem os argentinos pela saída (do Mercosul) para se beneficiarem disso. Mas aí fica inviabilizado o fechamento do acordo entre Mercosul e União Europeia, e o prejuízo é grande”, afirmou à reportagem o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

A relação entre os dois países no bloco é uma das principais preocupações do governo Lula. “Temos que respeitar o resultado da eleição, por um lado, manter as relações como dois Estados e, se possível, salvar o Mercosul. A relação entre Brasil e Argentina é a base do Mercosul e tem reflexo em toda a América do Sul”, ressaltou o assessor para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim.

Dificuldades à vista para Milei

A corrente comercial entre Brasil e Argentina, que leva em conta as exportações e importações, movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano. E o Brasil é o segundo maior parceiro comercial da Argentina, atrás apenas da China.

Para os especialistas, a eleição de Milei, no entanto, joga no ralo os esforços para que a Argentina fizesse parte do Banco dos Brics, o bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. De acordo com eles, o novo presidente pode não se “engajar” com a instituição, mesmo podendo receber dólares do banco. Analistas também veem como inviável o plano de dolarização de Milei, tanto pela falta da moeda no país quanto pela dificuldade do argentino em obter apoio político.

O líder de extrema direita assumirá a Argentina com a menor representação parlamentar da história do país. Mesmo com o apoio do ex-presidente Mauricio Macri e da candidata derrotada no primeiro turno Patrícia Bullrich, ambos do Proposta Republicana (PRO), Milei não terá maioria no Congresso. Um obstáculo para seus planos de redução do papel do Estado, diminuição de impostos e privatização de estatais.

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Redação: Clara Assunção


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