Agenda internacional

Lula desembarca em Paris e se reúne com os presidentes da África do Sul e de Cuba

Com encontro com Emmanuel Macron em Paris, presidente Lula encerra período de 7 anos sem visitas oficiais à França. Lula também participa da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global e deve debater acordo de livre comércio entre Mercosul e UE

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
A agenda teve início logo cedo com um encontro com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Segundo o Palácio do Planalto, a conversa foi pautada pelo desenvolvimento dos Brics

São Paulo – Depois de cumprir dois dias de agendas bilaterais em Roma e no Vaticano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou em Paris na manhã desta quinta-feira (22). O mandatário participa da Cúpula sobre o Novo Pacto Global de Financiamento, sediada na capital francesa, onde também se reunirá com diversos líderes. Entre eles, o da França, Emmanuel Macron.

A agenda teve início logo cedo com um encontro com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Segundo o Palácio do Planalto, a conversa foi pautada pelo desenvolvimento dos Brics. Além de Brasil e África do Sul, a organização de países de mercado emergente reúne ainda a China, Índia e Rússia. Lula e Ramaphosa também conversaram sobre a viagem do líder sul-africano a Kiev, na Ucrânia, e São Petersburgo, na Rússia, onde se encontrará com os presidentes Volodymir Zelensky e Vladimir Putin, respectivamente.

O tema da guerra na Ucrânia também será discutido pelo governo brasileiro. Nesta quinta, reportagem do portal Metrópoles apontou que Lula escalou o ex-chanceler Celso Amorim, atual chefe da assessoria especial para assuntos internacionais do Planalto, para representar o Brasil em uma reunião sobre o tema na Dinamarca. A cidade foi escolhida por ser considerada um território “neutro” para o debate, afirmaram fontes da diplomacia brasileira. Amorim deve seguir ao país após a passagem de Lula pela França.

Agenda de Lula em Paris

O presidente Lula seguiu em agenda com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez. E também se reuniu com a ex-presidenta Dilma Rousseff, desde abril no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, mais conhecido como o banco dos Brics. Lula também cumpre agenda com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e com o presidente da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, Sultan al Jaber. À noite, o presidente brasileiro jantará com o Macron. O encontro encerra um período de sete anos sem visitas oficiais de um mandatário brasileiro à França.

Lula também foi convidado para ser o orador final de um festival de música em Paris, que tem como foco o combate à extrema pobreza. O pedido de discurso foi feito pelo artista Chris Martin, vocalista da banda britânica Coldplay.

A agenda bilateral segue na sexta (23) com o início da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global. Idealizada pelo presidente da França, o encontro reunirá líderes de diferentes países para debater o sistema financeiro internacional e a redução das desigualdades. O encontro também deve abordar o combate às mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente.

Debate Mercosul e União Europeia

A reunião oficial com Macron também deve ocorrer amanhã. Além da quebra no jejum de visitas, o encontro dos líderes marca uma reaproximação da França com o Brasil, após o afastamento causado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. No governo anterior, a relação acabou estremecida por conta de ofensas de Bolsonaro à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, ao ser criticado pelo aumento no desmatamento da Amazônia. A reunião com Macron é uma das mais esperadas por internacionalistas.

Isso porque a conversa deve chamar atenção também para os Brics. Segundo o jornal L’Opinion, em 12 de junho, o presidente da França pediu para participar da próxima cúpula do bloco, na África do Sul. Outro ponto de destaque deve ser o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Negociado por 20 anos, o acordo foi comemorado em 2019 pela gestão Bolsonaro. Mas ele acabou não sendo implementado por conta do temor dos líderes europeus com o governo anterior. Com Lula, o avanço foi dado como certo.

Porém, em abril, os europeus estabeleceram diversas condições, entre elas, a de que o Brasil teria de cumprir as metas do Acordo de Paris e ir além de seus compromissos mutilaterais. As exigências, sem contrapartidas, foram contestadas por Celso Amorim que, em entrevista ao jornalista Jamil Chade, chamou o acordo de ” neocolonial”. Em seus primeiros dias na Europa, Lula também em coletiva de imprensa classificou como “inaceitável” o acordo.

“Neocolonial porque da forma como ele está sendo apresentado, o governo brasileiro terá que cumprir exigências que os europeus não estão por exemplo cumprindo. Tem que cumprir o Acordo de Paris. Qualquer exame feito sobre os europeus com relação ao Acordo de Paris vai concluir que eles também não estão cumprindo o acordo. Então fica muito difícil ter essa relação. (…) Ou seja, é um acordo que, da forma como ele foi assinado em 2019, hoje, para o Brasil, ele não serve. O Brasil tenta modificar esse acordo e colocar em outros termos”, observou Jamil Chade em sua coluna no ICL Notícias, transmitido pela TVT e a Rádio Brasil Atual.

Leia também:

Redação: Clara Assunção, com informações do g1