Palanque

Bolsonaro desfila ao lado de investigado e puxa coro de ‘imbrochável’

Presidente usa a mulher Michelle para falar diminuir as outras, apoia coros golpistas e faz da celebração campanha eleitordo “bem contra o mal”

Reprodução
Reprodução

São Paulo – Bolsonaro discursou em Brasília após os desfiles do bicentenário da Independência, neste 7 de setembro, em Brasília. Despiu-se da faixa presidencial e utilizou a data como palanque eleitoral. Reforçou pautas ultraconservadoras e usou sua mulher para atacar as outras. Após dar um beijo em Michelle, puxou um coro de “imbrochável”. Tratou-a como “uma mulher de Deus” e disse aos solteiros que “rocurem uma mulher princesa” como a sua.

O presidente reforçou gritos antidemocráticos de seus apoiadores presentes. “Hoje, todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse acompanhado de vaias. “A voz do povo é a voz de Deus”, completou. “Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é nosso datapovo”, prosseguiu, a pesquisas eleitorais que apontam para a vitória de Lula.

Na data cívica sequestrada pelo palanque bolsonarista, o presidente não poupou destilar ódio ao seu adversário direto. “Temos pela frente uma luta do bem contra o mal, o mal que perdurou por 14 anos e que agora deseja voltar à cena do crime”, disse.

Em outro momento infeliz, Bolsonaro evocou à pandemia de covid-19. Mais de 600 mil brasileiros morreram sem ar, muitos vítimas de uma política equivocada do governo federal. Logo no início do seu discurso, disse: “Tenha certeza, mais que oxigênio, nossa liberdade é essencial (…) Com a graça de Deus que me deu a missão de comandar nosso país, atingiremos nossos objetivos”.

Ao lado de Bolsonaro estava o empresário Luciano Hang, um dos oito investigados por financiar o gabinete do ódio e apoiar um golpe para que permaneça no poder. O presidente convidou todos.

Abuso de poder

Na sequência, o presidente tentou passar uma mensagem voltada aos seus apoiadores mais religiosos radicais. “Hoje vocês têm um presidente que acredita em Deus (…) um governo que defende a família. Somos uma pátria majoritariamente cristã que não quer a liberação das drogas, a legalização do aborto, que não admite a ‘ideologia de gênero’. Não voltarão”, disse.

Por fim, fez um chamamento para seu próximo compromisso, um comício disfarçado de comemoração da Independência no Rio de Janeiro, onde deve desfilar em um caminhão do pastor Silas Malafaia. “Daqui a pouco embarco para o Rio de Janeiro em um evento que une os brasileiros. Evento onde não há diferenças. Juntos, em outubro, daremos mais um grande passo para o futuro do nosso país (…) Brasil acima de tudo Deus acima de todos.”

O sequestro da data cívica para fins políticos pessoais pode configurar abuso de poder. É o que avaliam ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de acordo com apuração da jornalista Carolina Brígido, do UOL. Isso, porque o presidente utilizou evento oficial para promover sua candidatura.

A Lei Complementar 64, de 1990, define que “qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político”.

A pena prevista na legislação é de perda do registro da candidatura e inelegibilidade por oito anos. Por outro lado, Bolsonaro pode alegar que não estava em evento oficial. Isso, porque retirou a faixa presidencial antes do discurso. Caberá à Justiça avaliar, caso seja provocada.